sábado, 31 de outubro de 2015

Um Presidente para o futuro que se fez presente

O que a História tem de mais exaltante é a frequência com que sai do ramerrão em que a querem estreitar - sobretudo os mais interessados em que as coisas continuem a ser como são! - e nos vem confrontar com o que é novo, com o que se dizia inviável. Daí a lucidez dos que, em maio de 68, anunciavam ser realistas, porque só exigiam o impossível. Algo que os anos seguintes se encarregaram de contemplar de muitas e variadas maneiras.
Caminhantes, que somos do nosso caminho - como constatava o poeta espanhol António Machado - a História vive muito do nosso andar, mas também daquele para que, de vez em quando, nos empurra mais bruscamente.
O que está a acontecer na nossa vida política por estes dias já levou alguns a interpretarem-no como um terramoto. Exageros óbvios de quem imita os gauleses temerosos de sentirem o céu cair-lhes sobre as cabeças!
Mas é um facto que anda por aí muita gente atordoada, porque o futuro veio anunciar-se-lhes e não estavam preparadas para o receber. E ele vem mudar tudo, nomeadamente no que diz respeito às eleições presidenciais, que andam quase esquecidas nos jornais e televisões. O que não admira: tirando os casos específicos de Edgar Silva e de Marisa Matias, que se inscrevem na lógica dos respetivos partidos utilizarem todos os altifalantes disponíveis para propagandearem as suas perspetivas políticas, só existem três candidaturas potencialmente vencedoras no terreno. E são elas a verem-se agora testadas pelo crivo desse futuro, que virou de pantanas os equilíbrios políticos cristalizados até aqui.
Que consonância tem Marcelo Rebelo de Sousa e Maria de Belém com esse tal futuro em que não conseguem caber?
Nunca conhecemos uma única ideia de futuro ao antigo comentador da TVI. Os seus méritos têm a ver com uma longa carreira académica, uma breve liderança política que correu mal, e algumas candidaturas concretizadas ou prometidas a eleições onde foi derrotado ou se sentiu antecipadamente perdedor, pelo que não chegou a concorrer.
Com alguma habilidade no jogo da intriga política não se lhe reconhecem qualidades bastantes para ser o presidente de que carecem hoje os portugueses. Não é por ser deles conhecido - e até lhes suscitar alguma simpatia! - que possui a independência dos partidos exigível para a nova fase histórica em que acabámos de entrar e em que o Presidente deverá ter a integridade e a lucidez necessárias para ser o fiel da balança sempre que tal se justificar.
Quanto à candidatura de Maria de Belém os motivos que a desqualificam são igualmente significativos: se nem dentro do Partido Socialista conseguiu ser uma presidente consensual, pendendo indisfarçavelmente para um dos lados, quando se colocou a questão das Primárias entre Seguro e Costa, como o conseguiria ser agora se, eventualmente, chegasse a Belém?
Mas o que de mais grave se associa à sua candidatura é o passado lobista, já que nunca viu qualquer problema entre o concomitante exercício de cargos políticos com outros de administração em grupos económicos da área da Banca e da Saúde.
Quando alguém é incapaz de ver os perigos de tal promiscuidade, terá alguma vez condições éticas para o exercício de funções, que as exigem acima de qualquer suspeita?
É assim que chegamos à candidatura de António Sampaio da Nóvoa. O único dos candidatos a falar abertamente do futuro do país e da importância de o conquistarmos com base no crescimento e no conhecimento. A Visão capaz de congregar a vontade dos milhões de eleitores, que votaram contra o rumo suicida assumido nestes últimos quatro anos.
Perante este mesmo futuro, que se veio anunciar sob a forma da convergência de vontades das esquerdas, Sampaio da Nóvoa é quem possui o carácter e a sapiência exigíveis para acelerar o andamento por tal caminho.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Nervosos miudinhos

