terça-feira, 13 de outubro de 2015

Será que eles ainda acreditam que ganharam?

Estamos num tempo de grandes mudanças. Por muito que os cultores da TINA (There is no alternative!) insistam na sua esgotada receita, a celebrada “vitória” da direita nas legislativas pode vir a converter-se numa derrota duradoura. Porque, se é do interesse do Partido Socialista conseguir tempo bastante para iniciar a implementação dos objetivos inseridos na Agenda para a Década quer comunistas, quer bloquistas terão igualmente vantagens em a ela se associarem por muito que transijam nalgumas das suas principais convicções.
Em primeiro lugar, porque não se acelerando a marcha da História segundo os seus desejos, será muito diferente a aplicação de um programa reformista, capaz de reverter muitos dos recuos sociais e de reduzir as obscenas desigualdades cavadas nos últimos quatro anos. Em contraponto a continuidade das políticas de direita significaria sério prejuízo para os eleitores, que neles confiaram.
Depois, não é de somenos argumentar com a constatação cínica de que, tendo conseguido votações maximizadas no dia 4 de outubro, também as correspondentes subvenções anuais aos partidos políticos facultar-lhes-ão verbas bastantes para consolidarem as respetivas organizações. Recorde-se que o Bloco, ao perder metade do grupo parlamentar logo após o seu chumbo do PREC IV, entrou em tal crise (inclusive financeira), que se chegou a aventar a possibilidade de pura e simplesmente desaparecer…
António Costa tem, assim, garantidas condições de fiabilidade dos seus parceiros para os próximos quatro anos. E a desesperada argumentação de Álvaro Beleza numa entrevista à RTP3 só denuncia precisamente o maior receio dos seguristas: que a viragem à esquerda do PS, em concordância com uma grande maioria dos que nele votaram, torne possível aquilo que gostariam de travar para melhor servirem os seus aliados de direita. A exemplo do sucedido no Partido Trabalhista inglês, os “sociais-liberais” tenderão a converter-se numa “tendênciazinha”.
Mas convirá a António Costa seguir, por uma única vez, o preceito segurista de não ter pressa. Porque as más notícias relacionadas com a desgovernação de passos & Cª já se fazem sentir com mais despedimentos anunciados na Unicer e com a inflação em setembro a galopar 0,9%.
Todas as revelações desse teor adiadas para depois das eleições tendem a lembrar um balão demasiado cheio, que acabará por rebentar no muito curto prazo. Daí a pressa de passos & portas em formarem governo antes que mais despedimentos e recuos nas exportações os denunciem como os mentirosos e manipuladores, que são.
Compreende-se, igualmente, e dentro da mesma lógica, o matraqueamento  de muitos dos comentadores televisivos, que procuram negar a possibilidade de um governo com o PCP e com o Bloco ao qualificarem-nos de extremistas. Na realidade foi a governação da direita nestes quatro anos a merecer essa caracterização. Porque se uns o são em teoria, passos & portas demonstraram-no na prática quotidiana de tirar rendimento aos mais desfavorecidos para encherem os bolsos aos ricos e em destruírem tudo quanto lhes cheirasse a Estado social para favorecer os interesses privados...

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