domingo, 22 de fevereiro de 2015

A subserviente soberba

Acabámos de viver uma semana interessantíssima pelos sinais dados ao que serão os anos futuros na União Europeia..
Em primeiro lugar surgiu a perspetiva do acordo do Eurogrupo com a Grécia dando-lhe tempo para respirar, ganhar apoios e criar as condições para impor uma política orientada para o crescimento e para a limitação da ganância dos credores.
Se Varoufakis não conseguiu uma vitória tão expressiva quanto a desejada já conseguiu impor um ponto final na existência da troika e da lógica do “There is no alternative”!
Comentou o insuspeito Pedro Santos Guerreiro no «Expresso»: “A Grécia ganhou tempo, a Alemanha ganhou humildade e a Europa ganhou juízo. (…) A troika está a desfazer-se, o modelo de intervenção está esgotado, mas é mais hora de suturar erros do que de lamber feridas.”
Outro dos acontecimentos da semana foi a figura patética de maria luís albuquerque  ao lado de schäuble na figura de seu bichinho de estimação. Até o comedido Fernando Madrinha criticou essa imagem no jornal acima citado: “Não se nega coerência ao discurso de passos coelho desde que o Syriza entrou em cena. Mas, já que se falou de pecados, vale a pena lembrar que o da soberba é um dos sete capitais. Dizem que o maior. E que se agrava quando associado a subserviência.”
É claro que umas páginas mais à frente, Daniel Oliveira é bem mais explícito na mesma condenação: “Há na humilhação a que nos sujeitamos sem qualquer incómodo aparente, qualquer coisa de patológico. E a intolerância com que muitos portugueses olham para os gregos, associando o seu orgulho a irresponsabilidade, não consegue esconder uma pontinha de inveja. A inveja de, talvez por causa dos nossos traumas históricos, termos perdido a capacidade de sentir vergonha quando vemos um governante nosso rastejar em público enquanto outros se entregam ao combate.”
Mas, por muito que o governo da coligação vá fazendo os impossíveis para afiançar a bondade das políticas, que impôs, e a iminência de sóis radiosos para além do arco-íris, deparou-se com a autocrítica do presidente da Comissão Europeia. E perante ela toda a fachada de convicção esmoreceu para desmascarar o nervosismo crescente de quem se sabe à beira de ver-se corrido dos corredores do poder.
É que já lá vem outro caminho protagonizado por António Costa que comentou serenamente mais um episódio, que deixou passos & Cª em tão maus lençóis: “A declaração do presidente Juncker é sábia e espero que seja bem escutada e compreendida pelos diferentes governos, que têm aqui uma grande oportunidade, de uma vez por todas, de travarem este caminho para o precipício, de assumirmos, de uma vez por todas, que há um problema na Europa que não é exclusivamente grego e que tem de ser resolvido de uma forma solidária. (…) Fico chocado ao verificar que o presidente da Comissão Europeia compreende melhor o que aconteceu em Portugal do que o primeiro-ministro e fico preocupado em verificar que o Governo é absolutamente insensível ao drama social que tem resultado no aumento da pobreza, no aumento do desemprego, de termos regressado a um ciclo de emigração como não vivíamos desde o fim da ditadura.”
De Atenas já sopram os ventos que prenunciam tempos bem mais bonançosos para a generalidade dos portugueses. Quem apostou na nossa condenação ao empobrecimento irreversível bem poderá ter-se redondamente enganado...


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