quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O sentido que a História toma

Uma das leituras, que faço da campanha singular de Donald Trump não é a de vermos a América derivar para a extrema-direita, mas a demonstração da fragilidade progressiva dos setores mais conservadores, traduzida na busca desesperada de uma boia antes de se afogarem.
A agenda da direita norte-americana está a ser derrotada em todos os terrenos possíveis: nas alterações climáticas é a realidade a desmenti-la todos os dias; na igualdade de géneros e na possibilidade de reconhecimento dos direitos das minorias é o próprio Supremo Tribunal a traduzi-las em lei; na ânsia belicista de rentabilizar a máquina de guerra em todos os continentes é a mudança significativa dos paradigmas nos vários continentes a desarmá-la. Sem argumentos sérios a que se agarrar a direita radicaliza-se no «Tea Party» e facilita, e de que maneira, a eleição de Hillary Clinton.
É claro que a antiga secretária de Estado não é propriamente uma política de esquerda, mas poderá, por linhas tortas, conseguir o mesmo que Barack Obama: uma revolução tranquila, que limite a pulsão imperialista do Pentágono e consolide a aposta feita na saúde, no conhecimento e nas energias renováveis. Todas elas são áreas onde a esquerda europeia encontra linhas de convergência para a sua própria afirmação política.
É que, por muito que os republicanos norte-americanos e a direita europeia o tentem negar, a História não para e está a deixar para trás muitos dos seus dogmas. Como o reconheceu Obama no último discurso sobre o estado da União: “Vivemos tempos de extraordinárias mudanças, que estão a mudar a forma como vivemos, como trabalhamos, o nosso planeta e o nosso lugar no mundo. São mudanças que podem alargar as nossas oportunidades, mas também propagar as desigualdades
Mestre da palavra, Obama sintetiza bem o que qualquer socialista pensa: neste tempo novo o maior desafio é promover o crescimento económico reduzindo as desigualdades, que atingiram abismos obscenos nos últimos anos. E a solução assenta em mais e melhor democracia:  “O futuro que queremos — oportunidade e segurança para as nossas famílias; uma melhor qualidade de vida e um planeta mais pacífico e sustentável para os nossos filhos — está ao nosso alcance. Mas só acontecerá se trabalharmos juntos, se tivermos debates construtivos e racionais. Isso não quer dizer que temos de concordar. Podemos discordar. Mas a democracia exige laços de confiança entre os cidadãos, e deixa de funcionar se as pessoas sentirem que as suas vozes não são ouvidas”.
Este imperativo de ouvir todas as vozes, de concertar divergências e direcioná-las no sentido de uma sociedade mais justa é o que melhor define a Agenda da Década aprovada pelo PS de António Costa e a visão do tempo novo enunciada por Sampaio da Nóvoa. Tal como nos Estados Unidos, e por todo o restante planeta, há uma evolução anunciada por múltiplos sinais políticos, económicos e científicos.
Nos que fazem política em Portugal são eles os que estão mais identificados com essas mudanças. E é por isso que merecem todo o nosso apoio. Sob pena de voltarmos as costas à tumultuosa corrente da História... 

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