terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A irrelevância dos que insistem em negar a realidade

Não deixa de ser curioso que quem ainda há uns meses defendia António José Seguro como estando à esquerda de António Costa e por isso mais facilmente dialogaria futuramente com o PCP e com o Bloco de Esquerda, venha agora para os jornais criticar a suposta “carga ideológica”, mais próxima desses partidos. E já conta com Francisco Assis como o seu líder putativo, o que me desagrada muito particularmente por ter sido seu apoiante para o Congresso de setembro de 2011.
Ricardo Gonçalves e outros dos socialistas do Porto, que costumam estar associados a José Luís Carneiro, andam a lavrar em dois erros de palmatória:  o primeiro é o de considerarem estática a tendência do eleitorado em privilegiar quem mais se aproximar do que seria a mediana probabilística dos posicionamentos políticos. O PS teria assim, de acordo com Francisco Assis, de privilegiar uma aproximação ao que pensa a direita para que o eleitorado mais facilmente optasse por nele votar.
Ora nestes três anos o PSD e o CDS radicalizaram-se de tal forma à direita, que a mediana está colada ao PS e afastada significativamente quer do PCP e do BE para um lado quer do PSD e do CDS para o outro.
O que passos coelho disse hoje ao inaugurar um hospital privado no norte do país é, a esse título, bastante significativo: seria necessário que a oferta em termos de serviços privados crescesse para que o Serviço Nacional de Saúde deixasse de fazer sentido.
Dentro da mesmo fanatismo ideológico fez aprovar em sede de IRS a possibilidade das empresas transformarem parte dos salários dos seus funcionários em cheques-ensino para que haja mais alunos nos colégios privados enfraquecendo o mais possível a escola pública.
Estas posições demonstram bem o quanto o PSD escolheu, sob a égide de passos coelho, uma ideologia de um neoliberalismo extremo, muito próximo do «Tea Party» norte-americano e que precisa de ser intensamente combatido com a denúncia do que pretende atingir e com a apresentação das alternativas em que a grande maioria dos portugueses se reconhece: a defesa dos princípios constitucionais da saúde e da educação públicas para todos os cidadãos.
O segundo erro dos seguristas mais inconformados com o peso da sua derrota tem a ver com o facto de não compreenderem o quão alargado pode ser hoje o tipo de mensagens políticas, que António Costa pode  subscrever: quando tanta gente de direita já se dissociou de qualquer identificação com as linhas políticas subscritas por passos coelho, seria estulta a atitude de só falar para elas e para os setores sociais, que representam, quando há tanto apoio eleitoral a conquistar à esquerda, tanto mais que os comunistas, por mais rejuvenescidos que se reivindiquem, continuam cristalizados nos labirintos do seu pensamento único, e os bloquistas acabaram de dar mais um passo em frente para o abismo da sua total irrelevância.
Bem podem as feliciascabritas e os correiosdamanhã persistirem em lançar lama para o Partido Socialista, a pretexto ou não da infâmia cometida contra José Sócrates, que estão criadas as condições para alcançar uma grande maioria absoluta nas legislativas de setembro de 2015.
Seria positivo que os seguristas portuenses tivessem a mesma inteligência de Álvaro Beleza, capaz de pôr o Partido à frente de qualquer ferida, que o processo das Primárias lhe tenha intimamente causado. Mas convenhamos que, a exemplo dos bloquistas, essas vozes internas dispostas a alimentar  o tipo de clima em que se viveu nas secções e nas concelhias entre maio e setembro, estão condenadas ao fracasso. Quem esteve no pavilhão da FIL neste fim-de-semana e ouviu o clamor de entusiasmo com que foram ouvidos Ferro Rodrigues, Manuel Alegre, Sampaio da Nóvoa e António Costa sentiu bem o sentimento de esperança e de determinação com que os socialistas irão enfrentar os combates dos próximos meses. 

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