terça-feira, 26 de julho de 2016

Nervosismos justificados

Os telejornais dos diversos canais andam a ser muito interessantes de seguir por quanto de reveladoras têm sido as atitudes dos seus intervenientes.
Comecemos por Marques Mendes e os seus minutos de intriga e delação ao domingo à noite na SIC. Tomando os comunistas por tolos ele quis utilizar o velho recurso do dividir para reinar, fomentando a ideia de que António Costa teria grande vantagem em provocar uma crise até ao fim do ano para tornar possível um novo governo em coligação com o Bloco, e marginalizando definitivamente o PCP.
É óbvio que o opinador sabe que nenhum eleitor perdoará a quem provocar uma crise política pela qual se perca esta agradável sensação de estabilidade, mas atira os seus palpites para o ar a ver se António Costa se deixa por ele iludir ou se Jerónimo fica tão assustado, que rompe os acordos assinados em novembro transato.
Sabemos que as opiniões de Marques Mendes não se limitam a sê-las, pois comportam habitualmente objetivos políticos tendentes a favorecer quem anda tão assustado com o sucesso da «Geringonça». E quando se conjugam boas sondagens com indicadores financeiros muito positivos para o governo, compreende-se o nervosismo de Passos Coelho no Chão da Lagoa ou a dos seus cúmplices nas várias televisões.
Mas, mantenhamo-nos na SIC Notícias e olhemos para a notável tese de Bernardo Ferrão no Jornal das Sete desta segunda-feira: quem anda a agitar o espantalho das sanções é António Costa, que anda a lucrar com a criação artificial do inimigo externo para iludir as suas dificuldades na obtenção dos objetivos de crescimento económico, de investimento e de desemprego a que se propôs. Ainda não tinha conjeturado que tínhamos um primeiro-ministro tão maquiavélico, capaz de passar horas a azucrinar comissários europeus, ministros do Ecofin e outros figurões de igual quilate para que ameacem seriamente o país com sanções de forma a facilitar-lhe a argumentação política contra a oposição de direita. A «vedeta em ascensão» no «Expresso» mostra que, além de notoriamente contra este governo, também possui uma imaginação digna de nota.
Mas, porque também a RTP prima pela sabotagem informativa ao governo tivemos Cristina Esteves a maltratar indevidamente o ministro Augusto Santos Silva numa curtíssima entrevista sobre os mais recentes resultados financeiros e as declarações de Passos Coelho, nunca o deixando acabar uma frase e atirando uma sucessão infinda de perguntas para as quais nem sequer procurava ouvir as respostas.
Bem tentou o ministro dizer-lhe que precisaria de tempo para explicar os seus raciocínios, que a entrevistadora nunca o quis ouvir, comportando-se como se tivesse uma check list com o item “dar a ideia aos espectadores que a segunda figura do governo foi entrevistada, mas não perder mais tempo do que três minutos com a peça e nunca permitir que consiga fazer-se compreender”. E a diligente Cristina lá riscou a cruzinha da tarefa cumprida, sem sequer ter a noção do quanto demonstrou ser péssima jornalista…
Estamos, pois, num momento curioso da nossa vida política: o governo governa, a maioria de esquerda apoia-o, a oposição anda à beira de um ataque de nervos e os seus serventuários na comunicação social já não conseguem encontrar forma de escamotear essa realidade que salta aos olhos da grande maioria dos portugueses. Que, ademais, desprezam de forma cada vez mais óbvia um líder da oposição, que gostaria de manter o país curvado perante quem o quer subjugar e, pelo contrário encontra a representá-lo quem não tem receio de dizer Não!

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