sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Responder à era do interesse negativo

Estamos na era do interesse negativo, segundo a tese de Rui Tavares, hoje inserida na sua crónica do «Público»: “mais informação não gerou imediatamente um debate mais civilizado, nem mais deliberação democrática, nem mais possibilidades de, em pluralismo, podermos separar o certo do errado. Pelo contrário, deu-se uma massificação da opinião, uma enorme polarização social e política e, mais recentemente, uma dispersão tão grande da nossa atenção que se tornou muito mais fácil fazer passar notícias falsas pelo meio das verdadeiras.”
Cria-se assim um sério desafio para as esquerdas: a urgência de conseguirem desarticular as estratégias de comunicação das direitas, que encontraram formas eficientes de manipularem as opiniões coletivas e levá-las a crer nas pós-verdades, que lhes foram sendo estendidas.
A guerra ideológica dos próximas anos passa pelas grandes batalhas nos terrenos da informação, mormente nas redes sociais, sendo fundamental que quem se filia no pensamento das esquerdas se assuma como agente ativo da disseminação das mensagens que a elas interessa e na denúncia das que as prejudicam. Mas não só! Se o mundo digital é relevante para impor a valia de valores e factos que os sustentem, a política deverá ter por terreno prioritário a rua, nela gerando fóruns de discussão em que se possa confrontar, olhos nos olhos, os que discordam ou os que ainda não formaram opinião a respeito das grandes questões relacionadas com o seu futuro, se não mesmo sobrevivência. Uma força política limitada a seminários e conferências para convencimento dos que, sendo dela militantes, já estão convencidos dos conteúdos programáticos neles divulgados, está condenada ao fracasso por lhe faltar o contacto direto com a rua, com quantos necessita trazer para o apoio à sua causa.
Quando há quem olhe para  a ação política considerando suficientes os cartazes, os tempos de antena ou os posts no facebook, está a ignorar que os decisores de como iremos ser governados  estão fartos de serem tratados como auditores passivos dessas mensagens, exigindo serem igualmente escutados quanto ao que anseiam. A ação política volta a ter a dimensão biunívoca dos que ouvem e falam em vez a atual dicotomia entre o que é só emissor e o que é só recetor.
Essa é a grande lição propiciada pelas mais recentes eleições americanas e será bom que a assimilemos rapidamente. 
Victor Vasarely

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