domingo, 28 de fevereiro de 2016

Três exemplos de falta de vergonha

Uma das principais mudanças culturais que o pass(ad)ismo veio implementar em Portugal foi a cultura da irresponsabilização.
Que importam as evidências em como o titular de um alto cargo público foi negligente, se não mesmo legítimo suspeito de atos ilícitos? Ou viu rejeitada toda a estratégia sob que assentava a sua permanência no cargo? Quando isso sucede o referido titular agarra-se como lapa à rocha ao seu lugar não querendo separar-se de todas as mordomias por ele garantidas.
O caso de Carlos Costa é lapidar: por uma questão de decência nem sequer deveria ter aceite que Passos Coelho o reconduzisse no Banco de Portugal tão danosos têm sido os efeitos da sua incompetência. E, no entanto, a entrevista ao «Expresso» demonstra a intenção em não retirar consequências da crítica generalizada de que se vê alvo.
O mesmo se passa com Joana Marques Vidal, sobre quem recaem suspeitas plausíveis de ter utilizado o cargo de Procuradora Geral da República para avalizar a campanha de assassinato político a José Sócrates alimentada a partir das manchetes de um pasquim em forma de jornal, e contra o qual tardam em surgir fundamentadas razões para duvidar da sua inocência. Tudo parece apontar para a instrumentalização do Ministério Público numa campanha para prejudicar seriamente o Partido Socialista na altura em que se perspetivavam as eleições legislativas.
É a mesma personalidade, que deveria retirar ilações óbvias da responsabilidade de liderar uma instituição onde um caso de corrupção tão escandaloso como o verificado com Orlando Figueira ter ocorrido sob a sua alçada e senão mesmo com a sua cumplicidade., porque, de outro modo, como explicar que, em 2012, tenha impedido o Conselho Superior do Ministério Público de inquirir esse mesmo procurador  sobre a entidade para quem estava a trabalhar.
A concluir, e dentro da mesma lógica de denodado esforço para se manter em funções apesar da condenação pública da tutela está o ainda presidente do CCB, António Lamas.
Desde a tomada de posse do governo, que ele teve a confirmação do dobre de finados sobre o seu projeto mastodôntico de associar diversas instituições culturais de Lisboa Ocidental, mesmo à revelia das opiniões da Câmara Municipal. A mais elementar decência deveria tê-lo levado a escrever a carta de demissão ou, no mínimo, a pôr o seu cargo á disposição do novo Governo.
Porque assim não o fez, ei-lo disposto a arvorar-se em vítima de saneamento político, quando está meramente em causa a sua falta de vergonha.
Esperemos que a governação de António Costa volte a criar uma atmosfera menos pantanosa retomando-se o salutar princípio de, perante o que corre mal, as culpas não morrerem solteiras. E que se crie uma abissal diferença ética entre a probidade socialista e a imoralidade da direita.

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