quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Uma bomba que é uma não notícia

Eu bem sei que, às vezes, os nossos piores receios se confirmam. E os atentados que, há um ano, mataram Charb e os demais caricaturistas do Charlie Hebdo bem o demonstram. Mas toda a histeria em torno da suposta Bomba H, que a Coreia do Norte teria feito explodir é daquelas não notícias, que servem múltiplos propósitos - vide o aproveitamento dos republicanos norte-americanos para atacarem Obama e Hillary! - mas escamoteiam o essencial.

A quatro meses do Congresso do seu partido Kim Jong-un deve sentir-se muito fragilizado para que precise de lançar uma tal operação de propaganda. Em qualquer latitude a regra é a mesma: quando um líder sente os pés a deslizarem por debaixo do tapete, que o tende a desequilibrar, o melhor é acenar com a ameaça externa. Não será improvável que ouçamos notícias surpreendentes, vindas de Pyongyang nos próximos meses, até porque, dias atrás, um dos principais chefes militares, apoiante do jovem presidente, sofreu um daqueles acidentes rodoviários fatais, tão frequentes nesse país onde o trânsito é quase inexistente.

Kim Jong-un já fez demasiados inimigos interiores para que se sinta tranquilo no seu exercício brutal do poder. E esta história da falsa bomba é mais um fait divers, que muito esclarece sobre a possibilidade de uma mudança de paradigma naquela região.

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