domingo, 14 de fevereiro de 2016

O Tempo Novo do outro lado do Atlântico

Se as eleições norteamericanas não têm para nós tanta importância quanto as portuguesas, influenciar-nos-ão no futuro de uma forma, que não nos podem deixar indiferentes. Por isso, execrando todos os republicanos, todos eles detestáveis, foco a atenção no campo democrata e aí é evidente a preferência por Bernie Sanders em relação a Hillary Clinton.
Vivesse no outro lado do Atlântico e empenhar-me-ia nessa candidatura com o mesmo entusiasmo, que investi na de Sampaio da Nóvoa. Porque, mesmo muito diferentes, no percurso político, na retórica e no programa, ambos personificam o mesmo Tempo Novo, que se prefigura para os tempos mais próximos. E une-os, igualmente, a improbabilidade inicial em serem bem sucedidos perante tantos boicotes e constrangimentos - até os financeiros para levar por diante uma campanha efetivamente vencedora - mas ambos dispostos a ousarem a vitória e a trazerem para a ordem do dia os grandes valores da democracia, a começar pelo combate às desigualdades sociais.
O que se está a verificar por todo o mundo ocidental é o surgimento de novas correntes de pensamento à esquerda, que vêm dar resposta à paralisia ideológica das forças políticas socialistas e sociais-democratas desde que o muro de Berlim deixou pressupor, enganadoramente, o fim da História e da luta de classes. Condenados os comunistas a um crepúsculo de duração variável - curtíssimo nos antigos países de Leste e mais lento neste canto ocidental da Europa - a aspiração utópica, que tem norteado os povos nos últimos séculos, está em vias de encontrar um fio condutor em diversas latitudes.
O Syriza tentou-o na Grécia e foi derrotado. Mas, a posteriori, podemos perguntar se algum exército conta ganhar a guerra logo a partir da primeira batalha?
O Bloco de Esquerda já conseguiu integrar a maioria de apoio ao atual governo em Portugal e o Podemos está em vias de o conseguir em Espanha.
No Reino Unido Corbyn tornou-se no mais improvável dos putativos líderes trabalhistas e já começou a mudar seriamente a realidade política inglesa onde Cameron terá os dias contados tão-só se instale do outro lado da Mancha a ideia de a Europa não ser a efetiva culpada pelaa insatisfação coletiva, que ali cresce.
E, face a toda esta evolução, os históricos partidos socialistas e sociais-democratas dividem-se entre os que já compreenderam o fenómeno e dele se querem fazer parceiros com benefícios mútuos para os que chegam e para os que já há muito militam na esquerda com ambições de poder - e esse é o caso do PS de António Costa e do PSOE de Pedro Sanchez - e os que se aliam à direita ou dela imitam os programas e se apequenam. Este é o caso dos sociais-democratas alemães, dos socialistas franceses e, sobretudo, dos gregos já condenados à irrelevância grupuscular.
Bernie Sanders personifica esta nova esquerda emergente: a que se orgulha em ser socialista e em apontar o dedo aos verdadeiros culpados das misérias humanas hoje conhecidas. Essa Wall Street onde a ganância sugou os rendimentos dos mais pobres para que um número exíguo de privilegiados tenham transformado as Bolsas mundiais em salões de casino. E são esses plutocratas quem querem que tudo fique como está, quando a grande maioria aposta em que tudo mude.
Confio que a relação de forças nas próximas batalhas penda irreversivelmente para o lado dos que querem uma sociedade justa e igualitária como condiz com a matriz marxista incrustada no inconsciente coletivo das massas populares por muito que elas se deixem iludir por marcelos e trumps de ocasião.

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