sábado, 20 de fevereiro de 2016

Eles sentem-se asfixiados?

Não deixa de ser curiosa a concomitância da recuperação da charla da «asfixia democrática» com a notícia do iminente julgamento de Ana Nicolau, ativista dos Precários Inflexíveis, acusada de ter integrado uma manifestação de protesto nas galerias da Assembleia da República contra um primeiro-ministro de que se descobrira, então, a conduta vergonhosa perante a Segurança Social a quem sonegara os devidos descontos.
Se podemos questionar se existe legitimidade para aquele tipo de ação de agit-prop no sítio em causa, a verdade é que essa atitude não se equipara em gravidade com o comportamento desonesto de quem deveria apresentar um currículo irrepreensível. Por isso a decisão de levar Ana Nicolau a julgamento (porquê ela e não qualquer outro que a secundou em tal protesto?) mais não corresponde do que à estratégia intimidatória de uma direita, ciosa de criar «exemplos» de retaliação cirúrgica contra quem a contesta. Mas a empáfia agora ressuscitada por Montenegro e Passos Coelho tem contornos grotescos, quando nos recordamos do terrorismo verbal alimentado pela direita e seus cães-de-fila nas várias televisões contra os juízes do Tribunal Constitucional, quando esse órgão de soberania foi o único a conseguir impor um travão no quero, posso e mando de quem se arrogava do direito de ser dono disto tudo ao ponto de privatizar e concessionar muito para além do que impunham os limites legais e nomear os seus para todos os cargos disponíveis e, mesmo para os que não estando, iam sendo para tal inventados. Ademais, se a Democracia pressupõe Cultura e Conhecimento, que dizer da autêntica asfixia causada nestes últimos quatro anos a quem se soube com talento bastante para fazer da arte e da investigação científica a sua profissão? Se não evocasse tanta tragédia advinda da sua pretérita ação, este tipo de discurso trapaceiro até nos poderia sugestionar algum riso de escárnio. Assim só nos pode suscitar repulsa.

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