1. Continuam a ouvir-se muitas vozes a preverem que não existirá um governo assente na maioria parlamentar de esquerda. O antigo ministro campos e cunha é só mais uma a associar-se à histeria de que manuela ferreira leite e outros nomes sonantes da direita têm expressado. E, como alternativa, já há quem defenda a possibilidade de cavaco silva lançar um governo de iniciativa presidencial tão só o de passos coelho chumbe.
Se, por um lado, esses enervados comentadores parecem desconhecer as mudanças constitucionais, entretanto, verificadas desde que tal tipo de governos teve (breve) existência, é Pedro Silva Pereira quem, no «Económico» esclarece lapidarmente o assunto: não é o de passos coelho um governo de iniciativa presidencial?
Escreve o deputado europeu: “Ouvidos os partidos, todos sabemos que este Governo minoritário da direita toma posse em confronto com a maioria do Parlamento. É, portanto, um Governo de iniciativa presidencial. E é um Governo condenado ao fracasso.” 
Noutro texto, inserido no «Ação Socialista», o mesmo autor insurge-se, muito justamente contra os opinadores do mesmo quadrante político, que assistiram às intervenções de rajoy ou de angela merkel em defesa de passos coelho e não se indignaram com uma intromissão tão evidente na nossa soberania: “Muito curiosamente, desta vez não se fizeram ouvir as reações indignadas de certos arautos do reino, noutros momentos tão abnegados na defesa da nossa soberania e confessos adversários da alegada conversão de Portugal numa espécie de "protetorado". Ao que parece, o brio nacional desses espíritos oscila com as conveniências. Agora, a julgar pelo seu respeitoso silêncio, acham normal ouvir estrangeiros a darem palpite sobre a interpretação que deve ser dada aos resultados das eleições em Portugal e até sobre a posição que devem ou não devem ter as instituições políticas portuguesas no processo de formação do novo Governo.”
Em tempos de grande nervosismo nas hostes dos que concluem agora terem perdido as eleições, o mais calmo parece ser António Costa, que, segundo Estrela Serrano, “continua a trabalhar numa solução de governo resistindo às pressões e aos insultos.”
E conclui a autora do blogue «Vai e Vem»: “No fim de contas, Costa, o tão proclamado vencido,  é o único que não se deixou capturar pelo ódio e pelo desespero.  Não perdeu a cabeça. É um bom sinal para o futuro. Precisamos de calma e de bom senso. Não daqueles que perdem o norte à primeira contrariedade.”
2. Os indicadores que vão sendo conhecidos dos resultados das politicas implementadas nestes quatro anos continuam a ser elucidativos quanto ao seu fracasso: em setembro o emprego continuava a descer, seguindo uma tendência constatada em agosto. Se então se tinham perdido 16 mil empregos, no mês seguinte foram mais seis mil que se lhes somaram.
Não surpreende que o INE tenha revelado nova quebra na população portuguesa: de 2013 para 2014 o país perdeu mais de 52 mil habitantes, quase na maioria forçados a partir por não encontrarem aqui meios de sobrevivência.
3. Deixo para o fim o comentário judicioso de Fernanda Câncio a justificar a ação preventiva contra o pasquim matinal da Cofina a propósito das mentiras que, sobre ela, vem desenvolvendo a respeito da Operação Marquês: “Previsivelmente, serei acusada de "censura" e de "constrangimento ao exercício do direito de informar." É que, parece, há quem considere que é mais grave tentar impedir crimes do que cometê-los.”

Da Ópera Bufa à especulação dos mercados

1. A tomada de posse do novo governo de passos coelho foi uma espécie de “ópera bufa”, mais no que sobre ela se pôde dizer de jocoso a partir da assistência, do que pela piada do seu próprio argumentário.  
O formalismo foi respeitado, mas sentia-se a falsidade de toda a encenação, cuja pobreza condizia com a da balofa mentalidade da maioria dos presentes.
E que dizer das árias/ discursos? Houve quem as classificasse de confusas, mas elas revelaram-se, sobretudo, indigentes, porque nada de consequente disseram sobre o futuro que virá.
2. Mesmo largando o pote é bem conhecida a estratégia levada a efeito por passos & Cª em deixarem o aparelho de Estado suficientemente recheado de gente sua, que possa torpedear a implementação das políticas decididas pelo governo, que se lhes seguirá.
Um dos mais importantes espaços donde será crível o contra-ataque à maioria de esquerda é o Banco de Portugal, que demonstrou ao que está disposto ao designar sérgio monteiro como o responsável pela venda do Novo Banco.
Não é preciso fazer grandes apresentações sobre o antigo secretário de Estado, porque ele foi ao longo dos últimos quatro anos o paradigma do cow-boy que, ao ouvir a expressão “empresa pública”, sacava logo da pistola.
Exemplo lapidar da teapartização da direita portuguesa, ele representa os setores da direita mais fanática, que acredita “quanto menos Estado, melhor Estado”, o que é tão falso quanto tantos outros mitos enquadráveis na mesma lógica, entretanto, desmentidos nos anos mais recentes, como o da suposta superioridade da gestão privada em relação à pública.
Será desejável que, na nova legislatura, a Assembleia da República lance uma comissão parlamentar para avaliar o comportamento de carlos costa à frente do Banco de Portugal durante toda a tragédia BES. Porque ele deverá ser devidamente sancionado pelo papel de mera marionete da estratégia do PSD e do CDS para alimentar uma falsa imagem de justiceiro perante um poder bancário, que faria sentido utilizar quando chegasse o momento das eleições. Mesmo que o resultado fosse a fragilização do seu já periclitante estado em Portugal.
3. A notícia de tentativa de levar a julgamento um especulador que, em 2010, andou a criar as condições mediáticas necessárias para enriquecer com a forçada criação da crise financeira portuguesa, é um pequeno exemplo do que então esteve em causa.
Se foi possível identificar os atos concretos de Peter Boone para acumular dividendos com a evolução das taxas de juro  aplicáveis a Portugal à medida, que ia publicando artigos na imprensa económica destinados a empolá-los, fica muito por esclarecer em relação à atuação concreta de muitos bancos da City com departamentos inteiros dedicados a esse tipo de engenharia financeira especulativa.
E, no entanto, a direita andou anos a querer escamotear as responsabilidades alheias na crise que quis atribuir exclusivamente a José Sócrates. A mentira e a manipulação da opinião pública nacional não teve qualquer travão motivado por uma ponta de escrúpulo.
Será bom que a esquerda acautele este tipo de comportamentos indecorosos da direita para criar aparências de realidade, que são completamente falsas.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Será Ferro Rodrigues o próximo Presidente da República?

