sexta-feira, 25 de julho de 2014

As culpas de ter cão e... de não o ter?

Ouvindo os argumentos das campanhas de António José Seguro e de António Costa não é possível manter a mistificação segundo a qual se tende a fazer crer que pouco os distingue.
De António Costa ouve-se um discurso motivador, que enfatiza a necessidade de resolver as razões estruturais da economia portuguesa, e explicam os bloqueios impeditivos do seu crescimento. Daí a sua agenda para uma década, em que se pretendem concretizar os consensos mais alargados quer a nível das forças políticas, quer sociais. Sobre o ainda secretário-geral do PS nem uma palavra: embora implicitamente o critique, quando define a imprescindibilidade de uma liderança competente, António Costa não alimenta a «política politiqueira» quase sempre presente no discurso de quem apoia Seguro.
È, de facto, confrangedor ouvir este último ou os seus apoiantes, porque o que dizem está sempre fundamentado na lógica de culpar o adversário por ter cão …  e por não o ter. Ou seja, se na Convenção de Aveiro se abordasse o que nela não tem cabimento - a questão da dívida e a sua reestruturação - não faltaria ouvi-los criticar por não serem aí discutidas as questões do Mar, da Cultura ou da Lusofonia. Nesse aspeto os seguristas lembram aqueles “engenheiros civis” de bancada, que vão postar-se perante um edifício acabado de inaugurar e procuram arranjar argumentos para o criticarem: que tem demasiado vidro nas fachadas, que as varandas são minúsculas, que o acesso às garagens é demasiado inclinado, etc.
Como dizia um encarregado, que comigo trabalhou durante uma dúzia de anos, o país está cheio de «engenheiros de obras feitas» e os seguristas bem o confirmam: conseguissem eles ter a capacidade para organizarem uma Convenção como a de Aveiro e estariam porventura menos ressabiados com quem a concretiza.
Foi, por isso, confrangedor ouvir João Soares no “Inferno” do Canal Q, porque a maior crítica que conseguiu formular a respeito de António Costa é a de anunciar a promoção da Cultura à dignidade de contar com um Ministério.  Quando os argumentos atingem este nível de substância, está tudo dito! Ou talvez não, porque, sobranceiro, o filho do antigo Presidente da República ainda diz que é «muito amigo» de António Costa!
Para os debates televisivos, que se anunciam espera-se, pois, o mesmo embaraço, porque as críticas de Seguro a Costa andam sempre pelo mesmo patamar de estultícia: incapaz de conceber uma Visão para o futuro, esperar-se-á dele a ladainha do pobrezinho a quem quiseram extorquir a gamela e por isso se sente traído.
Pelo contrário de António Costa ouvir-se-á algo como o que disse a São José Almeida e a Nuno Sá Lourenço: “Uma das coisas que têm limitado muito a capacidade do PS de corporizar esta maioria que anseia ser alternativa é ter deixado criar um excessivo equívoco que o que o distingue em relação à política do Governo é só uma questão de ritmo e de dose. Ora o problema é que não é uma questão de ritmo nem de dose. É que é preciso um outro caminho e bem diferente.
De facto, foi por não verem diferença bastante entre passos coelho e António José Seguro que os portugueses demonstraram em eleições, que os equiparam no seu (des)favor. O Partido Socialista não pode manter esta imagem, que tem sido dada ao longo destes três anos, em como apenas teria sido menos bruto na aplicação da receita da austeridade.
Agora que ela já provou, que não resulta, é a altura para alinhar o nosso passo pelos países mais desenvolvidos da União Europeia. E por isso o discurso de António Costa é particularmente contundente quando diz: “eu não acredito que Portugal possa ter uma economia competitiva, possa aumentar o nível de produtividade se não investir no seu Estado social. Basta ver na UE quais os países que têm maior nível de produtividade: são aqueles que há mais anos investem na educação, no sistema de saúde, no sistema de segurança social e que, aliás, criam condições para podermos ter uma sociedade mais dinâmica, com capacidade de iniciativa, criativa.


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