quarta-feira, 2 de julho de 2014

Navegar à vista ou ter um rumo definido na carta de navegação?

Convenhamos que, nas últimas semanas, tenho aqui escrito argumentos bastantes para justificar a desaprovação, que me merece António José Seguro enquanto líder do Partido de que sou militante há três décadas! Começa a ser tempo de virar a página e seguir em frente já que Seguro é politicamente um daqueles cadáveres adiados de que já falava Pessoa e não merece outra atenção que não seja a da contenção de danos provocados pelas manigâncias dos seus correligionários.
Esta semana prometeu ir ao Conselho de Estado suscitar o debate sobre a renegociação da dívida quando, ainda há escassas semanas, um dos seus indefetíveis (Álvaro Beleza) tratava de menorizar a importância do Manifesto dos 74. Ou, ainda ontem, tratou de explicar os números do Eurostat sobre o desemprego como sendo devidos à emigração. Como se fosse  esse o único dos fatores a considerar dentro de uma realidade que vai muito para além dessa explicação simplista (o fenómeno sazonal, a desistência de muitos depois de sucessivos insucessos na procura de emprego, etc.)
Ouve-se o ainda secretário-geral e pensa-se num catavento: num dia diz uma coisa, noutra o seu contrário, consoante sinta a direção donde sopra o vento! E essa é a principal razão, porque transbordam as salas onde António Costa se encontra com os socialistas, que o apoiam. Porque o futuro líder do Partido verbaliza uma análise aprofundada sobre as causas que nos conduziram até à presente situação de crise, não se satisfazendo com a narrativa da Direita, só capaz de convencer quem se cristalizou no primarismo das suas opiniões e precisa de um bode expiatório (José Sócrates) para se dispensar de reflexão bem mais trabalhosa.
Mas, o que leva milhares de militantes e simpatizantes a preferirem António Costa e a execrarem Seguro, é a forma elegante como se escusa à peixeirada desejada pelo seu opositor, mais apostado em fulanizar o debate do que em orientá-lo para o que se deve propor para sair desta crise. E é impensável imaginar Seguro a entender sequer o alcance da Agenda para a Década, que Costa propõe como forma de resolver os impasses estruturais do país, para sequer a conseguir discutir!
Basta ouvir um e outro para perceber que Seguro não tem outra forma de fazer política que não seja o contraditório «navegar à vista», enquanto Costa já marcou na carta de navegação o rumo para onde deveremos seguir com a convicção de quem sabe ter na proa as índias que faltam descobrir!


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