quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Falsos gurus e justas indignações

Como de costume, a opinião política hoje emitida por Augusto Santos Silva na TVI24 teve o brilhantismo intelectual, que não se encontra em quase nenhum outro comentador regular dos vários canais.
Quem alimenta o mito da “inteligência” do professor marcelo deveria compará-la com a do ex-ministro socialista para perceber aquilo a que o escritor Mário de Carvalho qualificou um dia como a diferença entre «género humano e manuel germano».
Vamos, então, por partes, começando com as notícias mais recentes sobre o envolvimento da PT com a Rioforte, que demonstram a aparente ligeireza com que se tomaram decisões de gestão de resultados desastrosos.
Para Augusto Santos Silva há algo a constatar: o maior problema das empresas nacionais não são os alegados custos de produção ou de contexto (energia, burocracia, etc.) mas a facilidade com que pessoas competentes tomam decisões de gestão, que se revelam nefastas para as entidades que representam. Embora  seja um mito difícil de ser neutralizado, importa acabar de uma vez por todas com a tese de existir uma elite de gestores brilhantes a quem os portugueses se deverão render, como se fossem irrepreensíveis.
É uma evidência colhida dos anos mais recentes, que nem as empresas privadas são melhor geridas do que as do setor público, nem a política deve ficar subordinada aos “interesses” do mercado ditados por esses falsos “gurus”.
Passando para a decisão de António Costa em iniciar o ano apresentando cumprimentos aos partidos políticos e aos parceiros sociais, Augusto Santos Silva viu grandes vantagens:
- a facilidade com que as televisões e os próprios cumprimentados já veem António Costa como o próximo primeiro-ministro de Portugal, tratando-o como tal;
- a evidente centralidade do PS na vida política portuguesa por  não se imaginar mais ninguém capaz de ser suficientemente eclético para conseguir dialogar com interesses à partida tão antagónicos;
- a demonstração perante os eleitorados do PCP e do BE, que a rejeição ao diálogo parte daqueles com que tendem a simpatizar, porquanto, na forma, António Costa surge na predisposição contrária até ao rejeitar essoutro mito a derrubar, o da falaciosa expressão de «partidos do arco da governação»;
- a criação de uma disputa conjugal entre os partidos da coligação de direita por causa daquela suposta plataforma de diálogo permanente entre o PSD e o PS, excluindo o CDS. Na prática a repetição da ideia já proposta em agosto de 2013 quando, na sequência da decisão revogável de paulo portas, os dois partidos da direita acordaram com uma plataforma de contornos semelhantes. O que já demonstrou não valer um tostão furado para eles, queria agora marco antónio costa recauchutar como «coelho» saído da cartola numa reunião, que sabia incómoda;
Após a abordagem sobre a eventual vitória do Syriza nas eleições gregas - que deveria ser encarada como natural por quem se considera democrata - Augusto Santos Silva ainda abordou o que se está a passar com José Sócrates estranhando que, passado mês e meio sobre a sua detenção em Évora, ainda nem ele, nem o advogado, conheçam os fundamentos para o manterem em tal situação. Quem perante tão estranha forma de gerir o caso, não sentiria toda a legitimidade para se indignar perante quem protagoniza a Acusação?

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