quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Capacidades oratórias em ambiente parlamentar

O post de anteontem intitulado «Afinidades Eletivas no que mais importa» em que se realçava a convergência das esquerdas na discussão do Orçamento para 2018, apesar de algumas discordâncias em matérias de relativa importância, mereceram muitos comentários de quem concorda no essencial com quanto ali ficou registado, ainda que com algumas ressalvas. De entre eles pretendo realçar dois, por se tratarem de respostas fundamentadas, que importa partilhar com um universo mais lato.
O primeiro veio assinado por Francisco Magalhães e diz o seguinte: «Simpatizo com Antonio Costa e acredito que é talvez um dos muito poucos políticos que temos bem intencionados, mas começo a ficar nervoso e algo cansado com a fraca prestação que tem revelado em rebater e fazer calar, de uma vez por todas, a direita fascizante que temos no parlamento.
Não gosto de fazer comparações, mas, Sócrates já os tinha arrasado e remetido ao lugar a que pertencem....! que saudades tenho daqueles debates na AR, onde José Sócrates, ora os flambava em lume brando, ora os torrava nas chamas alterosas dos ataques e dos golpes sujos com que eles procuravam derrubá-lo, com menos convicção de vencer, á medida que os debates se sucediam, e, já mais para o fim, não conseguindo disfarçar a crispação e a raiva mal contidas, que lhes iam na alma, estampadas nas expressões faciais com que se apresentavam, e no desnorte de um discurso politico que se revelava cada vez mais ineficaz, acabando invariavelmente, a sair de gatas da arena parlamentar, onde José Sócrates, mais uma vez, os havia vencido, e humilhado....!»
Longe de mim contestar o elogio ao anterior primeiro-ministro socialista, que tenho apoiado quer na época em que exercia o cargo, quer depois, quando se viu vitimado por uma campanha mediática e judicial, da qual espero que venha a sair inequivocamente inocentado. Mas considero que, embora diferente, António Costa também é um excelente tribuno parlamentar com intervenções muito duras para com os líderes das direitas, quase sempre atirados ao tapete por argumentos sem grande contestação.
Ademais, nesta segunda-feira, António Costa confiou a Pedro Nuno Santos a intervenção final antes da votação decisiva do Orçamento e todos pudemos escutar uma peça de oratória notável, muitos furos acima de quantas ali tinham sido produzidas durante a tarde. Pessoalmente deu-me para confirmar o que já pensava sobre quem mais se adequa para futuras lideranças do Partido Socialista quando o atual secretário-geral concluir o trabalho e decidir apostar em voos ainda mais altos.
O segundo comentário, que pretendo realçar, é o de Manuel Ferreira: « Não tenho dúvidas quanto ao desejo expresso pelo amigo Jorge Rocha. Sou dos "velhos" Socialistas com cerca de 40 anos de militância e muito trabalho feito nas estruturas do PS.
Há por aí umas vozes, poucas, que saltam do alinhamento geral que o PS cultiva. Mas esses não têm significado e só a pluralidade vivida no seio do PS impede que sejam demitidos. São conhecidos, por isso estamos atentos.
O PS encontrou em António Costa um Socialista com princípios inatacáveis. Já errou algumas vezes?. Errou, com certeza. Mas, como se costuma dizer, só erra quem sabe. É muito difícil a tarefa do atual Governo. Por um lado tem de desfazer as injustiças que o anterior provocou. Por outro lado terá (…) - o que já começou - de redistribuir a riqueza do país para os que menos têm possam passar a viver condignamente. Eu confio!»
Concordo plenamente com o Manuel Ferreira dando razão ao ditado que diz só não errar, quem não faz. Por isso, mais importante do que ter aqui e além algum percalço, o fundamental é não perder de vista o objetivo pretendido, aprendendo com quanto possa momentaneamente tê-lo dificultado.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dizer Não, definitivamente não basta!

