segunda-feira, 20 de junho de 2016

O que a realidade atirou às malvas

O Livre é um partido que me mereceu simpatia ao ser fundado por responder àquilo que, como militante socialista, não me andava a satisfazer: a persistência de um sectarismo anticomunista ainda radicado na violência de alguns confrontos verificados no verão de 75. A proposta de uma convergência das esquerdas num mesmo projeto era, e continua a ser, a resposta a uma radicalização da direita em modelos de governação, que já demonstraram na sua plenitude os efeitos devastadores em termos de justiça social.
Passada a certificação de óbito ao «arco da governação» e confirmada a sustentabilidade da «geringonça» não faria muito sentido prosseguir com esse projeto político, como aliás decidiram os promotores do Congresso das Alternativas, entretanto mobilizados para alinharem os seus contributos nos dos partidos da atual maioria governamental.
Não entende assim Rui Tavares e quem o continua  a acompanhar nesse projeto, que procura manter-se à tona com uma identidade assumidamente europeísta.
Ora, numa altura em que é o próprio ministro Augusto Santos Silva quem denuncia a vida negra quotidianamente criada ao governo pelos burocratas de Bruxelas e em que, ganhe ou não o sim ao Brexit, se esboroa a ideia de uma União Europeia fiel aos seus princípios fundadores, é esse europeísmo militante, que mais torna obsoleta tal formação política. Porque muito embora a vertente eurocética da atual coligação esteja já representada pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda, são muitos os militantes de base e os simpatizantes socialistas, que só toleram a insistência no projeto europeu porque a mobilidade de quem procura emprego e se pode deslocar livremente naquele espaço  ainda vai persistindo graças ao acordo de Schengen. Até por estar por provar a tese de António Costa em como a social-democracia e o socialismo só são exequíveis dentro da União Europeia. Essas ideias políticas são bem mais consistentes do que pressupõe o seu enquadramento dentro de um formato organizativo continental, que só tem tido por objetivo esmaga-las.

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