sexta-feira, 20 de março de 2015

O que estamos a dever aos gregos

Todos os meses a edição portuguesa do «Le Monde Diplomatique» tem aqui lugar reservado devido aos conteúdos aprofundados, que nos permitem ter bases para melhor analisar a atualidade nacional e internacional. Um esforço admirável de Sandra Monteiro e da sua equipa, que lidam com poucos meios para tão gigantesca tarefa, quanto o é a necessidade urgente de criar uma opinião pública informada e capaz de se dissociar das mistificações desenvolvidas pelo «jornalismo» controlado pelos interesses obscuros de quem tem a propriedade dos jornais, rádios e televisões dominantes.
O texto de primeira página da edição de março é, como de costume, de Serge Halimi, diretor da edição francesa da publicação, que escreve sobre a importância de apoiar o novo governo grego face ao cerco a que é sujeito pelas instituições europeias.
Halimi começa por constatar o óbvio: a ilegitimidade dos que se atrevem dar lições aos gregos como se devem comportar. Não foram eles os criadores do conceito de Democracia? “No entanto, sobre eles chovem lições desde que colocaram no poder uma força de esquerda decidida a virar as costas às políticas de austeridade que os atormentam há seis anos.”
Antidemocráticas, as pressões sobre o governo de Alexis Tsipras também procuram tornar obsoletos outros conceitos, que ele apostou em revalorizar: ‘soberania’, ‘dignidade’, ‘orgulho’ ou ‘esperança’.
 A chantagem, que os schäubles procuram impor é a de só libertarem os milhões de euros essenciais para que o novo governo consiga funcionar se ele prosseguir a implementação de um conjunto de medidas antipopulares, que se comprometera a combater: “reduzir uma vez mais as pensões e os salários, aumentar a taxa do imposto sobre o valor acrescentado (IVA), avançar com a privatização de catorze aeroportos, enfraquecer ainda mais o poder negocial dos sindicatos, e afetar excedentes orçamentais crescentes ao reembolso dos seus credores, apesar de a aflição social do seu povo ser imensa.”
Desse-se o caso de tal tipo de medidas ter resultado em melhorias significativas para a economia grega ainda se poderia criticar a escusa do governo do Syriza em prossegui-las. Mas o balanço que as instituições europeias podem apresentar não deixa qualquer dúvida: “uma dívida que aumenta permanentemente, um poder de compra que colapsa, um crescimento anódino, uma taxa de desemprego que dispara, um estado de saúde degradado.”
É por tudo isso que Serge Halimi alerta para o facto de muito do nosso futuro ficar decidido com o resultado do diferendo em curso entre Atenas e as instituições europeias. Porque dele resultará se poderemos estar condenados ao empobrecimento e à perda dos já limitados direitos sociais, que nos restam, se avançamos para um outro tipo de sociedade onde as pessoas voltam a contar. Conclui Halimi: “O combate dos gregos é universal. Já não basta que os nossos votos os acompanhem A solidariedade que esse combate merece deve traduzir-se em atos. O tempo está a contar”. 

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