1. Vou aqui colocar uma tese mirabolante, tanto quanto sei ainda não sugerida por nenhum dos comentadores televisivos, mas, paradoxalmente, é a que conjuga a vontade maioritária dos mais amplos setores da população nacional - incluindo os empresários e os banqueiros em repudiar o prolongamento do executivo de passos coelho durante vários meses -, e a intenção de cavaco silva em não dar posse a um governo liderado por António Costa.
A tese faz, igualmente, sentido perante a expressão crispada do ainda presidente quando, em Roma, quis declarar aos jornalistas o seu não arrependimento por nada do que terá dito no discurso em que anunciou a indigitação de passos coelho para formar governo.
Para cavaco a alternativa apoiada pela maioria de esquerda conduzirá, inevitavelmente, ao fracasso e ele terá a grande oportunidade de se ver redimido pela História - que o tende a consagrar como o pior dos Presidentes da II República -, e consagrar-se como aquele que, não se terá somente limitado a avisar, mas sobretudo a sacrificar-se pela defesa do que acredita.
Contará para tal com o Artigo 131º da Constituição, que prevê a possibilidade do titular da função presidencial renunciar ao mandato dirigindo uma mensagem à Assembleia da República a anunciá-lo. A partir desse momento passará a ser Ferro Rodrigues a assumir interinamente o cargo até o seu sucessor vir a ser eleito.
No Artigo 132º fica, igualmente, explicito que cavaco manterá “os direitos e regalias inerentes à sua função” enquanto Ferro Rodrigues gozará de “todas as honras e prerrogativas da função, mas os direitos que lhe assistem são os do cargo para que foi eleito.” 
Tendo em conta que cavaco manterá todas as regalias, que o cargo pressupõe, sem o ónus de se confrontar com a legislação em breve aprovada pela Assembleia em total desacordo com os seus preconceitos, não será surpreendente a opção por esta alternativa...
2. Se há um par de dias andávamos a discutir se devíamos comer carne vermelha ou enchidos por causa dos seus efeitos cancerígenos anunciados pela OMS, tivemos agora uma outra organização internacional a causticar-nos a consciência com a pegada ecológica relacionada com a nossa alimentação rica em consumo de peixe.
Isso faz-me lembrar o meu pai, homem frequentemente bem humorado, que foi à médica de família sem a esposa, e a quem lhe transmitiu o veredito da consulta: que não podia comer carne, nem peixe nem legumes!
- Então o que podes comer? - perguntou a minha mãe levando a sério a sua pilhéria.
Eu diria o mesmo: perante o exagero de tanto “publicitário”, mais valerá comer e beber com prazer, sem levarmos a sério os alarmistas, que nos querem privar das boas coisas da vida!
3. Quem perdeu o que o nosso país tem de bom - a começar pela boa comida e o ainda melhor clima! - foram os emigrantes que tornaram o país no 12.º do mundo com mais emigração.  Isto num relatório subscrito pelo próprio governo, que reconhece um fluxo anual médio de 110 mil saídas em 2013 e 2014.
Se isto não é a  confissão do seu fracasso, que mais será necessário para que ele fique exposto?

A guerra é a guerra!

