segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A desinformação ostensiva da generalidade da imprensa

Furar o cerco desinformativo, que a comunicação social anda a estabelecer em torno da ação governativa, explica porque António Costa começou agora a explicar o Orçamento aos portugueses através de pequenos filmes a disseminar o mais possível pelas redes sociais.
É que tem sido tanta a mentira sobre o que o governo faz e a deturpação de tudo quanto diz, que importa arranjar formas alternativas de dar aos cidadãos o efetivo direito a serem corretamente informados.
Comecemos, por exemplo, pela entrevista dada este fim-de-semana ao «Expresso» em que muito naturalmente António Costa disse aos entrevistadores: “Não é a solidez do Governo que está em causa, mas numa democracia o compromisso e o diálogo são importantes e não queremos, nem pretendemos excluir ninguém desse diálogo.”
O que fez a SIC durante todo o sábado? Andou a vender a ideia de que António Costa quase suplicara ao PSD para que comece a dialogar com o PS. Logo às 13 horas um dos autores da peça jornalística, Bernardo Ferrão, cuja ascensão meteórica parece ter a ver com a fidelidade canina à direita, lançou a caluniosa interpretação de ter encontrado um primeiro-ministro muito fragilizado, mais tarde ou mais cedo condenado a orçamentos retificativos e por isso ansioso por uma mãozinha dos que tinham “ganho” as eleições, mas perdido o poder.
Pelo sim, pelo não, li com redobrada atenção a entrevista em causa e, em nenhum momento se deteta um primeiro-ministro menos calmo do que costuma parecer. Pelo contrário, sempre que intervém em público, António Costa ostenta uma confiança invejável, decerto de acordo com a determinação com que pretende ver concretizada a sua visão de futuro para o país.
Na mesma entrevista António Costa volta a criticar implicitamente as leituras de Álvaro Beleza, Francisco Assis e outros críticos internos ao constatar que “o PS não perdeu as eleições para o centro, mas porque parte dos eleitores se reviu nas propostas apresentadas pelos partidos à esquerda.”
As suas palavras refletem uma interpretação do Tempo Novo, que tende a encostar a direita à defesa cega de paradigmas tornados obsoletos pela realidade - o primado da gestão privada sobre a praticada no setor público, a acentuação das desigualdades, o favorecimento de interesses crapulosos a título de facilitação de investimentos, etc. - e a defender a progressiva consolidação de uma esquerda sociologicamente maioritária e sem tibiezas em afirmá-la no terreno da política.
Quem sabe se não começa no nosso cantinho ocidental, a regeneração urgente da esquerda europeia?
Apesar de tudo, a imprensa a soldo dos derrotados da noite de 4 de outubro não pode evitar a divulgação de alguns factos eloquentes. Assim, do mesmo «Expresso», retiramos apenas dois dados que falam por si:
- o rendimento declarado por Miguel Relvas em 2014, decorrente da sua atividade de «consultor», superou o meio milhão de euros;~
- o contrato estabelecido entre Carlos Costa e Sérgio Monteiro para que este cuide da venda do Novo Banco com a mesma «habilidade» com que vendeu tantas empresas nos últimos quatro anos, prevê um pagamento de 304 mil euros.
Porque será que estas duas notícias não abrem os telejornais?

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