segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Era do vazio ou vazio de ideias?

Nunca me entusiasmaram as teorias de Gilles Lipovetsky, que andaram na moda há já alguns anos, quando publicou «A Era do Vazio».
O que andou para aí de entusiasmo entre alguns dos nossos intelectuais perante umas quantas banalidades sobre as pressões e angústias a que somos sujeitos por uma sociedade focalizada na competitividade e no empreendedorismo?
Compreende-se, pois, que a Fundação do dono do Pingo Doce tenha convidado Lipovetsky para um encontro sobre a Liberdade. Afinal, mecenas e mecenado merecem-se entre si.  E o que é que ele veio dizer,  segundo o relato da Lusa?
“Toda a gente tem medo, somos sociedades de medo. A Europa em particular. Somos obrigados à mobilidade, enfrentamos a perda de competitividade e é necessário favorecer a iniciativa, o que é difícil no atual contexto. A civilização do indivíduo é a civilização da liberdade, mas também da pressão e da angústia”, explicou.
Em suma Lipovetsky repete sempre a mesma fórmula sem dela se desviar um milímetro: “O individualismo é hoje em dia obrigatório. Temos liberdade, mas querem que sejamos eficazes, criativos e, se não formos, vamos fora”, e “não é positivo opor os indivíduos às grandes empresas”, porque o emprego, a proteção social, a saúde e a educação dependem de uma economia competitiva”.
Nas demais banalidades, que veio debitar, deu para confirmar a sua concordância com o discurso denunciador do “despesismo” e com a lógica capitalista causadora de todos os principais desajustamentos das nossas sociedades.
Daria jeito aos soares dos santos e aos seus filósofos de estimação, que este momentâneo vazio ideológico prosseguisse. Seria ele o seguro de vida para quantos precisam, que tudo continue como está.
O azar deles é existir esta dinâmica que com tudo está a mexer. E a pôr em causa as certezas dos que julgavam possíveis os impérios para mil anos!

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