quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A impotente fúria dos Carvalhos

Em favor de Manuel Carvalho deve-se abonar o estimável trabalho de historiador sobre a I Grande Guerra em Moçambique, um teatro de acontecimentos que o país quis esquecer, mas onde se verificaram mais baixas do que na Flandres nesse mesmo período. No entanto, como jornalista do «Público», tem revelado nos últimos dois anos um ódio de estimação a António Costa em particular e ao governo em geral, a partir do momento em que este iniciou funções no final de 2015.
Embora procure fundamentar os pressupostos com que passa o tempo a pretender pôr em causa os três partidos da maioria parlamentar, pressente-se-lhe uma raivinha descontrolada bem evidente no texto hoje inserido no «Público» e em que o próprio título - «Sua Santidade, o Governo» - constitui todo um programa do seu ideário enquanto militante anti esquerda, despojado de muitos dos pruridos deontológicos imprescindíveis a uma opinião jornalística digna desse nome.
Carvalho lamenta a ineficácia das direitas em contrariarem o governo e insurge-se contra a crescente contestação das redes sociais contra o tipo de jornalismo por ele representado. É precisamente aqui, que ele melhor demonstra o medo perante o futuro próximo: se nunca o vimos insurgir-se contra o controle da (des)informação operada por televisões, rádios e jornais durante os quatro anos de governo da troika, nem titubeou contra a preservação dessa manipulação indecorosa nestes dois anos de governação, junta-se ativamente a Filipe Santos Costa, a Pedro Santos Guerreiro ou a Ricardo Costa no coro dos que carpem a perda de credibilidade da imprensa convencional e são alvo de chacota e de denúncia nas redes sociais.
Pior ainda, Carvalho sente-se inseguro perante o que a realidade vai desvendado através das sondagens: por muito que afinem as imaginações e repitam argumentos aleivosos, os indicadores económicos vão-se sucedendo numa tendência, que os tende a transformar em párias da comunicação social, porque progressivamente denunciados e abandonados pelos respetivos leitores e espectadores.
Para se iludir acaba o texto de opinião a crismar de populistas e de ditatoriais os que lhe contestam as desajustadas opiniões neste contexto. E faz profissão de fé na democracia e nos mecanismos com que esta se defenderá dos que ele desconsidera. Esquece-se Carvalho que o desprezo dos leitores e dos espectadores às grotescas manipulações do tipo de jornalismo, que representa, é a melhor prova em como a Liberdade significa isso mesmo: o direito a escolher entre uma informação baseada nos factos e nos números, e essoutra, cada vez mais condenada, de prestimosa submissão aos dogmas austeritários com que tão confortavelmente conviveu. E que tão tragicamente foi vivida pelos portugueses durante os malfadados quatro anos de Passos e Portas à frente do governo.
Quem põe em causa este tipo de jornalismo exige um outro em que os carvalhos manifestamente não têm cabimento.

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