sexta-feira, 30 de maio de 2014

POLÍTICA: são os fatores externos, estúpido!

Interessante o artigo que Viriato Soromenho Marques publicou no «Jornal de Letras» de há duas semanas atrás.
Intitulado «Portugal na crise europeia» lista as razões, que levaram o país a perder competitividade desde a adesão à Zona Euro desmascarando implicitamente os argumentos da direita quanto à responsabilidade dos governos de José Sócrates na deterioração da situação financeira de 2011, que obrigou à vinda da troika.
Esta questão não é despicienda nesta altura, porque, à falta de outros argumentos, a direita prepara-se para retomar sem pingo de vergonha a sua ladainha do costume quanto às responsabilidades do antigo primeiro-ministro na alegada “bancarrota” de então.

Para VSM podem considerar-se cinco as principais explicações para as dificuldades colocadas à economia portuguesa a partir daquela opção:
1. A estrutura disfuncional da União Económica e Monetária expôs o país ao risco de ampliar os seus desequilíbrios, “nomeadamente através da tentação irresistível para aumentar a dívida, recorrendo a um crédito externo barato, canalizado pelo sistema bancário, sobretudo para as empresas e as famílias”;
2. A União Europeia negociou a entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001 o que possibilitou aos alemães um enorme aumento das suas exportações (de automóveis e máquinas industriais) enquanto os produtos portugueses (têxteis, vestuário e calçado) perdiam mercado por não conseguirem competir em preço com os similares que então invadiram o mercado internacional.
3. O alargamento da União Europeia para o leste do continente em 2004 ampliou a influência da economia alemã a esses novos membros para onde se deslocalizaram muitas empresas apostadas em aproveitar as competências e os baixos custos da mão-de-obra disponível. Além de perder fundos europeus, Portugal passou a contar com uma concorrência muito mais aguerrida para os seus produtos tradicionais.
4. A valorização excessiva do euro, que valia 0,96 dólares em 2001 e 1,61 em 2008, também prejudicou a competitividade das exportações nacionais.
5. O aumento do petróleo que passou de 20 dólares por barril de crude em 2001 para 140 em Julho de 2008, aumentou significativamente os custos de produção, que se somaram a outros decorrentes da qualificação insuficiente dos recursos humanos e da utilização de meios tecnológicos aquém dos seus concorrentes mais desenvolvidos.
A esses fatores externos, que condicionaram seriamente os governos de José Sócrates, associou-se a impossibilidade prática de combater internamente a ação do setor financeiro, que pressionou os clientes a investirem o que tinham e, sobretudo, o que tiveram de pedir emprestado, para alimentar a bolha imobiliária, cujo retorno nunca poderia equivaler-se ao da aposta (nunca realizada) nos bens transacionáveis. Mas como poderiam esses governos pôr em causa aquilo que toda a imprensa  impunha como legítimas aspirações dos seus leitores?
Se demonstrações seriam necessárias do perigo de entregarmos algo tão sério como o crescimento da economia à livre iniciativa dos empresários privados, o resultado ficou à vista em 2011. Porque os governos europeus - e os de José Sócrates nunca conseguiram ter força para tal! - prescindiram do seu poder regulador dos mercados, que contra eles se viraram após receberem os apoios públicos para evitarem bancarrotas de dimensões inimagináveis aquando da crise dos subprimes três anos antes.
Conclui VSM: Os Estados, ao longo dos anos, abdicaram do poder que os cidadãos e os povos lhes confiaram, e depositaram-no nas forças anónimas, dos mercados. Não, a causa da crise europeia não está nos mercados, mas sim no voluntário silenciamento das políticas públicas de regulação desses mercados”.
Por isso mesmo e como o antigo primeiro-ministro português não se tem cansado de proclamar a solução passa por, em Bruxelas e Estrasburgo, fomentar os apoios dos países sujeitos ao mesmo tipo de constrangimentos do nosso e impor outras políticas, que salvem o projeto europeu, única forma de devolver ao Velho Continente a condição de locomotiva da economia mundial. O que nunca poderá ser tentado por quem se esforça por parecer aluno exemplar da senhora merkel! 


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