Vulto relevante da esquerda internacional, Naomi Klein conseguiu impor-se na cena política internacional graças a uma boa dose de ativismo político e à publicação de alguns ensaios  em que denuncia o capitalismo e o liberalismo, doutrinas que garantiram a Donald Trump o sucesso político através do estatuto de «megamarca».
Atualmente ela defende que se lancem as bases de uma resistência à atual Administração e descodifica o que se esconde por trás dessa eleição e da sua «estratégia de choque». Para tal publica regularmente artigos de opinião no «The New York Times», no «The Intercept», no «Daily News» e no «The Boston Globe».
Nascida no Canadá, continua aí a viver, embora os progenitores fossem norte-americanos e conotados com a sua esquerda mais radical: o pai, futuro médico, escapara ao recrutamento para o Vietname, vindo acompanhado da namorada, que se converteria em realizadora de filmes feministas.
Na Universidade Politécnica de Montréal Naomi começa a escrever artigos para o respetivo jornal destacando-se na defesa da causa feminista e passando depois para a profissionalização nesse ofício da escrita ganhando rápida notoriedade planetária com um primeiro ensaio - «No Logo» - sobre a tirania das marcas publicitárias. Seguir-se-ão «A Estratégia do Choque», sobre a ascensão de um capitalismo desastroso e «Tudo Pode Mudar» sobre os efeitos perniciosos do capitalismo no clima. Com «Dizer Não, não basta» - agora publicado - ela apresenta a eleição de Donald Trump como a consequência do capitalismo sem regras e com riscos muito sérios para o futuro do planeta não bastando dizer não a esta realidade, antes criando uma contra narrativa, que a substitua por outra completamente diferente.
Dividido em quatro partes o ensaio começa a abordar como chegámos aqui, o que só foi possível graças à ascensão das supermarcas.
Na segunda parte trata de onde estamos agora, com o clima de desigualdade a ter repercussões não só sociais, mas também ambientais. Por isso a terceira parte tem por tema a possibilidade de tudo poder piorar em função de choques expetáveis, traduzidos em catástrofes, que deem o ensejo de alguns aproveitarem para contornarem a Democracia. A concluir Naomi rastreia as condições para que tudo possa melhorar.
Se através daquilo que designa como «estratégia do choque» Donald Trump se tem revelado um mestre na arte da diversão criando situações que distraem a opinião pública com opiniões, comportamentos ou outras atitudes surpreendentes, ele e os seus cúmplices andam nos bastidores a conseguir um conjunto de benefícios para as grandes empresas, mormente a nível da desregulamentação fiscal ou ambiental, que passam sem grande sobressalto público.
Todas as promessas com base nas quais foi eleito - a defesa dos operários, da Segurança Social, dos cuidados médicos - foram rapidamente esquecidas, bem como o de distanciar a sua Administração dos grandes grupos financeiros, que acusara como causa de todos os males. Na realidade, tão só empossado no cargo, ele chamou para seus mais próximos colaboradores quem provinha desses grupos para os quais está realmente disposto a legislar e a intervir. A Goldman Sachs, por exemplo, nunca teve tanta influência como a que usufrui na atual Administração.
Ao contrário dos que consideram desesperada a situação, porque a esquerda norte-americana não consegue convergir numa força de oposição suficientemente forte, Naomi Klein vê sinais de esperança no facto de relativamente aos seguros de saúde os Republicanos não terem conseguido sonegá-los a milhões de cidadãos cuja cólera não ousam estimular. Pelo contrário, em vez de deitarem o Obamacare para o lixo, os Republicanos não têm conseguido travar uma nova dinâmica de exigência de um Sistema de Saúde universal e gratuito para todos de acordo com as propostas de Bernie Sanders e, portanto, bem mais avançadas do que as garantidas pela anterior Administração.
Mesmo nas questões relacionadas com o clima, a retirada de Trump dos acordos de Paris tem sido compensada pelo conjunto de grandes cidades norte-americanas dispostas a cumpri-lo, desautorizando o poder federal.
Tendo-se apresentado como um candidato contra um indefinido Sistema para o qual conseguiu garantir a incauta indignação de milhões de eleitores, que nunca nele poderiam encontrar quem lhes defendesse os interesses, Trump tenderá a ser visto precisamente como símbolo daquilo que estigmatizou como origem de todos os males e a ser ele mesmo sujeito a igual contestação. É que, doravante, caída definitivamente a máscara, ele já não conseguirá voltar a apresentar-se como verdadeiramente não é.

Afinidades eletivas no que mais importa!

