domingo, 8 de maio de 2016

Barroso, Passos e Trump: a mesma (falta de) cultura

Não sei se Clara Ferreira Alves terá razão quando defende que a nomeação de Donald Trump pelo Partido Republicano - e a sua provável derrota face ao candidato democrata! -, irá provocar um efeito transformador nas direitas europeias. Implicitamente ela quis dizer que será tempo de redefinição desse campo ideológico: ou retoma a seriedade do passado democrata-cristão ou, mesmo liberal, e terá algum futuro, ou cairá definitivamente nas derivas alucinadas dos austericidios dos últimos anos e terá de ser travada sob pena de nos empurrar para ditaduras distópicas.
Passos Coelho é apenas um exemplo desse tipo de políticos, que não teve o mínimo escrúpulo em levar por diante uma agenda extremista, que teve a devida correspondência na liderança de Durão Barroso na Comissão Europeia. Não deixa de ser por isso singular que ambos tenham estado nas notícias deste fim-de-semana por motivos, que os tornam duas faces quase idênticas da mesma moeda: o recurso à mentira e a presunção de terem estatuto que, efetivamente, não têm.
A mentira esteve nas palavras de Passos Coelho, quando quis eximir-se do convite para estar na cerimónia de abertura do Túnel do Marão, e em que seria naturalmente um personagem secundário num evento em que António Costa teria a primazia de cabeça-de-cartaz, invocando não ter estado em inaugurações durante o seu mandato como primeiro-ministro. Ora se até a memória mesmo curta dos portugueses lembrará a sua “inauguração” de uma escola há uns meses, quando já só era líder da Oposição, como quererá ele livrar-se da qualificação de mentiroso contumaz?
A mentira também esteve no discurso de Durão Barroso, quando apontou a Jorge Sampaio o apoio à Cimeira das Lajes, quando isso não se verificou como o próprio logo se apressou a desmentir!
Quando há quarenta e tal anos me cruzava com esse biltre nas aulas e corredores do Liceu de Almada não imaginava que a péssima ideia, que dele já tinha, ainda era demasiado complacente com a que viria a justificar no meu juízo futuro: se há indivíduo, que personifica o pior que o género humano tem enquanto defeitos, Durão Barroso consegue ser ainda pior do que Cavaco Silva, no arrivismo, no oportunismo e na malignidade de tudo quanto diz e faz. Passos Coelho ainda é, felizmente, um aprendiz de feiticeiro, que nunca ultrapassará a condição de utilizador da vassoura, por muito que a tenha usado para cortar rendimentos e direitos aos portugueses.
Mas referi a questão do estatuto: se Passos Coelho não foi a Trás-os-Montes por presumir muito corretamente, que seria mero figurante numa cerimónia focalizada em António Costa, e já agora muito merecidamente em José Sócrates, Durão Barroso teve a prosápia de se imaginar convidado com direito a assento na primeira fila em nome da sua lamentável passagem pela Comissão Europeia. É preciso ter lata! Não foi ele um dos promotores do discurso do despesismo dos portugueses e da necessidade de não se viver «acima das possibilidades»?
Nesses dois traços de carácter - a mentira e a presunção - Passos e Barroso mostraram-se fiéis seguidores de Trump. Que é tudo o que a vida política tem de evitar...

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