1. A atual crise dos refugiados está a pôr em causa alguns dos principais valores europeus, que serviam de alibi moral à vertente abertamente económica e financeira subjacente ao projeto comunitário.
A existência de diversos governos de extrema-direita no leste-europeu demonstra como se tiveram as cautelas necessárias relativamente às pretensões turcas, mas quase nenhumas em relação aos regimes saídos da implosão do Pacto de Varsóvia.
Não deixa de ser irónico, mas igualmente trágico, que o crepúsculo político de angela merkel decorra das opções mais decentes por ela reveladas ao longo da sua governação. Embora não seja de excluir que visse no afluxo de refugiados, a resposta para a crise demográfica da Alemanha, ela terá sido demasiado audaz para muitos dos que nela votaram anteriormente e que a passaram a contestar.
Valerá o facto de não se lhe vislumbrar sucessor capaz de a desafiar no imediato, mas esperemos que o advento de novos governos de esquerda no sul da Europa alente os sociais-democratas alemães a seguirem a mesma orientação e se constituam como muralha poderosa contra os ventos populistas vindos da Hungria, da Polónia da República Checa ou da Eslováquia. Nem que para tal acolham a possibilidade de se aliarem, além dos Verdes, aos até agora proscritos Die Linke.
2. A anunciada apresentação do Acordo de governo dos quatro partidos da esquerda parlamentar só para o dia da apresentação e votação das moções de rejeição satisfaz a prudência que se justifica perante a estratégia da coligação de direita para tudo fazer no sentido de evitar a discussão do seu desconhecido programa.
Conhecer o tipo de direita, que passou a caracterizar o PSD e o CDS, é fundamental para que não se repitam os erros da campanha eleitoral, quando António Costa apostou na seriedade de dar a conhecer as propostas socialistas devidamente quantificadas nos seus custos e receitas, e viu depois completamente sabotada essa prova de boa-fé ao sujeitar-se à manipulação e descarada mentira em torno de medidas específicas, que não significavam o que lhes pretendiam associar.
Mas o PS ainda tem de aprender mais algumas lições como se depreende da votação para as vice-presidências da Assembleia da República: o resultado, que atribuiu a Jorge Lacão o número de votos mais baixo denuncia a falta de reciprocidade da direita à complacência da esquerda para com os seus nomes. É que foi notória a votação dos deputados da esquerda nos nomes apresentados pela direita, mas o contrário não aconteceu.
Estamos numa legislatura em que não há espaço para sorrisos e abraços: os campos estão bem estratificados e quem disso se esquecer estará condenado a sofrer abalos na sua boa consciência…
3. É claro que José Sócrates já não vai a tempo de evitar o assassinato político a que foi sujeito anos a fio pelas publicações do grupo Cofina. E por isso mesmo os 350 mil euros pedidos de indemnização por cada notícia futura sobre ele publicada nos jornais e revistas do grupo até constituiriam uma forma de compensação pela deturpação do que é a liberdade de informação.
Infelizmente a juíza, que subscreveu a providência cautelar não apoiou a pretensão da defesa, mas esperamos ver no futuro a Justiça ressarcir devidamente o antigo primeiro-ministro pelos danos sofridos na sua reputação.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Um dia em cheio

Ontem tive um dia em cheio enquanto apoiante entusiástico da candidatura do Professor Sampaio da Nóvoa à presidência da República.
Primeiro foi a conferência na Faculdade de Letras, onde pude ouvi-lo falar da importância do Conhecimento, da Cidadania e do Desenvolvimento como eixos primordiais de um novo ciclo político, que desejamos ver consagrado se quisermos um país mais consonante com as aspirações de quem nele vive.
Num evento com um excelente naipe de oradores, e organizado pelo Cláudio Fonseca, foi possível ver equacionados muitos dos problemas que se colocam ao nível da educação e da participação cívica, bem como das formas de as dinamizar.
Depois, chegado a casa, estava quase a iniciar-se a entrevista à TVI e à TVI24, onde o Professor foi esclarecedor em relação ao que faria se já estivesse a lidar com o atual momento político a partir do Palácio de Belém.
Sem fugir a nenhuma das perguntas do entrevistador, denotou a ponderação, a sapiência e a isenção, que fazem dele, de longe, o melhor dos candidatos à sucessão de cavaco. É eloquente o contraste entre a gravitas  da sua postura e a do principal oponente, que dificilmente se conseguirá dissociar da informalidade da condição de ex-comentador político.
Preto no branco, Sampaio da Nóvoa confirmou que daria a passos coelho a oportunidade de testar o seu governo na Assembleia da República por ser este o tempo dos deputados. E, depois, não deixaria de convidar António Costa para apresentar, e fazer aprovar, o programa concertado entre os quatro partidos comprometidos com o futuro governo.
Esta clareza é a que nem maria de belém, nem marcelo rebelo de sousa demonstraram até aqui, mantendo-se no registo do tipo “não me comprometam”.
Confio que, na hora de votar, o imaginário coletivo operará a escolha adequada entre quem tem pensamento e pose de presidente e aquele que soará a falso no mimetismo de tal aparência.
Esta oportunidade para se dar a conhecer aos eleitores, que ainda têm andado desatentos quanto à sua personalidade, aumentou-me a confiança quanto a uma passagem à segunda volta, onde a convergência dos votos da esquerda infligirá ao candidato da direita mais uma derrota, logo ele que julgaria, enfim, escapar à maldição, que o parece acompanhar sempre que se abalança a outros voos, que não os de entertainer televisivo.
Durante a campanha eleitoral, e particularmente nos debates televisivos entre os diversos candidatos, o Professor Sampaio da Nóvoa sobressairá pela inteligência dos seus argumentos.
A espécie de sortilégio, que consegue sugestionar em quem o ouve, será determinante para virmos a contar em Belém com um Presidente, que devolva à função a dignidade e o respeito, que conheceu com Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio - todos seus apoiantes! -  no que ela significa a assumida representação de todos os cidadãos, sem quaisquer preconceitos ideológicos...