Só os intelectualmente desonestos poderão discordar de ter pertencido a Pedro Nuno Santos o melhor discurso de entre os que se proferiram no último dia de discussão do orçamento para 2018. Com Cristas a escusar-se de ir a jogo, coube a Passos Coelho ficar com o palco da oposição só para si na tentativa de se despedir  - esperemos que ad eternum! - da liça parlamentar. Foram minutos demasiado longos para debitar o testamento político, que constitui triste acervo do que significa ser um homem inevitavelmente datado, preso num tempo que julgou ser seu, mas mais não foi do que o da sua interpretação de um desempenho de que foram outros a manipularem-lhe os fios de incompetente marionete.
Esse tempo nem sequer aos titereiros acabou por pertencer por muitos danos, que tenham feito aos bolsos de quase todos: usufruíram de uma oportunidade única para mudarem o rumo do país, e não estiveram longe de o conseguir, mas a derrota de outubro de 2015 deve-lhes ter tirado as ilusões por muito tempo. É que, se ainda têm em seu benefício as leis laborais e as rendas das grandes empresas, que o governo não pôde agora limitar, muito do que eram as suas «reformas» foram pelo cano do esgoto abaixo, e a atual maioria parlamentar demonstrou que resultam outras, as que significam melhores condições de vida para a generalidade da população, em vez dos cortes, das desregulamentações e das privatizações em que assentavam o desígnio de empobrecerem de vez a maioria para que uma minoria plutocrata pudesse florescer.
Ouvidos os discursos de Mariana Mortágua e de João Oliveira há muito neles, que merece reconhecimento de terem razão, mas estamos numa conjuntura em que não são os únicos dela detentores e, provavelmente, o argumento de Carlos César em como se quer ir ao encontro das aspirações por eles formuladas, mas não se pode avançar demasiado depressa sob pena de pôr em causa tudo quanto se conquistou, é capaz de fazer muito maior sentido.
Não enjeito o desconforto com alguns momentos menos bons verificados nas últimas semanas, mormente quanto à forma como se anunciou a transferência do Infarmed ou ter-se desdito segunda-feira o que na sexta-feira anterior era dado como certo, mas a grande questão é esta: confio ou não na lucidez de António Costa para prosseguir neste rumo que ficou tão bem rastreado no discurso de Pedro Nuno Santos? Dois anos depois confio, e mais ainda do que já o afirmava então!
Daí que não dê grande relevância à expressão fechada de Catarina Martins, nem às palavras acusatórias de Mariana Mortágua. Ou ao facto de Jerónimo de Sousa continuar a afiançar que continuam a implementar-se políticas de direita, apenas mitigadas pelas correções conseguidas graças ao PCP e ao PEV. Tais posições decorrem da retórica parlamentar envolvendo partidos, que apoiam, mas não estão no governo. Embora também julgue dispensável a exagerada profissão de fé de Carlos César nos argumentos, que deles se distingue o PS.
Continuo a acreditar e ouço muitos militantes e simpatizantes socialistas defender que, em equipa que vence não se mexe. Razão para que, chegado o fim da legislatura e recomposta a Assembleia após novo escrutínio eleitoral, faça todo o sentido que a maioria parlamentar continue a contar com os seus atuais participantes, haja ou não condições para que um ou mais de entre eles possa saltar do consenso sem prejuízo de uma maioria para governar.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

