quarta-feira, 13 de maio de 2015

Quando a ficção tanto se assemelha à realidade

Numa série televisiva, que a RTP-2 está a transmitir - «Crime e Castigo» -, vemos como um antigo procurador é preso, acusado de violação de um prostituto adolescente, apenas porque, quando ainda exercia funções públicas, pôs em xeque interesses bem estabelecidos. Como será que Pierre Clément se livrará de tão insidioso processo.? Só o saberemos na sexta-feira, quando for emitido o derradeiro episódio da 3ª temporada desta série!
Porque é que trago esta história à colação? Porque ela  lembra, inevitavelmente, quem se viu sujeito a um processo quase tão kafkiano quanto este abordado num universo ficcional, e ainda se encontra privado de liberdade no Estabelecimento Prisional de Évora.
Confirmando que, mais do que a generalidade dos filmes distribuídos para os espaços de pipocas e coca-cola outrora crismados de salas de cinema, são as séries televisivas que mais seriamente abordam os problemas sociais e políticos dos dias de hoje, esta em particular mostra todas as características do caso engendrado por rosário teixeira com a cumplicidade de carlos alexandre:
- a vontade de humilhar quem  se acusa sem provas, quer na forma como se procede à sua prisão, quer quanto ao modelo de inquirição a que o sujeitam, quer, enfim, quanto à tentativa de dar por credíveis as “provas”, que tão frágeis se revelam;
- a neutralização do “suspeito”, que continuava, mesmo já afastado de funções públicas, a exercer a sua atividade e assim deixou de o poder fazer;
- a cumplicidade de altas instâncias do Estado com todo esse processo de acusação, se não mesmo a sua coordenação ao nível mais elevado. E aqui é o próprio Procurador Geral Machard quem surge na primeira linha a tentar destruir o “suspeito” até à aniquilação final;
No que a série ainda se afasta da realidade ocorrida com José Sócrates é no facto de a advogada de Pierre Clément estar ciente de ver-se obrigada a utilizar métodos tão pouco escrupulosos quantos os da acusação.
A lógica é esta: perante a podridão dos métodos do ministério público, só com as suas próprias armas se poderá vencer. O que contradiz o discurso oficial do Partido Socialista, que obviamente tem de manter o tom politicamente correto sobre o respeito pela separação de poderes e a suposta irrepreensibilidade das instituições judiciais. Mas se há muito se conhece essa “irrepreensibilidade”  através dos comentários de alguns magistrados no facebook, agora avalizados por joana marques vidal na votação sobre o assunto verificada no Conselho Superior do Ministério Público, podemos acreditar em tão pio comportamento?
Que a maré está a virar di-lo Mário Soares na sua mais recente crónica do «Diário de Notícias»: “Talvez por isso Carlos Alexandre esteja agora tão crítico em relação ao que ele diz que lhe tem vindo a suceder, sem saber porquê. Diz que está a ser maltratado por gente que desconhece. E começa a estar um pouco nervoso na sua vaidade. O melhor para todos seria que libertasse quanto antes José Sócrates e lhe apresentasse as devidas desculpas.”
Devemos, e queremos acreditar, que José Sócrates sairá ilibado de todo este tenebroso ajuste de contas, que terá valido aos seus clandestinos perpetradores uma vitória provisória: uma mancha na reputação de um político cujas características tanta falta fazem ao país...


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