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Até a novilíngua esqueceram...

As coisas parecem estar tão mudadas que até um político laranja, habitualmente bastante diplomático, como costuma ser marques guedes, apareceu, furibundo, a qualificar de mentirosas as notícias sobre as nomeações à última da hora dos “boys” do PSD e do CDS.
E, de repente, os próprios autores da propaganda da coligação parecem desnorteados ao revelarem-se incompetentes para controlarem os danos das notícias, que vão surgindo. Não só essa, que revela o abandono de qualquer escrúpulo para abocanhar o que ainda for possível do aparelho do Estado, mas até para impedirem paulo portas de se eternizar perante as câmaras de televisão a repetir até à náusea os mesmos estafados argumentos, que já ninguém tem paciência para ouvir.
Mas a própria novilíngua, em que se tinham mostrado tão hábeis, vai perdendo brilho como se viu esta manhã com a divulgação dos números do desemprego: quem emitiu o relatório bem tentou escamotear o aumento do desemprego no último mês - mais duas mil e muitas pessoas despedidas dos respetivos empregos - com a comparação em relação ao período homólogo do ano passado. Mas começando por apresentar este dado em primeiro lugar deixou para o fim aquele que mais ficou a ecoar no ouvido de quem ouviu a notícia: o desemprego está a crescer como confirmação do falhanço das políticas até agora implementadas. 

Será cavaco um infiltrado do PCP?

Deliciosa a entrevista a Rui Zink no «Inferno» do Canal Q aonde foi apresentar o seu livro mais recente: «OssO». Sobretudo no que sobre cavaco silva disse: ele seria, afinal, um infiltrado do PCP desde antes do 25 de abril (vide as fichas conhecidas de então!) e que ficará na História, não como o pior Presidente da República, mas como aquele que conseguiu unir a esquerda em Portugal.
No fundo deveríamos estar profundamente agradecidos a cavaco por, durante todos estes anos, ter-se sacrificado a parecer quem não é e contribuir ativamente para mudar a História na altura em que pôde ser mais determinante.
Rui Zink até foi mais longe na sua tese: pondo as fotografias de Jerónimo de Sousa e de cavaco lado a lado, e comparando a geometria dos respetivos queixos, somos levados a concluir que são, no mínimo, primos.
Mas a entrevista com Rui Zink teve outro momento bastante divertido, quando concluiu estarmos a viver momentos únicos, uma espécie de «enquanto o pau vai e vem folgam as costas» porque, se já tudo estivesse decidido quanto à governação, não nos estaríamos a divertir tanto. Assim, depois de tantos motivos de melancolia, andamos a olhar para toda esta barafunda - que até suscita notícias virais de golpes de estado no twitter ! - só vemos pilhérias oportunas por todo o lado.
Uma dessas pilhérias foi, igualmente, sugerida pelo Inimigo Público, que anunciou os parabéns de cavaco ao Sporting por ter conseguido esmagar os vermelhos!
E, voltando ao autor de «OssO», pode-se concluir que os seis milhões de portugueses que estão por esta altura a odiar Jesus, andam a corroborar a vitória iminente do Mal, ou seja da esquerda, aproximando-se obviamente do Inferno, que dá o nome ao programa em que me ri com tanto gosto.