As culpas a quem são devidas e as pespinetas que por aí se põem em bicos dos pés

Por estes dias é possível descortinar dois tipos de estratégias assumidas pelas direitas para porem em causa a boa governação de António Costa. Uma delas tem a ver com atribuírem-lhe responsabilidades exclusivas em ocorrências no mínimo partilháveis com os anteriores titulares do cargo.
Começou com os incêndios suscitados por anos de desertificação do interior e por uma meteorologia de características peculiares. Se atribuir culpas a António Costa por esta última é absurdo, pela referida concentração das atividades económicas no litoral atlântico muito contribuiu a miopia cavaquista, que esteve subjacente à forma como se entendeu o país desde que tal criatura tomou conta do poder já lá vão trinta anos. Se a sua lógica funciona numa perspetiva totalmente economicista nada justifica o investimento no interior a menos que o Estado decida tornar-se ator determinante no desenvolvimento do país. Ora, os incêndios mais não foram do que o corolário óbvio de políticas ditadas pelas regras do endeusado mercado e pela redução ao mínimo desse mesmo Estado na economia.
Depois foram episódios como o de Tancos ou o da legionella, que resultam dessa mesma perspetiva: quando o primado dos outsourcings se sobrepõe aos das instituições, que os são obrigados a contratar tendo como argumento a redução dos custos, é essa mesma perspetiva neoliberal, que fica posta em causa e a que este Governo é avesso.
E que dizer do caso do jantar no Panteão senão como exemplo dessa idiossincrasia (ou idiotia) em que se cortam fundos para a Cultura e se os tenta compensar com a concessão de espaços para eventos onde eles não têm qualquer cabimento?
Não tendo nada a propor de substantivo, as direitas optam por pegar em tudo quanto possa haver de mais equívoco no realizado pelo governo e dizem mal, mesmo que correspondam ao que elas própria aprovou, legislou e começou a implementar enquanto ainda eram (des)governo.
Mas há uma segunda estratégia, que começa a ensaiar-se a ganhar corpo por estes dias: a arrogância de quem é anão, mas se julga com altura de gigante. Peguemos no exemplo de Assunção Cristas, que promete ir escrever uma carta para ser distribuída a todos os portugueses contendo as banalidades, que eles costumam desprezar ao fazerem o devido zapping quando ela lhes surge nos ecrãs. Sendo eu um dos putativos recetores de tal missiva, quem se julga Cristas que é para me julgar ansioso por uma carta dela? Se quiser ter alguma consciência ecológica bem pode começar a poupar no papel.
Mas este exemplo faz escola, porque uma das discípulas levadas pelo teapartyano David Dinis para o «Público» assina hoje uma crónica em que exige que, como «portuguesa e como contribuinte» (o que desde Paulo Portas esta palavra tem servido de alibi para todas as demagogias!) o governo lhe explique porque pretende ver Mário Centeno à frente do Eurogrupo. Quem é esta pispineta para julgar que tal resposta lhe tem de ser dada?
Embora constituindo táticas sem grande capacidade de causarem dano, elas - e outras a que convirá darmos atenção e encontrar o correspondente antídoto - são venenozinhos ignóbeis em cuja evidência valerá atentar. 

domingo, 26 de novembro de 2017

A inevitabilidade de ter de esperar sentado

Já o tinha aqui escrito e reescrito, mas nunca é de mais recordá-lo: se queremos saber dos estados de alma de Marcelo relativamente ao governo e aos sinais a transmitir ao eleitorado não poderemos prescindir das peças jornalísticas assinadas por Ângela Silva na edição semanal do «Expresso». Quer pelo que através dela se publicita - e convenhamos ser fonte bem mais fiável do que o «criativo» Marques Mendes - quer pelo que deixa implícito para nós podermos conjeturar, essa leitura é sempre imprescindível..
Que Marcelo continua incomodado com esta maioria governativa, não estranhamos!  Ele bem gostaria de a substituir pelo Bloco Central dos interesses económicos, que sempre foram seus clientes bem pagantes nos muitos estudos que, ao longo dos anos, lhe encomendaram. Ora se há mácula de que podemos dispensar o selfieman é que ele não seja agradecido aos que lhe foram engordando as contas bancárias.
Por isso, se os patrões vão a Bruxelas fazer queixa do governo, que dizem secundarizar-lhes as pretensões no Orçamento para 2018, Marcelo dá-lhes música para os ouvidos prometendo alongar-se na análise do documento a fim de o limar de quanto lhe pareça «excessivamente de esquerda».
Arrisca-se, porém, a repetir o erro de Passos Coelho, mesmo que não seja tão veemente na promessa da chegada do Diabo: embora sob a forma de recados para o governo - mas que destina sobretudo ao eleitorado enquanto recetor principal - alerta para uma estratégia governativa focalizada na potenciação do consumo interno, não dando o devido ênfase ao investimento e às exportações.
Sabendo-se que tem a acolitá-lo um conjunto vasto de assessores especializados nas várias vertentes do exercício do poder estranha-se que esteja a proferir sentenças que, a curto prazo, se virarão contra si, não só porque o Portugal 2020 tenderá a acelerar os indicadores relativos ao investimento e ao crescimento da economia, mas também porque, entrando em velocidade de cruzeiro, a produção do novo modelo da Autoeuropa propiciará uma dopagem significativa nos números das exportações.
Colocando-nos na pele de quem analisa friamente a atividade política o interesse dos tempos próximos consistirá em saber por quanto tempo resultará uma magistratura de influência política apenas baseada nos abraços e nas selfies. Quando a determinada ação governativa resultar numa adesão ainda mais significativa do eleitorado a tais resultados será interessante saber se Marcelo quererá ir a jogo para um segundo mandato. A vaidade poderá impulsioná-lo para essa hipótese, mesmo sabendo que se limitará ao papel de «corta-fitas». Mas se o objetivo seria o de suscitar uma firme guinada à direita na política nacional as circunstâncias podem aconselhar-lhe que espere sentado... 

