quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Um facilitador muito bem relacionado!

Um dos casos mais  interessantes trazido a lume pelo ensaio de Gustavo de Sampaio sobre «Os Facilitadores» tem a ver com o comentador televisivo marques mendes, conhecido pela forma como exibe, quase pornográfica, a capacidade para obter informação privilegiada dentro do Conselho de Ministros ao mesmo tempo, que exerce funções de consultor na Abreu Advogados.
Façamos um momentâneo flash back: em 2007, depois da humilhante derrota nas eleições autárquicas, particularmente em Lisboa onde António Costa derrotou  carmona rodrigues e fernando negrão, marques mendes perdeu a liderança do PSD para luís filipe menezes . O suposto abandono da atividade política serviu-lhe de fundamento para requerer na altura a pensão vitalícia, hoje avaliada em 2900 euros mensais, e que, a partir de 2017, quando fizer os sessenta anos, passará para o dobro.
Valerá a pena recordar como parêntesis que o consulado de menezes à frente do PSD pouco duraria, porquanto querendo promover a nomeação de uma comissão de inquérito parlamentar dedicada á supervisão financeira da banca, deparou com a oposição firme de alguns dos principais membros da sua direção, nomeadamente joaquim coimbra, arlindo de carvalho e duarte lima, todos eles ligados ao BPN, cujo escândalo não tardaria a rebentar.
Voltando, porém, ao caso marques mendes, também convirá recordar a identidade do então presidente da comissão política nacional do PSD em 2005 e 2006: um tal pedro passos coelho, tido como indefetível mendista. Talvez se explique, por essa proximidade entre um e outro, como é que o atual comentador televisivo consegue estar sempre “tão bem informado”! E também porque, estando envolvida em importantes processos de candidatura à aquisição de empresas a privatizar pelo governo de passos coelho, a Abreu Advogados decidiu contratar marques mendes em janeiro de 2012!
Da documentação disponibilizada publicamente por essa Sociedade de Advogados, ficou-se a saber que marques mendes esteve diretamente envolvido no processo da privatização do grupo HPP -  Hospitais Privados de Portugal, ligado à Caixa Seguros e Saúde, tal como o “Jornal de Negócios” de 5/12/2012 anuncia.
Terá sido coincidência que uma venda orçamentada pelo governo em 100 milhões de euros tenha ficado apenas por 85,6 milhões, sem contar com o prévio saneamento financeiro de uma das unidades hospitalares, a de Cascais, que estava significativamente endividada?
Enquanto representante da Amil, que foi a compradora, e pertence a um grupo financeiro norte-americano, podemos questionar qual o papel de marques mendes num negócio com grandes vantagens para o cliente, mas reconhecidamente gravoso para os interesses nacionais? Tanto mais que, ao contrário da habitual argumentação de passos coelho ou dos seus ministros, o memorando da troika não obrigava a vender a HPP, tal como estava longe de prever uma dimensão tão elevada de empresas entretanto privatizadas.
Uma outra questão pertinente, que resulta de tudo isto, será a de se aferir até que ponto essa fúria privatizadora não terá tido por móbil principal o de garantir muito bons negócios aos clientes das principais sociedades de advogados nela envolvidos.
O livro de Gustavo Sampaio está a revelar um mundo de interesses, que rende fortunas a uns quantos, mas prejudica seriamente a maioria dos portugueses! 

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