quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A mesma luta que une António Costa ao Papa Francisco

Há dias o Daniel Oliveira dizia sentir uma simpatia cada vez maior pelo Papa Francisco. Algo que, como ateu confesso, partilho. Até por ver na sua ação uma singular semelhança com o nosso atual primeiro-ministro. É que ambos lideram organizações extremamente conservadoras, que enfrentam o desafio de se adaptarem aos Tempos Novos.
Comecemos pelo líder do Estado do Vaticano. Ainda o fumo branco estava a desvanecer-se nos céus romanos e já ele dava sinais de querer mudar a forma e a substância das coisas relacionadas com a Igreja Católica.
Se não se lhe conhecera anteriormente uma atividade particularmente mediática a respeito de uma Visão do clero em rutura com os seus usos e costumes, cedo se compreendeu a identificação com uma grande maioria de católicos incomodados com as sucessivas e absurdas profissões de fé em prol de causas absurdas como a contraceção ou o reconhecimento dos direitos das minorias.
Francisco terá percebido que, ou a Igreja Católica muda, ou o número de crentes diminuirá irreversivelmente, quer para outros cultos, quer, sobretudo, para o agnosticismo.
Mas se a cúpula já percebeu a urgência em mudar - o que se comprova na enorme simpatia de que goza por todo o mundo católico! - o mesmo não se passa nos que supostamente lidera. Basta olharmos para as declarações do atual Patriarca de Lisboa e das Conferências Episcopais para nelas detetar o incómodo de verem um comboio a passar pela estação sem quase lhes dar tempo para nele entrarem.
Para Francisco a questão colocar-se-á nestes termos: ou a carruagem avança suficientemente depressa para apanhar os muitos católicos que a esperam na próxima estação ou espera pelos que estão atrasados com o horário e, quando lá chegar, já só outros retardatários quererão entrar. E é o esvaziamento da Igreja Católica, que se verificará.
Mudando de agulhas para a carruagem socialista, o primeiro momento em que a letargia nele sentida - e que o tendia a estiolar!, - se viu sacudida por um sobressalto digno desse nome, foi quando António Costa se disse disponível para liderar o Partido.
O processo das Primárias veio demonstrar o que se adivinhava: contra a linha seguida nos anos anteriores, os simpatizantes e eleitores socialistas exigiam uma viragem bem mais à esquerda do que pressentiam na sua liderança.
O entusiasmo com que António Costa se viu guindado a líder socialista teve a ver com a promessa de um Tempo Novo.
Inconformado com a lógica do «arco da governação» e rejeitando uma linha ideológica assente em fazer o mesmo tipo de políticas que a direita, apenas mitigada por uma maior sensibilidade social, o PS direcionava-se para os resultados entretanto obtidos pelo PASOK grego, e os previsíveis para o PS francês e para o SPD alemão depois dos atuais mandatos que nada os têm distinguido do que, em seu lugar, fariam respetivamente a direita sarkozista ou os liberais do FDP.
Seguro, então, e agora Assis, Beleza e alguns mais, execram a atual solução governativa, teimando nessa tese obsoleta, segundo a qual as eleições são ganhas ao centro.
Seria assim se os anos mais recentes não tivessem radicalizado a direita para um extremismo, que tornaria tal solução uma mera ocupação de terreno político sem cuidar em dar respostas credíveis a um número crescente de eleitores atraídos por partidos mais coloridos, quer à esquerda (o Syriza, o Podemos, o Bloco de Esquerda) ou à direita (a Frente Nacional lepenista em França ou o UKIP inglês). Ainda que, no caso britânico, a eleição de Jeremy Corbyn para a liderança trabalhista prenuncie uma viragem à esquerda dos partidos socialistas europeus, que apostem em não definhar.
O problema para António Costa é que, se o eleitorado socialista está com ele - como o demonstram todas as sondagens, que dão o PS como sendo novamente o Partido mais votado! - os militantes ainda continuam presos aos antigos métodos em que imperam as vontades dos caciques locais.
Explica-se assim, que nas eleições para as Federações - que se realizarão na primeira semana de março - surjam pelo país muitas listas claramente conotadas com o Tempo Velho, aquele que os eleitores socialistas já declararam ultrapassado nas Primárias e tornaram moribundo com o resultado embaraçoso de Maria de Belém.
A exemplo dos agonizantes, que apresentam um ilusório alento antes de expirarem, os seguristas - com ou sem o seu cabeça de cartaz - aproveitam a oportunidade para aparentarem um recobro com as suas listas.
Aqui em Setúbal a Lista A é constituída e apoiada por quem nunca se responsabilizou pelas sucessivas derrotas a que levou o Partido nas eleições autárquicas. Incompetentes por natureza, não desistem de repetir sucessivamente a receita com que sempre foram arrasados, mesmo causando danos imperdoáveis ao Partido.
Lá chegará o momento em que, de uma forma ou de outra, se compreenderá não ser no Partido Socialista do Tempo Novo anunciado por António Costa, que eles têm lugar! 

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