Jerónimo diz alhos, o Expresso traduz por bugalhos

Muito embora queira dar ao título de primeira página a ilação de ser a atual solução governativa algo de irrepetível para lá de 2019, o «Expresso» não consegue que, na entrevista publicada nas páginas interiores, Jerónimo de Sousa coincida propriamente com tal tese. Recorrendo como de costume ao seu gosto pelos provérbios o dirigente comunista adota a prudente convicção de que “perante o pano é que se talha a obra.” Ou seja, contem-se os votos e logo se verá. Até porque, apesar de pressionado pelos entrevistadores a dissociar-se de António Costa ele é perentório, quando reafirma ter motivos para nele confiar.
Não se trata, pois, de peça jornalística, que dê grandes motivos de alegria às direitas e muito menos a Marcelo Rebelo de Sousa, sempre atento ao mínimo sinal por onde possa aproveitar a conhecida pulsão para a intriga.
Lida no que diz, e no que deixa implícito, a entrevista confirma a crença na exequibilidade de uma governação efetivamente orientada para a melhoria substantiva da qualidade de vida da grande maioria que a apoia. E, ao contrário do que gostariam os responsáveis pelas sugestivas capas do «Expresso», ela é capaz de perdurar por muitos e bons anos... 

sábado, 25 de novembro de 2017

Que a travessia do deserto lhes seja longa e inóspita!

Eu sei que sou otimista, às vezes em excesso, mas a efeméride relativa à passagem de dois anos sobre a tomada de posse deste governo confirma o quanto faz sentido aquela máxima «soixantehuitarde», que manda ser realista pedindo o impossível. Conquanto ele corresponda à aproximação da Utopia, que faz sentido sempre acarinharmos dentro de nós mesmos.
Não há a ilusão de estarmos à beira da sociedade socialista, pois o capitalismo tem encontrado engenho bastante para ir adiando tanto quanto possível este estado quase bipolar entre o anunciado fim e a recuperação para novo sobressalto de criação de novas malfeitorias. Mas não tendo ainda direito ao prémio todo, contentemo-nos, por ora, com a sua aproximação.
Sei que há dois anos muitos dos meus amigos tinham sérias reservas quanto à possibilidade de a desqualificada «geringonça» se aguentar até ao primeiro vendaval, que a arrancasse da frágil raiz em que assentava. Os escritos aí estão para o comprovar, mas só deixo um extrato do que aqui registei em 24 de novembro de 2015:
“Ao conseguir um desempenho de grande mérito e eficácia, o novo governo irá condenar a direita a uma longa e merecida travessia no deserto, que talvez lhe sirva para se reinventar à luz do que o pensamento académico nas áreas económicas já vem progressivamente demonstrando, mas ela ainda não interiorizou: o fracasso das receitas neoliberais em que é dada aos mercados a máxima liberdade e ao Estado um papel ínfimo na criação de condições de crescimento económico.
Se a crise financeira de 2008 aproveitou essencialmente a quem a tinha originado já é mais do que tempo de pôr fim ao esbulho da classe média e à condenação à morte dos mais pobres, voltando a criar políticas orientadas para quem elas deveriam ser sempre prioritárias: as pessoas.”
O que entretanto aconteceu confirma esse desejo, exceto no que diz respeito às direitas, que nada continuam a aprender com o sucedido.
Reitero, pois, uma grande confiança neste governo por muito que os órgãos de comunicação social insistam em empolar-lhe os deméritos e contradições. E por muito que ajam sempre no sentido de quererem dividir para reinar como subjaz ao título de primeira página do «Expresso» desta semana.
Existe uma tão grande vontade da maioria dos portugueses em que esta receita perdure e frutifique, que aposto na tal longa travessia do deserto das direitas por mais uns bons anos...



sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Mas alguém anda a dizer que a dívida não é para pagar?