Uma dinâmica que poderá ser bem sucedida

São várias as vozes, que apontam para a possibilidade de um governo, apoiado na maioria parlamentar de esquerda, constituir um efeito capaz de extravasar as fronteiras lusas e impulsionar dinâmicas similares em países onde está mais avançada a reflexão sobre o impasse ideológico, que vem tolhendo os partidos socialistas, trabalhistas e sociais-democratas.
Perante o progressivo divórcio entre o regime de Viktor Orban e o seu eleitorado, ao mesmo tempo que um governo similar irá ser sujeito ao teste da governação na Polónia, cabendo-lhe idêntica sina, é urgente uma resposta eficaz das esquerdas europeias, capaz de acolher os desiludidos das várias propostas populistas. Porque a cristalizada alternativa austericida personificado em schäuble vai-se esgotando à medida, que fracassam as perspetivas de conduzirem os elos mais fracos do euro ao equilíbrio orçamental.
Não foi preciso, que surgissem fluxos ininterruptos de refugiados para que a Europa se visse a contas com a obrigatória ponderação do que quer ou não ser. E a radicalização de muitos dos seus povos para as esquerdas é um fenómeno novo, que só poderá crescer. Sobretudo se, falhada a alternativa grega, a que vier a ocorrer em Portugal - e quiçá em Espanha! - dê fundamentadas esperanças a quem quer ver cumpridas as expetativas alimentadas pelos pais do projeto europeu.
2. Um dos países onde tudo mudou nas últimas semanas foi no Reino Unido onde Jeremy Corbyn conseguiu 59,5% dos votos logo à primeira volta das eleições para a liderança do Partido Trabalhista, deixando o seu principal rival a 40 pontos de distância.
Curiosamente ele beneficiou de uma alteração estatutária, que os blairistas inventaram como forma de atenuar a importância dos sindicatos na escolha do seu líder: as eleições primárias abertas a simpatizantes dispostos a pagarem uma contribuição para o Partido como requisito para terem direito ao voto. Julgavam, erradamente, que os militantes estariam mais à esquerda do que os novos votantes, quando foi, precisamente o contrário do que aconteceu.
Curiosamente esse fora, igualmente, o erro de cálculo de António José Seguro ao convocar eleições primárias para a eleição do secretário-geral do PS em setembro de 2014.
Se essa eleição fosse circunscrita aos militantes teria, porventura, sido muito mais equilibrada, mesmo que favorecendo inequivocamente António Costa. Quem andou, na recente campanha eleitoral, a distribuir materiais de propaganda nas ruas, foi confrontado, amiúde, com questões quanto ao que seria necessário para a união das esquerdas. Os que afiançam não ter sido essa a vontade do eleitorado, que votou no Partido Socialista não sabe do que está a falar.
Em Inglaterra a viragem à esquerda foi evidente: os jovens  condenados a empregos degradados e a arrendamentos proibitivos, juntaram-se aos ativistas antiguerra - que organizaram manifestações com dois milhões de pessoas em 2003 e passaram a odiar Blair! - e ao mundo sindical para expurgar a direção do Partido dos seus elementos mais conservadores. A maioria dos deputados na Câmara dos Comuns passou a a representar a face mais conservadora e minoritária do trabalhismo atual.
Agora, segundo o jornalista Alex Nunns, “para ter êxito, Corbyn vai ter de transformar o Labour numa força militante capaz de manter o incrível sobressalto coletivo que o propulsou para a liderança. Se a excitação gerada nestes últimos meses se propagar a outros setores da população e a aventura prosseguir o seu caminho, Corbyn tem todas as possibilidades de vir a ser bem sucedido”. E a juntar forças a António Costa...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A melhor das vitórias possíveis

1. O fim-de-semana já passou e, apesar dos apelos lacrimosos de marco antónio costa, nenhum negociador socialista estava à porta da sede da Rua Buenos Aires, quando ela entrou esta segunda-feira no seu horário de expediente.  Mas, é claro que as palavras do antigo nº 2 de luís filipe menezes em Gaia não eram para levar a sério: tratava-se tão só de manter viva uma chama já muito trémula e inevitavelmente condenada a apagar-se. Porque, como reconhece Rui Tavares, apesar da polarização do ambiente social e político nos últimos dias, já se nota que  “os argumentos contra uma governação ancorada à esquerda começam a escassear”.
Neste início de semana já é comummente aceite que cavaco silva comportou-se como  “o pirómano que ateia fogos incontroláveis”, com um discurso que, segundo Manuel Carvalho, “redundou num tão grande e grotesco desastre político”.
Ainda no «Público», donde tenho estado a recolher estas sucessivas citações, Correia de Campos constata: “Poucas vezes se viu o imediato impacto de uma peça política tão contrário ao que pretendia o emissor. Se não passámos a reconhecer o Doutor Cavaco como socialista militante, passámos a ver nele, ao menos, o grande aglutinador e o principal ator do processo político de união das esquerdas.”
Esse virar do feitiço contra o feiticeiro terá sido uma completa surpresa para cavaco e seus conselheiros, já que, de uma assentada, conseguiu consolidar uniões à esquerda, ainda por cimentar, e causar incómodo nos setores próximos dos seus. Quando marcelo rebelo de sousa, manuela ferreira leite, marques mendes ou o presidente da CIP se dissociaram do que disse, pouco mais lhe restará do que empossar António Costa como primeiro-ministro, mesmo que à custa de doses reforçadas de calmantes.
Poderemos, então, dedicar-nos às eleições que se seguem - as presidenciais -, infelizmente eclipsadas por todo este imbróglio em torno da vitória de Pirro, que a direita julgara inquestionável. Razão para que continue a contrariar, com fundamento, quantos ainda se atrevem em falar da “derrota” de António Costa.
Na realidade este é o melhor dos resultados, que poderia acontecer ao líder socialista: tivesse ganho com maioria relativa e estaria a contas com a dificuldade de garantir a não obstrução da coligação negativa do PEC IV ao seu governo. Assim pôde ocorrer o que já se julgava um mito sebastianista: a capacidade para toda a esquerda se conjugar num projeto comum. Com possibilidade dessa capacidade de trabalho político entre os quatro partidos em causa resultar num projeto duradouro e assaz vantajoso para a maioria dos portugueses.
2. É claro que Angola está a ser um caso muito difícil de gerir, sobretudo agora que a greve da fome de Luaty Beirão pôs à prova as relações de força entre a enfraquecida ditadura angolana e o ainda servil governo português.
O que espanta em José Eduardo dos Santos é nada aprender com a História de outros regimes como o seu: cleptocracias que nem as aparências democráticas conseguem escamotear a sua verdadeira natureza. Todos os exemplos da História recente acabaram mal, quer para os seus protagonistas, quer para quem com eles retirava benefício.
É claro que os muitos milhares de portugueses emigrados em Angola são peso significativo num dos pratos da balança, mas perante tantos sinais da degenerescência do regime, a atitude mais avisada terá sido a de António Costa, cuja carta ao MPLA propunha a mediação para um exacerbado conflito que só ganha com a concertação entre o regime e os seus opositores.

