quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O questionar do que nos querem convencer

Ontem, num dos telejornais da RTP, uma repórter entrevistava vários automobilistas por causa do irrisório aumento no preço da gasolina verificado na véspera. 
«Isto só neste país!», vociferava um. «Temos de aguentar!», dizia outro com um semblante carregado. Enfim o costume neste tipo de reportagens sempre mostradas, quando o preço aumenta e nunca quando ele baixa em função das flutuações do mercado.
Mas a azougada entrevistadora, ainda não se dava por satisfeita e lá conseguiu a resposta pretendida, quando questionou outro intermediário da mensagem que queria transmitir: «E de quem acha que é a culpa. De alguém, do governo?»
E lá passou a mensagem que pretendia inocular nos espetadores: a culpa do que de mal acontece está sempre associada a este governo, que tantos engulhos parece causar a quem manda na (des)informação da estação pública.
E somos nós todos, os que maioritariamente se identificam com este governo, que a pagamos, sem que a tutela consiga pôr na ordem quem manipula e deturpa a realidade dos nossos dias.
É que já sabemos o que sucederia se ela procurasse pôr cobro a este descalabro: não faltaria a histeria do Rangel e do coro a ele associado quanto à asfixia sobre a suposta liberdade de imprensa, que só vemos a servir os propósitos das direitas solidamente barricadas nos meios de comunicação social.
Mas outro exemplo de como jornais, rádios e televisões se conjugam para denegrir a ação do governo, esteve bem explicita na capa de ontem do «Público», que “denunciava” o aumento em quase 400% no ordenado da esposa do presidente da câmara de Vila Nova de Gaia, que pertence ao Partido Socialista, e costuma apoiar a IPSS onde ela trabalha.
De pouco importava à «jornalista» responsável pela peça, que a referida senhora tivesse começado por trabalhar nessa IPSS a meio tempo, pelo que a passagem a horário completo tivesse justificado plenamente a duplicação da remuneração. E anote-se que ela conseguira o emprego quando era Luís Filipe de Meneses o titular do cargo, pelo que não existiu uma relação causa-efeito entre o poder do esposo e a sua contratação.
A peça também pouca relevância dá ao facto de, por mérito, ela ter sido promovida a cargo de direção e justificar-se assim o correspondente aumento de acordo com tabela salarial reconhecida como correta para as novas responsabilidades que passou a ter. Manifesta-se, pois, em tal peça a suspeição, não fundamentada, que a evolução profissional de alguém se explique, não em função das suas capacidades e competências, mas pelo facto de ser casado com quem quer que seja.
Não se recorda que o jornal da SONAE tenha estado tão atento quando o anterior presidente da Câmara nomeou a nova esposa para cargo de direção dentro do próprio município.
Acresce ainda que a mesma peça jornalística não dá importância à diminuição dos apoios da Câmara a essa IPSS no atual mandato do autarca socialista não encontrando melhor denúncia do que o subsídio para a visita de crianças a Lisboa para se divertirem na Kidzania.
A concluir fica a informação adicional de tudo resultar da cobardia de denúncia anónima, revelando o quão salazarenta continua a ser a mentalidade do atual diretor do jornal, que terá dado cobertura a tão grotesca manobra de desinformação.
Cabe-nos a nós, nas redes sociais, a missão de irmos desarticulando este tipo de casos. Sobretudo, enquanto não for possível reconstruir um tipo de informação objetiva e deontologicamente irrepreensível como se julgou possível ter quando um grupo de jornalistas se associou para a criação do saudoso projeto de «O Jornal». 
René Magritte

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