sábado, 26 de setembro de 2015

Querer em vez de “confiar”

Dos artigos hoje publicados no «Expresso» realço, como mais significativo, o do insuspeito Pedro Santos Guerreiro, que se debruçou sobre a questão de saber quem, de entre maria luís albuquerque e Mário Centeno, merece maior credibilidade para vir a assumir a pasta das Finanças no próximo Executivo.
Embora não o diga preto no branco, o articulista dá logo no título a resposta para a sua preferência: «Confiar é pior que querer». Porque a atual coligação confia que mantendo as receitas seguidas nestes quatro anos dará satisfação à sua obsessão com o défice das contas públicas: “Sobe-se impostos e o Estado tem mais receita; corta-se salários e pensões e o Estado tem menos despesa. É simples: vive-se pelo défice.”
Pelo contrário Centeno quer mudar de paradigma para contrariar os riscos que o próprio Pedro Santos Guerreiro associa às políticas da direita: “A retoma é lenta e desigual, os salários não crescem, o investimento continua a preferir sectores não transacionáveis, aceitamos o empobrecimento não como circunstância mas como condição.”
Muito embora ainda haja quem na Universidade Católica insista nas receitas neoliberais cujo falhanço vai-se confirmando em todas as latitudes - mesmo esquecendo o preceito de impostos mínimos desde que compensados com a redução máxima dos custos do trabalho  e com a eliminação do Estado de todas as áreas económicas onde ele ainda se faça sentir (da saúde à educação, da Segurança Social aos setores que deveriam ser acautelados por razões de soberania) - a tendência dos anos vindouros tenderá a privilegiar o regresso da lógica neokeynesiana, que sempre tende ciclicamente a vir corrigir os desvarios dos que tentam tornar o capitalismo ainda mais selvagem do que ele já é.
Confiar no PAF significa “propor, impor e aceitar a paragem cardíaca do país. (…) a retoma assenta em exportações, que aumentam importações, e no consumo que está a gastar a poupança dos anos do medo. (…) Estamos a comprar automóveis (importados) como há anos não comprávamos. E o Governo banha-se nos impostos dessas vendas. Ainda ontem soubemos que a cobrança fiscal foi agora a mais alta de todos os agostos. Nunca pagámos tantos impostos nas nossas vidas. Num mês, o Estado cobrou 5600 euros por hora. Não é uma redenção, é um jugo a que nos habituámos”.
O texto de Pedro Santos Guerreiro mostra como muitos economistas e jornalistas especializados em questões económicas estão a olhar para as propostas do PAF e do PS e não têm dúvidas em desqualificar as primeiras em proveito das segundas. Basta, aliás, comparar o anonimato sob que se acobertaram os autores daquelas em comparação com a disponibilidade para se darem a conhecer os envolvidos nas do PS.
Na realidade um economista digno desse nome - o que não é o caso dos camiloslourenços e dos josésgomesferreiras que, armados em curiosos, se julgam doutos na matéria! - nunca poderá avalizar uma política como a que destruiu a economia e não trouxe sinais da prometida prosperidade.
A oito dias de nos libertarmos do que D. Januário Torgal classificou como “tragédia civilizacional”, também preferimos querer mudar do que confiar em amanhãs que cantam com um novo mandato para a receita seguida até aqui. 

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