domingo, 25 de outubro de 2015

A Rainha de Copas e as angústias existenciais da direita

Não chego ao exagero de Daniel Oliveira, que confessou a súbita vontade de dar beijos a cavaco silva, quando lhe ouviu o discurso desta semana, mas se houve comentador capaz de criar uma imagem superlativa do significado dessa intervenção foi o insuspeito Pedro Santos Guerreiro, que lembrou a história de Alice no País das Maravilhas para, a partir dela, considerar que cavaco silva “é uma espécie de Rainha de Copas, que pensava em coisas impossíveis pelo menos meia hora por dia. E que às vezes conseguia acreditar em seis delas antes do pequeno-almoço.”
Ficámos, assim, com uma direita definitivamente convencida do inevitável termo do seu projeto austericida para o país. À exceção de alguns estarolas da estirpe do “ historiador” rui ramos ou do mentecapto nuno melo, foi difícil encontrar quem, mesmo no seu seio, conseguisse mostrar entusiasmo pelas palavras do ainda presidente.
Coloca-se, agora, a questão da duração ou não do governo de gestão, que passos coelho liderará enquanto não vier de Belém a indigitação de António Costa. Se, como alguns aventam, cavaco silva preferirá o caos financeiro a ter de empossar um governo de esquerda, poderá encontrar oposição no próprio partido. É que, segundo a normalmente bem informada Luísa Meireles, na rua Buenos Aires há quem tema tal “solução”: “Um governo de gestão prolongado no tempo - um verdadeiro cenário de terror para alguns, já que será ter o ónus sem ter os instrumentos da governação.”
Mas existe, igualmente, a noção de já sobrar quem faça contas sobre a durabilidade da coligação da direita. Outros dois jornalistas do “Expresso”, Ângela Silva e Filipe Santos Costa, garantem-lhe existência enquanto perdurar a ilusão de um estampanço de António Costa: “Se cheirar a poder, a coligação não se desfaz. E “cheira” a maioria absoluta. Se, ao contrário, um governo de esquerda se aguentar, não é líquido que PSD e CDS resistam à prova do tempo.”
Um conselheiro de paulo portas é lapidar quanto a essa durabilidade: “Até um ano aguenta-se. Mais do que isso torna-se desgastante.
Como aqui tenho dito, se António Costa confirmar a habilidade em fazer consensos, tornando sustentável a expressão governativa da maioria das esquerdas, podemos estar no início de um ciclo histórico em que a direita poderá mostrar o que significa um processo político de autofagia.


O Acordo que virá e os maçons que estão a ir

1. A direita e os comentadores que a apoiam têm sido férteis em salientar o seu desconhecimento a respeito do conteúdo do acordo entre o PS, o BE, o PCP e os Verdes.
Mas até alguém, agora tão agastado observador da conjuntura - Miguel de Sousa Tavares -, já o percebeu: depois de ter apresentado o seu programa macroeconómico no verão, muito antes da campanha eleitoral propriamente dita, António Costa viu-o, não só intensamente escrutinado, como, sobretudo, deturpado em muitos dos seus pressupostos.
O resultado foi negativo: em vez dos portugueses se confrontarem com o balanço dos quatro anos de (des)governação, que prometiam vir a ser iguais acaso houvesse vitória do PàF, andaram a ser enganados sobre as propostas do PS, continuamente atacadas à esquerda e à direita numa permanente e eficaz operação de desgaste.
Agora os que levaram por diante a mesma insidiosa campanha muito desejariam repeti-la: surgissem já à luz do dia os conteúdos do Acordo entre as quatro formações partidárias da esquerda parlamentar e não se voltaria a falar do programa com que passos coelho se irá proximamente sujeitar às moções de rejeição.
Está, pois, aprendida a lição: o Acordo só poderá vir à luz do dia, quando pedro, “o breve”,  vir confirmada a verdadeira essência da sua retumbante «vitória» eleitoral.
Depois, haverá tempo para que o programa do governo liderado por António Costa seja conhecido e aprovado pela maioria parlamentar…
2. Embora nunca tenha sido dado a grande interesse pelos fenómenos da transcendência, olhei para a Maçonaria com simpatia durante muitos anos.
Muitos dos mais brilhantes artistas dos séculos mais recentes não tinham sido maçóns? Não estivera a associação na origem de algumas das mais significativas Revoluções europeias e americanas?
É verdade que assim foi no passado. Mas, nos anos mais recentes, essas associações clandestinas foram tomadas de assalto por gente  arrivista, mais interessada em servir-se a si mesma do que em desenvolver esforços filantrópicos em prol dos seus concidadãos.
Quando sabemos que a Maçonaria agrega agora nomes como luís montenegro, isaltino morais, miguel relvas ou moita flores, ficamos identificados com a natureza ética nela existente. Daí que faça todo o sentido a denúncia feita por Pacheco Pereira no «Diário de Notícias«, que constata haver uma parte significativa de dirigentes do PSD integrados em lojas maçónicas. E “essa maçonaria funciona muito com ligação à maçonaria dos interesses, àquela que mais do que uma tradição filosófica é uma rede de interesses e de organização do poder."
Tudo ainda mais faz sentido, quando sabemos que Carlos Zorrinho e Jorge Coelho também usam avental. Compreender-se-á, assim melhor, porque não se mostram nada entusiasmados com a viragem à esquerda do PS pelo que isso possa prejudicar os negócios dos seus clandestinos apaniguados...

