quinta-feira, 16 de outubro de 2014

MEMÓRIAS: Nixon e o caso Watergate

O caso Watergate já motivou muitos filmes, que quase nos tornou especialistas num dos episódios mais mediáticos da História Norte Americana dos últimos trinta anos. Mas o documentário realizado por Penny Lane em 2014 aposta numa abordagem original por utilizar material até agora quase desconhecido. É que no âmbito da investigação foram então apreendidos aos suspeitos cerca de quinhentas bobines de filmes de Super 8 rodadas por três dos mais próximos colaboradores de Richard Nixon: o seu chefe de gabinete H.R. «Bob» Halderman, o seu conselheiro de assuntos internos John Ehrlichmann e Dwight Chapin, que tinha a seu cargo a gestão da agenda quotidiana do Presidente. Todos eles adoravam filmar tudo quanto faziam e viam e daí a quantidade fenomenal de imagens amadoras disponibilizadas a partir dos arquivos do processo.
«Our Nixon», o título do documentário, faz uma excelente montagem desse material para narrar a ascensão e queda de um presidente.
Haldeman vinha de Los Angeles, onde era publicitário, dirigira a campanha eleitoral e conheciam-se-lhe ideias muito conservadoras.
Chapin seria por ele contratado e tratava-se, igualmente de um publicitário, então com apenas 27 anos.
Ehrlichmann já contava 43 anos e era um advogado de Seattle, que não se definiria à partida como um indefetível de Nixon. Reconheceria, mais tarde, que se tivesse recebido o mesmo convite de Edward Kennedy também o teria aceitado.
O primeiro mandato de Nixon começou com excelentes auspícios já que, nesse ano de 1969, Armstrong e Aldrin chegaram à Lua e foi ele quem, da Casa Branca, os saudou pelo feito.
Momento alto desse ano foi também a viagem por oito países europeus de cujo protocolo Chapin se encarregou.
Mas as manifestações contra a guerra do Vietname cedo começaram a marcar a agenda política presidencial por muito que, em 1972, a viagem à China constituisse um êxito diplomático sem precedentes.
Na campanha presidencial para o mandato seguinte, Nixon defrontava McGovern, um candidato presidencial com insuficiente carisma para pôr em perigo a sua reeleição. Constituiu, pois, um tremendo erro político, para já não falar da sua dimensão criminosa, a tentativa para espiar a partir da Casa Branca o que se passava na sede do rival no edifício Watergate.
Apanhados em flagrante, os cinco assaltantes incumbidos de recolher a desejada informação, foram presos e logo associados a Dwight Chapin, que tratara de os contratar através Segretti, que os liderava. Será esse colaborador o primeiro a apresentar a demissão das suas funções na Casa Branca.
Segundo se pode depreender das bandas magnéticas através das quais Nixon gravava todas as conversas registadas na Sala Oval, Haldeman e Ehrlichmann julgaram momentaneamente conter os danos por muito que o FBI e a imprensa os pressionasse. Mas, em breve, todo o frágil equilíbrio a Administração se ia aguentando desmorona-se que nem um castelo de cartas e, primeiro Haldeman e Ehrlichmann, logo seguidos de Nixon, todos acabaram por se demitir.
 De todos eles só Chapin ainda está vivo. Cumpridos seis meses de prisão trabalhou como relações públicas no setor privado, muito embora tenha depois colaborado nas campanhas presidenciais de Reagan e de Bush pai.
Ehrlichmann passou dezoito meses na prisão e reciclou-se em comentador de política, nunca mais se reencontrando com Nixon. Morreu em 1999.
Haldeman também esteve preso durante 18 meses, etrabalharia depois no setor imobiliário. Morreria em 1993 de um cancro, contra o qual sempre recusou tratamento.
Quem escapou à prisão foi Nixon, a quem Gerald Ford indultou um mês depois de tomar posse. Morreria em 1994 sem se livrar jamais da tenebrosa fama, que o tornou conhecido como o «trickie dickie»... 

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