domingo, 27 de dezembro de 2015

Uma revolução mais do que aparente

«Porque se pode acabar com tudo menos com os bancos?» é a pergunta que Pacheco Pereira formula no «Público» de ontem, onde manifesta discordância com a solução encontrada para o Banif, mas reconhece a dificuldade de António Costa conseguir impor a Bruxelas a que melhor serviria os interesses nacionais - a integração na Caixa Geral de Depósitos.
Tudo quanto aconteceu com o Banco madeirense é a eloquente demonstração dos efeitos de se ter feito “ascender ao poder uma mistura de ideólogos radicais de direita, de aparelhos partidários de grande incompetência e que nada sabem do seu país, de gente medíocre que se tornou salvífica pelo serviço que prestaram a interesses particulares presentes na economia”.
O espanto que nos pode tomar só se deve ao facto de serem já tantas as demonstrações de incompetência, senão mesmo de dolo por negligência ou por corrupção da vasta corte de passos coelho nos quatro anos de poder, que não se compreende o apoio por ele ainda conservado, se nos ativermos aos indicadores dados pelas sondagens.
Para já sabe-se que a suposta panaceia, que evitaria a repetição dos custos para o contribuinte suscitados pelo caso BPN - o tão aclamado Fundo de Resolução! - esvaziou-se ao primeiro percalço. Hoje, os demais bancos do sistema financeiro não estão dispostos ou não têm capacidade para suportar os custos da falência de um “irmão” seu.
No artigo aqui referenciado, Pacheco Pereira estabelece uma linha vermelha sensata para distinguir o que deverá permanecer no setor público e o que admite ser privatizado: “Não sou contra as privatizações, mas há interesses nacionais que só o carácter público garante, até porque para uma empresa privada não são rentáveis e esse mesmo critério não existe numa empresa pública. Sim, os contribuintes pagam para haver bancos portugueses na Venezuela, para haver voos para a Guiné-Bissau, como pagam o Instituto Camões e a RTP África, porque se considera que o “superior interesse nacional” assim o exige e o Estado não é uma empresa”.
A conclusão do texto  é um apelo aos mais liberais, que teimam em manter-se cristalizados nas suas certezas mesmo quando elas são totalmente cilindradas pela realidade: “É que para sairmos desta lama que nos tolhe temos que pensar diferente, falar diferente, e fazer diferente. Nem que seja pouco diferente, visto que, como isto está, basta um pouco de diferença para parecer uma revolução. Por isso, ó ideólogos, valia a pena ser mais economicamente liberal com os bancos e menos com as pessoas, mas isso hoje parece radicalismo”.
Ao contrário do antigo dirigente do PSD não me conformarei com pequenas diferenças em relação ao passado. A revolução do tempo novo anunciado por este atual governo, deverá traduzir-se em  mais do que aparências: a  perceção dos cidadãos de terem mais dinheiro nos bolsos e melhores serviços públicos para corresponderem ás suas necessidades serão determinantes para perspetivar um projeto duradouro de transformação, que estigmatize definitivamente o passado representado pelo PSD e pelo CDS.

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