Há já alguma semanas que Jaime Santos não fazia um dos seus frequentes comentários críticos a textos publicados no blogue, mas desta vez fá-lo a respeito daquele em que se comentava a entrevista a Mariana Mortágua ao «Público» e à Rádio Renascença.
O que o nosso atento leitor contesta é a questão da dívida, causa primeira do freio ao crescimento da economia cujo potencial poderia ir muito além do atual:
“Existe uma contradição insanável nas soluções propostas pelos Partidos à Esquerda do PS. Não existe nenhuma obrigação moral de pagar a dívida, o preço do dinheiro (taxa de juro) inclui justamente o risco de incumprimento. Mas BE e PCP-PEV defendem políticas keynesianas (que o próprio Keynes provavelmente rejeitaria) expansionistas, só possíveis à conta de maior endividamento. A quem? Àqueles a quem vamos dizer que não pagaremos as dívidas? O custo reputacional de um incumprimento não é calculável. Os Partidos de Esquerda recusam-se a aceitar que nesta matéria a moral conta pouco. Não interessa muito em que condições o País se endividou e qual a responsabilidade dos credores em tal coisa (que a têm certamente). Interessa o facto de que o País está, nesta matéria, do lado fraco da corda. É tão simples quanto isso. Se quisermos entrar em incumprimento, ficaremos durante vários anos sem acesso aos mercados e ninguém virá cá com nenhum programa de ajustamento. Ficaremos, qual Argentina, sozinhos com os nossos parcos recursos. Se o objetivo é gerar daqui uma crise e mudar o paradigma de governação, bem esses Partidos que assumam isso claramente. Se é melhorar as condições de vida dos Portugueses, o caminho não é esse…”
 Não contestando propriamente a perspetiva de Jaime Santos - que é apenas uma das possíveis! -, queria, porém lembrar-lhe que a contestação à forma como a dívida deverá ser tratada não é apenas algo que seja assumido por políticos do PCP ou do Bloco de Esquerda. Até à direita, mormente com Pacheco Pereira, essa renegociação da dívida é tida como plenamente justificável por ser a única  capaz de garantir alguma solução para os bloqueios de que o país se vê alvo.
Por outro lado não é verdadeira a ideia de não se pretender pagar o que se deve. Quer-se sim o aligeiramento do custo da dispendiosa dívida, com parte substantiva dos juros pagos anualmente a serem aplicados em investimentos públicos estudados para possibilitarem uma mais firme alavancagem da economia. Estaria, pois em causa algo de perfeitamente legítimo de renegociar como a alteração de outras maturidades, tornando-as mais benignas para com as atuais necessidades do país.
Nesta, como noutras matérias, subsiste a estratégia das direitas de atribuirem às esquerdas (noutra vertente, também aos sindicatos), posições muito mais radicais do que as que lhe são reconhecidas, a fim de as desqualificar, as considerar utópicas e nada realistas.

De vez em quando uma aparente crise para dar alento às descoroçoadas direitas

Durante mais uns dias prosseguirá a narrativa a respeito de se ver o governo à deriva, reagindo mais do que a tomar a iniciativa, e com vários dos seus membros a contradizerem-se sem que se chegue a concluir qual a posição prevalecente.
Arguto como poucos, o ministro Eduardo Cabrita prevê que este momentâneo desconforto dure até dia 27, quando ficar concluída a discussão do Orçamento na especialidade. A partir de então, pesem embora as reivindicações corporativas de várias classes profissionais, todas saberão que a vontade de tudo conquistarem de um dia para o outro esbarrará com a realidade dos números maioritariamente aprovados pela maioria parlamentar.
João Cravinho considerou que esta fase menos boa do Governo teve origem nos incêndios: até então toda a argumentação da Oposição esbarrava inevitavelmente no anúncio contínuo de indicadores económicos, financeiros e sociais, que a refutavam sem apelo nem agravo. Ademais o selfieman aproveitou esta oportunidade para confirmar a deslealdade como característica intrínseca do seu carácter e entrou numa ofensiva para a qual não encontrou a esperada ajuda das circunstâncias (apesar da tragédia de 15 de outubro!) nem a vaga de fundo de cariz populista que pudesse surfar a seu gosto. Recorde-se o fracasso das célebres manifestações convocadas pela SIC durante dias a fio para várias cidades do país e saldadas por algumas pífias concentrações de dezenas, quanto muito centenas de apaniguados das direitas.
Por muito que não possamos conjeturar o que lhe passa pela mente, será que Marcelo não terá alimentado a expetativa de se ver livre desta maioria que detesta, obrigando António Costa a atirar a toalha para o chão e surgir uma recomposição política em torno do seu ideal de Bloco Central, com a direita a comandar e os socialistas a servirem-lhe de chaperon?  Nunca o saberemos, mas se a hipótese merecer algum crédito convenhamos que ele soube meter a viola no saco e esperar por melhor oportunidade para tocar o seu samba de uma nota só.
Daqui a alguns dias entramos no período natalício em que ninguém terá paciência para discutir as tricas políticas da única forma que as direitas apreciam: com intrigas e falsificações pelo meio.
Comem-se as filhós e o bolo-rei, bebe-se o espumante com as passas enquanto se vê o fogo-de-artifício e eis-nos mergulhados no primeiro semestre, onde tudo aponta para a manutenção de um crescimento robusto na economia e para uma significativa redução no défice. Com a maioritária sensação de um país a funcionar bem, que restará ás direitas senão acomodarem-se uma vez mais à inconsequência das suas repetitivas estratégias?

