quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Em que sociedade queremos viver?

Admito que ser avô de uma lindíssima criança de dois anos me torne particularmente sensível à fotografia de uma outra cujo corpo deu ontem à costa na Turquia. Mas também estou certo que, mesmo não tendo esse estímulo pessoal a condicionar-me, não deixaria de me indignar com essa cena ilustrativa de milhares de tragédias em curso no Mediterrâneo, no Norte de África e no Médio Oriente.
Daniel Cohn-Bendit dizia esta noite na televisão francesa, que a questão de resolver como ficará o regime político na Síria é, agora, de somenos importância. Por muito que não possamos esquecer quem e como houve quem andasse a atirar óleo para a fogueira, que ameaça agora alastrar para as nossas costas. No que a Europa tem de concentrar-se é na resolução da crise humanitária, que ganhou dimensão expectável nestas semanas mais recentes.
Liderada pela srª Merkel que, desta feita, está a merecer elogio, a União Europeia tem de vergar alguns biltres, que se afirmam governantes e são capazes de comportamentos odiosos como os do fascista orban na Hungria ou os do “social-democrata” robert fico na Eslováquia, cuja xenofobia revela bem a perversa inflexão nos valores humanitários verificada nos antigos países comunistas, agora convertidos aos mais odiosos reflexos de um capitalismo selvagem.
Se a Europa comunitária nascera como herdeira do Espírito das Luzes do século XVIII, dando o valor devido à Declaração Universal dos Direitos do Homem, a evolução das instituições sedeadas em Bruxelas ou em Estrasburgo tem-na convertido numa grotesca caricatura do que tinham planeado os seus fundadores.
Estamos, pois, a necessitar de uma nova geração de líderes europeus, com a dimensão ética de um Willy Brandt ou de um Olaf Palme, que tanto contribuíram para o que de melhor expressou a Europa Ocidental há quase meio século. É, ainda, à conta dessa imagem de tolerância e de aposta na qualidade de vida das pessoas que ela ganhou a capacidade de atração para onde convergem os desvalidos das guerras incendiadas do exterior nos últimos anos.
E é essa diferença de monta, que se deteta nos que exercem cargos públicos em Portugal. Os de direita, como rui machete, tentavam há dias discutir, no sentido da redução, o número de refugiados passível de ser aqui apoiado, como se fossem um incómodo de que se gostariam de livrar. Pelo contrário Fernando Medina, à frente da autarquia da capital, já tomou decisões preventivas, preparando dois milhões de euros para acorrer aos primeiros infelizes que aqui aportarem.
Para o dia 4 de outubro coloca-se esta questão fundamental: queremos uma sociedade orientada para as pessoas ou para a salvaguarda dos interesses financeiros de gente, que nos explora e amesquinha? É essa a diferença entre a candidatura de António Costa e a da coligação de passos com portas...

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