sexta-feira, 22 de agosto de 2014

É a economia, estúpido!

Voltemos ao verão do ano transato, quando paulo portas teve a sua irrevogável decisão revogabilizada e pareceu ganhar algum ascendente com a substituição do apastelado álvaro pelo prometedor pires de lima na Rua da Horta Seca.
De repente o cenário começou a brilhar de tão azul e os milagres económicos eram anunciados como evidências que só a maledicente oposição não queria ver.
A tentação foi grande para declarar a estratégia da troika um sucesso e se as ofertas de emprego não começavam a multiplicar-se como pãezinhos era porque a economia assim destinava: primeiro acertavam-se as variáveis macroeconómicas e logo as que se reportavam às da economia real viriam atrás.
Essa propaganda conseguiu algum sucesso: não se vislumbraram condições para protestos equivalentes aos de 15 de setembro de 2012 apesar de não faltarem razões para tal. Embora desabonados na carteira, os pensionistas, os desempregados, os funcionários públicos e os precarizados em empregos cada vez mais mal pagos entraram numa abulia muito por culpa do principal Partido de oposição, cujo “líder” ia sempre perguntando qual era a pressa para se tornar mais afirmativo na contestação ao governo.
Na altura passos coelho e maria luís albuquerque tinham a desonestidade intelectual suficiente para se vangloriarem de crescimentos nas exportações completamente falaciosos, porque dependentes da entrada em serviço da nova unidade de refinação em Sines, que fora implementada como fruto de uma decisão do governo de José Sócrates.
Hoje essa falácia já não rende e os números vão confirmando o desastre desta política apostada numa austeridade cega. É assim que o Boletim Estatístico do Banco de Portugal, ao publicar quanto se importou e quanto se exportou na primeira metade deste ano, traz uma realidade confrangedora: o défice da balança comercial nesse período aumentou 953 milhões de euros o que significou um agravamento de 759% em relação ao verificado em 2013, quando ele se traduzira em 111 milhões.
E de pouco valeu o aumento de 10,2% nas receitas em turismo ou os 4,2% em bens alimentares (já comprometidos para este semestre tendo em conta as sanções da Federação Russa) já que o diferencial entre as vendas e as compras de produtos e serviços entrou numa espiral descontrolada.
Não admira que no mesmo período a dívida pública portuguesa tenha subido para os 134% do Produto Interno Bruto (PIB), crescendo mais 1,6% do que se verificava no final do primeiro trimestre. Na ótica de Maastricht a dívida pública atingiu os 223 270 milhões de euros.
Perante a demonstração do fracasso total das suas políticas, pires de lima já quase desapareceu em combate, apenas surgindo aqui e além na pose triste de quem já não consegue articular desculpas para não ter conseguido melhores resultados do que o antecessor. E compreende-se que uns quantos comentadores tenham comparado o discurso de passos coelho na Quarteira com o de Vasco Gonçalves em Almada em 1975. Num e noutro caso dois políticos embaraçavam-se nas labirínticas palavras de quem não vislumbra qualquer futuro à sua frente.
(Ressalve-se que a comparação em causa é injusta para o general cuja impossibilidade em levar por diante a sua utopia não excluía uma probidade intelectual que passos coelho nunca revelou!)
Estamos, assim, perante a expetativa de uma pesadíssima herança para ser enfrentada pelo próximo Governo. Mais uma razão para votar em António Costa nas Primárias de 28 de setembro, já que só um político com sobejas provas dadas no seu currículo, com a determinação de quem não se atarda em reflexões ou em referendos estéreis, e com a capacidade de mobilizar as vontades do alargado espectro social e político, que não se revêem nesta austeridade fundamentalista, poderá levar a bom porto uma agenda capaz de dar a Portugal um novo rumo.
Nota final  - o título desta prosa lembra a célebre frase «It’s the economy, stupid», inventada por James Carville para ser utilizada na campanha de Bill Clinton contra George H. W. Bush.


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