As pertinentes acusações de José Sócrates

Confesso o meu pasmo, quando vi as televisões por cabo transmitirem em direto a conferência de José Sócrates sobre Política e a Justiça realizada em Vila Velha do Rodão. Qual o significado de tanta magnanimidade, quando qualquer dos canais em causa tinha ecoado muitas das “notícias” propaladas pelas publicações ligadas ao Grupo Cofina e a Álvaro Sobrinho e sopradas inevitavelmente por quem conduzia a Acusação?
Em primeiro lugar fiquei-me pela lógica do interesse mediático do acontecimento, que justificaria tal critério editorial.
São conhecidas as emoções exacerbadas relativamente ao antigo primeiro-ministro, pelo que a sua primeira intervenção pública depois da libertação só poderia causar um enorme interesse público traduzido em elevadas audiências televisivas.
Mas, porque não sou assim tão ingénuo, questionei-me se, quem quis fazer de José Sócrates um dos argumentos prioritários para levar eleitores desagradados com a direita a nela votarem em 4 de outubro, pretenderia agora reutilizar a mesma estratégia para obstaculizar a tomada de posse de um governo apoiado nas diversas forças de esquerda no Parlamento.
Numa altura em que são muitas as reações de repúdio pelo discurso de cavaco silva e pela manipulação a que os indicadores económicos e fiscais foram sujeitos nas semanas anteriores às eleições, nada melhor do que lançar uma nuvem de fumo capaz de os secundarizar na atenção coletiva.
É que se, como José Sócrates denunciara, o seu processo tinha claras motivações políticas e se destinavam a impedir a vitória do PS, quem concretizou tal estratégia com sucesso poderá voltar a querer repeti-la na esperança de ver receitas iguais repetirem os mesmos resultados.
Mas, se o ínvio objetivo de trazer novamente José Sócrates para as notícias diárias de abertura dos telejornais passava por esta divulgação, o tiro terá saído pela culatra. Porque a longa dissertação de José Sócrates sobre os abusos cometidos pelos agentes judiciais e as fortes alfinetadas a cavaco silva a propósito do discurso de quinta-feira, foram tão contundentes, que deverá ter posto muitos dos crédulos das fantasias divulgadas pela Acusação, a ficarem numa posição dubitativa.
Assusta um país, tal qual ele o descreve, onde a prepotência do ministério público e de alguns juízes ainda permite manter alguém preso sem acusação durante meses a fio. E que use de forma tão torpe uma imprensa alheada do código deontológico de quem nela escreve para criar inculpações na praça pública sem dar oportunidade de defesa do seu bom nome a quem é dela vítima.
Este momento culminante do fim-de-semana acabou por significar mais um sinal da viragem histórica, que estamos a assistir e justificativa da exaltante atenção com que vamos olhando para a sucessão dos acontecimentos. Após quatro anos de parêntesis nalgumas das principais regras democráticas, a nova maioria na Assembleia da República já as começou a implementar. Nomeadamente ao eleger Ferro Rodrigues como seu Presidente, rompendo com uma falsa tradição, que a direita pretenderia ver respeitada.
Alguém se lembrou de perguntar a razão porque essa mesma direita rompera, igualmente, com a tradição de nomear para a presidência da Caixa Geral de Depósitos um administrador oriundo do maior partido da oposição? Porque é que as tradições só devem ser respeitadas quando favorecem a direita e podem ser por ela rompidas quando favorecem a esquerda?
A direita está a começar a pagar os custos da forma totalitária como (des)governou Portugal nos quatro anos anteriores, jamais cuidando de lançar pontes de diálogo com o maior partido da Oposição.
Cá por mim esse pagamento irá prolongar-se duradouramente, como justo castigo para a falta de ética republicana, que ela tem demonstrado tão reiteradamente...