quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

E depois do Brexit, que se seguirá?

Não é que o facto de ter família próxima na Holanda me dê muito mais sossego do que se a tivesse em Inglaterra como acontecia até há cinco anos atrás. Mas acaso a situação atual se tivesse então verificado seria lesto a aconselhar mudança de ares a quem, ainda ali, espera manter o nível de vida e prestações sociais ainda remanescentes do tempo em que os Trabalhistas eram socialistas (aonde já vão os tempos de Harold Wilson ou James Callahan), definitivamente postas em causa com os projetos de Theresa May.
O discurso de anteontem foi eloquente: se não conseguir um bom acordo com a União Europeia (tipo sol na eira e chuva no nabal) a ameaça é a de converter a Grã-Bretanha num paraíso fiscal onde serão os seus trabalhadores os mais prejudicados. Porque a redução dos custos de trabalho implicará salários mais baixos e impostos à medida dos foragidos fiscais, o que redundará numa redução de receitas tornadas insuficientes para manter o que ainda resta do Estado Social.
Theresa May também verbaliza a ambição de fortalecer o relacionamento com a Escócia, o País de Gales ou a Irlanda do Norte, mas dificilmente evitará que a primeira aposte na independência e as outras ponderem seriamente tal possibilidade.
Trump poderia ser a tábua de salvação, e afirma-se disposto a tal, mas a sua volubilidade e, sobretudo, fraqueza, dificilmente o tornarão em algo mais do que um protetor rico em palavras, mas parco em ações concretas.
Muito embora o meu europeísmo tenha seriamente enfraquecido nos anos mais recentes e até se aproxime de um euroceticismo mais dubitativo do que convicto, o Brexit poderá ser muito positivo para o que virá a seguir. Porque provando o veneno tão intensamente destilado pela sua extrema-direita os ingleses podem confrontar-se com uma súbita consciência do sarilho em que se quiseram meter.  Sem que possam limitar os danos principais, quando se dispuserem a infletir de rumo: quando sentirem a libra desvalorizada sucessivamente de modo a que virem para o Algarve se torne luxo de poucos, minguarem os empregos, muitas das principais animadoras da City se tiverem mudado para Frankfurt e o Reino Unido estiver irreversivelmente desunido, poderão cobrar tais benesses às suas forças mais à direita. O verborreico Farage calar-se-á decerto, cobarde como já se revelou em alturas pouco propícias para exibir a sua detestável autossuficiência.
Caberá então a Corbyn, e a quem lhe suceder, o encaminhamento do país para direções de que muito se afastou, primeiro com Thatcher, e depois com Blair.
Será mais um exemplo histórico de que as fénixes só renascem depois de quase se terem convertido em cinzas... 

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