segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Sinais de mudança na terra do Tio Sam

Eis-nos chegados ao primeiro dos muitos atos, que compõem a nomeação dos candidatos dos dois principais partidos norte-americanos para a disputa do próximo mandato na Casa Branca. Nos próximos meses iremos acompanhar as votações nos diversos Estados e ver clarificadas as opiniões sobre o estado de ânimo de uma nação há muito tempo em crise nos seus valores identitários.
Quem tenha acompanhado as notícias durante as últimas semanas imaginará que Donald Trump será um candidato quase insuperável no lado republicano e que, no outro campo, Hillary Clinton não passará por percalços na disputa com Bernie Sanders.
No entanto são visíveis alguns sinais de mudança, que afetam alguns dos estereótipos com que costumamos olhar para a realidade no país do tio Sam. Por um lado verifica-se uma surpreendente adesão aos candidatos, que se apresentam como excêntricos em relação aos preferidos pelo establishment dos respetivos partidos.
Há quem interprete a notoriedade de Trump e de Sanders como demonstração de uma sociedade extremada entre uma camada etária mais velha e ultraconservadora,  e os mais jovens, instruídos e laicos, insatisfeitos com a moralidade puritana  e com a ignorância ecológica.
Numa sondagem recente para o jornal “Des Moines Register” seis em cada dez eleitores republicanos diziam-se profundamente religiosos e quatro em cada dez democratas confessavam-se socialistas.
O «Tea Party» foi uma tragédia para os republicanos com o extremismo, que os afastou da Casa Branca durante estes dois mandatos de Obama, e agora se repete sob a forma de comédia trumpiana que, se bem sucedida, ameaça transformar a eleição de um democrata num simples passeio.
O problema é que Hillary Clinton está a contas com um aguerrido senador do Vermont, que tem um muito atrativo discurso contra Wall Street. E, num país tão ferozmente capitalista começa a ser significativo o ódio visceral, que os abutres da finança especulativa suscitam no resto da população.
Fosse norte-americano e, obviamente, o meu voto seria em Bernie Sanders. Mas admito que é cedo para que os seus valores tenham hipótese de prevalecer. Quando tal for possível será com um desses jovens universitários, que atualmente o apoiam e prosseguirão focados no mesmo objetivo.
Num país onde conta o (bom) aspeto dos candidatos, alguém do género do novo primeiro-ministro do Canadá e com o seu tipo de discurso tornar-se-á num candidato muito sério para a Casa Branca.
Com um exemplo tão óbvio na sua fronteira norte, os democratas americanos só têm de ir preparando um novo Sanders capaz de vencer Hillary quando ela lutar pela sua reeleição. Não para ganharem à primeira, mas para ganharem a visibilidade que Obama conseguiu, quando se fez bastante notado na Convenção do Partido Democrático, quatro anos antes de apostar com sucesso na sua própria nomeação.
Apesar do lado troglodita de muitos congressistas e senadores norte-americanos calculo que a maioria será declarada obsoleta,  substituindo-os por outros bem mais sintonizados com os valores do presente e do futuro. 

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