sábado, 9 de julho de 2016

Empáfias...

No Liceu de Almada, quando frequentávamos os dois últimos anos do ensino secundário, já tinha uma antipatia bem assumida por Durão Barroso. A sua postura esquiva, quase sempre colocando-se à margem do convívio com os colegas, denunciava-o como um individualista só preocupado com os seus interesses próprios.
Em certa altura uma das suas atitudes de falta de solidariedade para com o coletivo dos colegas tornou-se tão evidente que, nas cadeiras do café Repuxo, à Fonte Luminosa, passámos uma tarde a preparar-lhe uma espera para lhe dar justo corretivo. O facto de termos decidido poupá-lo a uns quantos sopapos não me inibe de pensar que perdemos uma boa oportunidade em lhe aplicar um justo corretivo, mesmo que por antecipação de todas as vilanias, que lhe viríamos a conhecer.
Nunca mais o vi nas proximidades, muito embora tivéssemos depois frequentado o mesmo cenáculo maoísta. Mas, entre os que o tinham conhecido no liceu, o espanto era genuíno: um tipo sempre conhecido por não se interessar senão por ele próprio ia agora «defender a classe operária»?
- Du jamais vu!
Nos anos seguintes fomos acompanhando as sucessivas fases para onde o ia guindando a sua natureza arrivista tramando todos quantos pudessem prejudicar-lhe a ambição e, quando isso já não chegava, tratando de estragar a vida a milhões de pessoas, entre iraquianos que ajudou a matar com a sua cumplicidade para com Bush, e os muitos europeus prejudicados não só pelas consequências dessa guerra, mas também por todas as decisões da Comissão Europeia durante os anos em que ele personificou a implementação da agenda neoliberal.
Se existisse um concurso sobre a personalidade mais odiada pelos portugueses nesta altura o sr. Schäuble teria boas hipóteses de sair vencedor, mas Durão Barroso poderia perfilar-se como adversário temível para o alemão.
É claro que a direita exultou com a nomeação de um cargo não executivo para a Goldman Sachs. Na mente muito pequenina dos nossos saudosistas do PàF isso significa uma distinção, que lhes enche a empáfia. Mas para quem conhece aquele banco até esta notícia tem de ser relativizada.
É que desde a altura em que cometeram a imprudência de contratar António Borges para um cargo executivo (mas atenção que ser vice-presidente na Goldman nada tem a ver com aquilo que a direita quis fazer crer, já que são centenas os assim designados chefes de departamentos só na City!), os donos da instituição têm redobrado de cuidados quando tratam de convidar as “estrelas cadentes” do firmamento direitista português.
Borges, a quem a condição de defunto não nos deve inibir de classificar como um vaidoso incompetente, foi daqueles que um par de anos depois de chegar à Fleet Street ao som de trombetas e gaitinhas, teve de procurar outro emprego. Ainda conseguiu enganar o FMI mas não tardou a sentir-se sem pedalada para a função, demitindo-se antes de ser demitido. Em má hora, porque Passos logo decidiu pagar-lhe 25 mil euros mensais para ajudá-lo na tarefa de privatizar empresas públicas rentáveis tornando-as ótimas oportunidades de negócio para os tais amigos com que andava a cultivar as afinidades eletivas.
Foi essa a razão porque com a «estrela» seguinte (José Luís «Asnô») o cuidado já incluiu só o ter como consultor. Ainda assim com estragos consideráveis pois dizem as más línguas, que os conselhos para compra de ações do GES pelo novo empregador resultou num prejuízo, que ainda está por resolver em tribunal. Com hipóteses significativas de não vir a ser recuperado.
Compreende-se, que deem a Barroso um cargo em que ele ganhará apetecido ordenado sem ter de fazer mais nada do que «passear o charme» de lobista. Que é a única razão porque interessa a Lloyd Blankfein e seus muchachos.  É que competências justificativas para chegar onde chegou nunca ninguém as vislumbrou, se excetuarmos as da habilidade arrivista com que sempre se conseguiu vender como o «génio», que nunca foi…
Resta-nos uma consolação: com Portas e Barroso arrumados, quem restará à direita para apresentar à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa?

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