segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Deméritos alheios, méritos próprios

1. No meu comentário anterior sobre a festa do Pontal aventei a possibilidade de nela haver pouca gente, tão inaudíveis se mostravam os aplausos ou as palavras-de-ordem.
Afinal as imagens hoje vistas na SIC até mostravam uma plateia compostinha com umas centenas de pessoas, que os jornais explicavam terem vindo de todo o país em autocarros alugados pelas concelhias do PSD.
Aquilo que já julgava mau para Passos Coelho ainda se revela bem pior com este esclarecimento, porque mostra bem qual o ânimo dos militantes: quando dão mais importância à passeata ao Algarve do que demonstrarem algum entusiasmo perante os media está tudo dito. É que nem aos seus o ainda líder do Partido consegue convencer.
O problema para o PSD é que ninguém de credível se perfila para o substituir o que constitui um verdadeiro abono de família para António Costa. Não é que o primeiro-ministro esteja a contar com o demérito dos adversários para prosseguir o esforço de alteração drástica do rumo para onde a direita estava a empurrar o país: felizmente orienta-o uma visão ambiciosa e exequível para as etapas a concretizar para tornar o país mais justo, igualitário e desenvolvido. Mas, enquanto for Passos o rosto da oposição, a verdadeira sondagem ao sentimento dos portugueses será indubitavelmente favorável a esta maioria governativa.

2. Sendo comum encontrar nos serviços noticiosos das televisões uma predisposição para explorarem o lado mais negativo da realidade - os incêndios «dantescos» e os «crimes sangrentos» são música para os ouvidos dos seus editores! - a história dos três bombeiros de Nice, que aproveitaram as férias e vieram para Portugal ajudar a combater os incêndios, é daquelas «cachas» que deveriam estar na abertura de todos os telejornais.
Muito mudaria nas nossas sociedades se os media, em vez de explorarem as facetas mais sombrias dos comportamentos humanos, exaltassem as suas vertentes luminosas. E a solidariedade é decerto daquelas que mais mereceriam ser enaltecidas.

3. Uma das decisões que mais me orgulham relativamente aos anos em que fui o Diretor de uma empresa de manutenção de edifícios foi o empenho em levar muitas dezenas dos colaboradores com que contava a utilizarem o Programa das Novas Oportunidades para obterem as qualificações equivalentes ao 9º ano de escolaridade.
O benefício não era apenas deles, que passavam a contar com uma melhoria no respetivo currículo, mas sobretudo da empresa, doravante capaz de contar com gente mais ambiciosa, em muitos casos decidida a não se ficar por aí e apostada em ir mais longe. E como conhecimento e competências andam de mãos dadas, não tenho dúvidas que, mesmo tendo-me entretanto reformado, leguei ao meu sucessor gente mais capaz do que o era até então.
Os danos da governação de Passos Coelho nessa requalificação de adultos foi criminosa. Por isso mesmo a reaposta do governo de António Costa nessa estratégia, criando novos centros, que se designarão por Qualificar, é uma ótima notícia e a garantia de se potenciarem as melhores características dos que agora trabalham ou dos que, tendo perdido o acesso ao mercado do trabalho, a ele poderão regressar com argumentos mais resilientes.


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