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Uma entrevista interessante

Sempre tive Camilo Mortágua como um dos heróis do meu passado juvenil, razão porque estou atento ao desempenho das filhas que, de forma diferente, procuram manter os objetivos transformadores de uma sociedade ainda pejada de inaceitáveis injustiças.
Na entrevista de Mariana ao «Público» e à Rádio Renascença também havia o interesse de aferir até que ponto se mantém sólida a maioria parlamentar responsável pelo nosso esperançoso contentamento. E, nessa perspetiva, saímos confortados: não será pelo Bloco de Esquerda que António Costa verá perigada a condução governativa do país até ao final da legislatura.
Marcelo Rebelo de Sousa vem à liça com a deputada a concordar com ele na impossibilidade de o mundo continuar a ser o mesmo do que existia antes da crise financeira de 2008. Mas a consonância acaba aí: onde o selfieman questiona a possibilidade dos trabalhadores manterem os direitos e rendimentos então auferidos - de forma mais fofa retoma a retórica da direita sobre a necessidade de empobrecimento dos que menos têm! - a entrevistada contesta que o sistema financeiro continue a operar como se nada tivesse ocorrido.
Se as direitas conseguiram ser bem sucedidas, interna e externamente, em culpar os trabalhadores pela crise, ora porque tinham vivido acima das suas possibilidades, ora porque seriam uns madraços comparados com os esforçados obreiros do norte da Europa, fica implícita a necessidade de rever essas narrativas: o que aconteceu em 2008 teve a exclusiva responsabilidade do instável sistema financeiro, o que possa vir a repetir-se volta a ter de se lhe imputar dada a falta de regulamentação, que trave as bolhas de incauto financiamento sem as quais parece não conseguir funcionar.
Mariana Mortágua rejeita a tese de existir um novo desequilíbrio de forças, que vem penalizando os patrões enquanto favorece quem trabalha. Quase dois anos passados sobre a tomada de posse do governo socialista o mundo do trabalho continua caracterizado pela inaceitável percentagem do número de quem apenas possui vínculos precários e em que a produtividade continua a crescer acima da atualização dos salários.
Onde continuo a sentir algum desconforto com a opinião de Mariana Mortágua é na questão da dívida, para a qual ela e muitos economistas de peso á esquerda do PS continuam a advogar uma abordagem difícil de impor a uma Europa, que nem sequer aludir a tal probabilidade pretende aceitar. Embora se reconheça indigesta a receita de Mário Centeno, que considera tal dívida passível de progressiva redução nem que se passem vinte anos a repetir saldos primários de cinco, seis ou sete mil milhões de euros por ano. É que tal gigantesca verba faz muita falta para que se possa investir numa aceleração do acerto do país com o futuro bonançoso, que todos aspiramos vir a encontrar. 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Estejamos atentos, mas não nos enervemos desnecessariamente!

