sábado, 6 de fevereiro de 2016

As políticas de António Costa e os abstencionistas

Ontem à noite estive numa tertúlia de amigos, que discutiram o atual momento político após a maioria ter participado ativamente na campanha presidencial do Prof. Sampaio da Nóvoa. Um deles, um dos Fernandos presentes, questionava-se e questionava-nos sobre a forma de superar a evidência de haver uma grande maioria de cidadãos, não só alheados da política, mas alimentando dela uma ideia profundamente negativa.
Três acontecimentos do dia (dois deles já conhecidos e o terceiro só noticiado depois) - a aprovação do Orçamento em Bruxelas, o porte de António Costa ao lado de Angela Merkel em Berlim e o acordo na TAP - fundamentaram-me a tese: o interesse dos cidadãos pela política crescerá se os seus agentes ganharem a almejada credibilidade. Ora a grande “herança” dada pelo cavaquismo e pelo passismo ao longo dos excessivos anos, que perduraram como sinónimo de poder, foi a da mentira constante sob a capa da ilusória «novilíngua» e a do recurso ignóbil ao que de pior pode ter a «arte de ser português» - o egoísmo, a inveja, a mesquinhez…
Quem poderá esquecer a sanha contra os funcionários públicos, que só teriam direitos sem cumprirem deveres ou a guerra anunciada contra a «peste grisalha»?
Os povos refletem mimeticamente o que veem nos seus líderes: deem-lhes presidentes e primeiros-ministros com enormes defeitos e escassas virtudes, e é vê-los acomodarem-se aos seus piores instintos. Mas, pelo contrário, ganhem como modelo dirigentes grandiosos e ei-los, eles próprios, a replicarem essa magnificência sob a capa de maior participação cívica e atos de generosidade incomensuráveis.
É por isso mesmo que o combate de Sampaio da Nóvoa dificilmente conduziria ao sucesso: com a comunicação social a boicotá-lo, com o tempo de antena dominical de Marcelo durante tantos anos, com as legislativas a quase prolongarem-se, nos seus efeitos, até às presidenciais, tudo conjugava-se em seu desfavor. Mas quer o candidato, quer os seus milhares de apoiantes não se renderam e decidiram arriscar. Até porque o Professor Sampaio da Nóvoa é uma personalidade que o país só perde em tê-lo preterido em favor de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas como contrariar esse imaginário coletivo, que, reproduzindo tal cavaquismo e passismo, se desinteressou ou passou a detestar a política, preferindo a notoriedade à efetiva substância dos candidatos entre os quais tinha de optar?
Os tais três acontecimentos do dia vão no sentido de devolver à política a sua grandeza. Porque, desde a vitória nas Primárias de Setembro de 2014, António Costa sempre disse o que faria ao chegar a primeiro-ministro: que existiria alternativa à política austeritária tida como incontornável; que a Europa não podia dividir-se entre países de primeira classe e outros de segunda, por ser isso contrário ao espírito dos fundadores da União Europeia. E que devido à sua condição estratégica, a TAP deveria permanecer no setor público da Economia. Sem esquecer que sempre contestou o «arco da governação», prenunciando a convergência das esquerdas, que possibilitam esta nova governação.
Nesta linha, os cidadãos, ao constatarem tais mudanças de paradigma sintetizadas no compromisso “palavra dada é palavra honrada”, com as decisões políticas em total consonância com o que, previamente, se prometeu, terão a tendência para voltarem a atentar nas notícias e, quiçá, a predisporem-se ao exercício ativo na sua militância.
Quando vimos António Costa numa postura firme ao lado de Angela Merkel, tratando-a como igual, quantos não terão sentido o orgulho por mim sentido por já não contar com um primeiro-ministro para ela curvado em pose indigna de mera subserviência?
Quero acreditar que muitos dos tais indiferentes terão sentido algo de singular a abalá-los nas disparatadas convicções e até me atrevo a imaginar uns quantos eleitores laranja a enrubescerem ligeiramente o rosto de vergonha. 

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