quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A Europa do nosso descontentamento

«A terapia de choque exige opacidade« é o título de um artigo de Philippe Lamberts na edição do «Le Monde Diplomatique» de outubro.
O autor, eurodeputado do Grupo dos Verdes no Parlamento Europeu, retoma o tema da rendição de Tsipras ao ultimato com que se viu confrontado, e clarificado com o «acordo» de 13 de julho.
Para Lamberts esse acordo “inscreve-se no absurdo económico e financeiro dos dois planos anteriores que, longe de trazerem uma solução para os problemas que supostamente resolveriam, os agravaram.”
Em vez de recuperar, a economia grega está condenada a colapsar perante o insustentável fardo da dívida, cujo pagamento é mais do que improvável.
Se os dois planos anteriores tinham suscitado absurdo económico e injustiça social, este terceiro acelera o movimento na mesma direção.
E, no entanto, em fevereiro de 2012, pouco antes de ser aprovado o segundo plano de assistência, o governo grego propôs-se fazer um corte de 325 milhões de euros no orçamento da Defesa.  O que fez a troika? Recusou essa opção e mandou cortar nas pensões de reforma. O ministro das Finanças de então foi forçado a assumir essa política, muito embora dela discordasse, mas quem não pretendeu ficar com o ónus de tal decisão foi a troika, disposta a salvar as aparências…
Escreve Lamberts: “No essencial, a opacidade do processo, e a distância a que as instâncias democráticas são mantidas, permitem que escolhas políticas sejam impostas por funcionários, por ortodoxia neoliberal - na qual se inscreve a esmagadora maioria deles - ou por vontade de proteger interesses particulares: por exemplo os dos mais ricos contribuintes gregos, os das forças armadas helénicas e, como é evidente, os dos seus fornecedores franceses, alemães, americanos, etc.”
O que o “Acordo” de 13 de julho reflete é uma lógica colonial da troika sobre quem exerce os seus ditames. É muito explicita a obrigatoriedade de o governo de Tsipras apresentar previamente as medidas, que pensa aprovar no parlamento, de forma  a só avançar com elas quando as instituições de tutela derem o seu assentimento.
“Explicita-se, portanto, que a soberania democrática dos eleitos gregos está limitada pela das instituições que têm quanto muito uma legitimidade democrática formal, não real.”
Quatro meses passados  sobre a rendição grega ninguém consegue negar a intenção de se ter querido humilhar um governo eleito de uma forma brutal como forma de avisar quem possa vir a pretender assumir-se como alternativa ao “pensamento único”.
Denunciando o espezinhamento dos valores democráticos na União Europeia, Lamberts conclui: “no cenáculo dos chefes de Estado e de governo europeus, trata-se Orban com deferência e esmaga-se Tsipras”. 

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