sábado, 4 de outubro de 2014

Por trás da publicidade glamourosa

Agora que o verão já acabou estará porventura quase a regressar aos nossos ecrãs o clássico anuncio do Ambrosio e da sua Madame. Mas quem vê essa publicidade, e consome o que nela se promove, desconhece uma outra realidade, cuja revelação anda a causar sérios engulhos ao grupo italiano: o recurso ao trabalho infantil para garantir as avelãs utilizadas nos seus chocolates.
Essas avelãs são colhidas maioritariamente na Turquia por famílias curdas, que vagueiam de terra em terra para conseguirem os únicos recursos de que dispõem para poderem sobreviver. As crianças e adolescentes, que acompanham os progenitores em jornadas de trabalho de doze horas - quase sempre curvadas para apanharem do chão os frutos para ali sacudidos ou sujeitas a cargas pesadíssimas de sacas entre os pomares de avelaneiras e os caminhos aonde se podem arriscar as camionetas, que as transportam - recebem um salário de um euro por hora...
Mas, nesse negócio não são apenas os que colhem os frutos quem sofre os apertos da feroz exploração a que os sujeitam o seu cliente europeu: o governo de Erdogan criou uma tal legislação contra quem trabalha e contra quem possui pequenas explorações agrícolas, que os donos destas últimas veem os preços de venda dos seus frutos cada vez mais reduzidos, forçando-os a viver de outras atividades que não as relacionadas com aquelas em que se julgavam estavelmente instalados.
Do seu escritório central os porta-vozes da Ferrero são verborreicos na forma como se gabam do seu sentido de responsabilidade social. Mais ainda, prometem impor aos seus fornecedores no Curdistão turco a proibição desse trabalho infantil. Mas não se comprometem com o que seria justo e lícito esperar desta denúncia: que passariam a pagar-lhes um preço mais adequado para os esforços impostos a quem começa por lhes propiciar a matéria-prima necessária aos produtos que lhes enchem os cofres...

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