segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Quando o preconceito anti-russo leva a estratégias insensatas

A semana terá corrido bastante mal a Barack Obama ao reconhecer que, perante a ameaça jihadista no Médio Oriente, ainda não possui uma estratégia definida. Os republicanos, que utilizam todos os argumentos verdadeiros ou falsos para o atacarem ganharam um trunfo inesperado e que aproveitaram sem qualquer rebuço de pudor.
Que interessa se grande parte do que se passa hoje no Afeganistão teve origem, no republicano Ronald Reagan, quando facultou meios avultados, quer financeiros, quer militares, aos que combatessem os soviéticos, mesmo que isso significasse criar a Al Qaeda e todos os movimentos terroristas de carácter islamista, que dela derivaram?
Que interessa terem sido os dois republicanos Bush a organizarem a queda de Saddam Hussein, cujos métodos ditatoriais pouco se distinguiam dos sauditas (porém fortemente apoiados por Washington) e com a vantagem de ser bem mais laico do que tais aliados fundamentalistas?
É verdade que Obama pouco se distinguiu dos republicanos nas opções erradas quanto ao que se passa atualmente na política internacional. Quando criaram toda a manipulação mediática, que dava as sucessivas árabes como a confirmação da virtude do intervencionismo americano na proliferação da Democracia nas ditaduras do Magreb e do Médio Oriente, ali instalando agentes da CIA destinados a promover a eleição de dirigentes próximos da visão política da Casa Branca, não podiam imaginar a caixa de Pandora que estavam a abrir e que resultou para já na feroz ditadura do general Sissi no Egito ou no caos em que  a Líbia pós-Kadhafi mergulhou.
Quer o Pentágono, quer a CIA continuaram a pensar numa lógica de Guerra Fria e alienaram a possível cooperação que Putin lhes poderia agora dar. Por mero preconceito as chefias militares e da espionagem americana quiseram esmagar a Rússia e decidiram cercear-lhe o acesso ao Mediterrâneo derrubando Assad e promovendo o golpe de Estado na Ucrânia. Ou terá sido coincidência terem, quer a Síria, quer a Crimeia, as principais bases militares da Marinha Russa?
Tivesse Assad sido derrotado e o golpistas de Kiev dominado todo o país a Marinha Russa ficaria sem bases operacionais no Mar Negro e as do Báltico ficariam inoperacionais durante parte do Inverno.
Por muito que nos possa desagradar a progressiva viragem autoritária do Kremlin e os seu conúbio com partidos fascistas dos países da União Europeia, os países ocidentais mais não fazem do que repetir erros passados, quando, por exemplo, Fidel Castro quis manter boas relações com Washington depois da derrota de Fulgêncio Batista, e foi a hostilidade anticomunista de Eisenhower a obriga-lo a acolher-se aos braços protetores de Kruschev.
Para a Europa a Rússia constituiria uma ameaça bem menos problemática do que esta ascensão do terrorismo islâmico. Não tivesse alinhado com a estratégia errada dos americanos e teriam nela um aliado de peso para derrotar aquele perigo, que também lhe diz respeito. Mas, insensatamente, avançaram para uma deriva de sucessivas chantagens contra Putin. Agora têm-no a avisar que é melhor não se meterem com quem possui um tal arsenal nuclear. E ainda ele não invocou outro joker de peso: com o inverno já aí a chegar, é da Rússia que tenderá a vir o gás e o petróleo necessários para manter em funcionamento as centrais distribuidoras de energia de vários países, quando o  consumo tende a aumentar significativamente.
Assim, compreende-se bem o impasse em que Obama agora se sente: a exemplo dos japoneses que, na Segunda Guerra Mundial, tinham em Singapura os canhões apontados na direção do mar e não viram o ataque vindo pela retaguarda através da Birmânia e da Malásia, os norte-americanos preferiram manter-se fiéis ao seu larvar ódio a tudo quanto cheirasse a russo. Agora enfrentam ameaça bem mais perigosa e não sabem como enfrentá-la!


Sem comentários:

Enviar um comentário