Um amigo, que muito prezo, manda-me uma mensagem a confessar-se inquieto com o rumo que vão tomando as coisas nos últimos dias, com militares, forças de segurança e magistrados a meterem-se na fila para alcançarem o tratamento preferencial, que dizem estar a ser conseguido pelos professores. Haverá novamente uma convergência negativa entre as direitas e os sindicatos, principalmente os da CGTP, para derrubarem este governo a exemplo do que conseguiram anos atrás, quando se tratou de inviabilizar a continuidade do liderado por José Sócrates?
Estou otimista, como de costume, e subscrevo o reparo hoje assinado por Rui Tavares que, a propósito do Brexit - mas servindo igualmente para os meus propósitos! - lembram que as emas nunca andam para trás.
As notícias positivas até vão prosseguindo, sem precisarmos de estar sempre a referir a redução do número de desempregados nos Centros onde se registam - que, uma vez mais, se confirmou!. Por exemplo, apesar das desconfianças justificadas de comunistas e bloquistas a propósito das benesses dadas ao sistema bancário, a maioria parlamentar acaba de acordar o abatimento das imparidades ao longo dos próximos dezanove anos, conseguindo-se uma situação de equilíbrio para que os créditos mal parados dos bancos sejam corrigidos num prazo adequado. Na aprovação do Orçamento Geral de Estado para 2018 também não existiram quebras de solidariedade das esquerdas, apesar da questão do descongelamento das carreiras dos professores ficar adiada para as negociações aprazadas para 15 de dezembro.
Sem ter a ver diretamente com a maioria parlamentar, mas dela constituindo consequência gratificante, fica a ascensão de Portugal ao top15 dos países da OCDE onde mais avançada se revela a experimentação e a inovação na Administração Pública graças ao Simplex. E se a Volkswagen era notícia meses atrás a propósito da luta laboral, que até assustava demasiadamente quem deveria ter contida serenidade, quase fica remetido para as páginas interiores e em poucas linhas, o acordo firmado entre a Administração e o Comissão de Trabalhadores (a ser validado daqui a uns dias), que já garante um ritmo diário de 800 novos carros do modelo T-Roc a saírem das linhas de produção, graças também ao esforço dos mais de dois mil novos trabalhadores recrutados desde o início do ano.
Perante tudo isto que resta à oposição? Santinho Pacheco, deputado socialista, deu uma boa imagem do atual comportamento das direitas: “já conhecíamos várias formas de fazer política mas esta, tipo furão, de entrar nos buracos todos e ver de onde sai coelho, é novidade.”
Eles buscam de facto matéria que lhes sirva de arma de arremesso, mas vão vendo a prometedora pólvora revelar-se bem seca. Claro que, qualquer apoiante da maioria parlamentar, dispensava bem esta decisão de transferir o Infarmed para o Porto sem previamente discutir essa possibilidade com os principais interessados - os seus 350 trabalhadores - e, aparentemente, só para satisfazer a vaidade de Rui Moreira, que se comportou para com os socialistas da forma que não nos esqueceremos. Ou que muito falta fazer na questão da evasão fiscal para os «paraísos» europeus ou americanos, por onde se esvaem anualmente mais de vinte mil milhões de euros. Ou seja mais de trinta vezes aquilo que os professores reivindicam numa luta, que porém merece grandes reservas da minha parte. Recordo o que escrevi noutro texto: como podem sindicatos de esquerda violar o principio de “a trabalho igual, salário igual”!
Igualmente inquietante será a tomada de posse de Teresa Anjinho como provedora-adjunta da Justiça. Já temos os tribunais tão pejados de gente de direita, senão mesmo da que se revela mais extrema - como se verificou com o nunca por demais lembrado juiz Neto Moura - que ver mais uma destacada cúmplice de Portas & Cristas abocanhar tal função permite-nos duvidar do que serão as decisões futuras do órgão, que passa a codirigir.
Confiemos, no entanto, em Isabel do Carmo, que olhando para estas direitas, lhes reconhece escassas capacidades para serem condutoras de massas. E façamos votos para que assim continue a suceder... 

Um presidente que nos quer pobrezinhos e agradecidos

As direitas e os órgãos de desinformação, que lhes servem de altifalante, adoraram o discurso de Marcelo na Gulbenkian. É normal: elas exultam quando os portugueses levam com a velha fórmula de viverem num país no diminutivo em que é preciso o juizinho!
O que Marcelo disse foi uma remake do discurso ouvido durante os tempos da troika, segundo o qual os portugueses não podem viver acima das suas possibilidades. Os bancos, as grandes empresas, os amigos do Presidente (não nos esqueçamos que um dos mais diletos era Ricardo Salgado) podem tudo, os 99% restantes têm de aceitar as migalhas, que o presidente e os amigos acham que possam merecer.
Muito embora não concordando com grande parte das exigências corporativas expressas por várias classes profissionais nos dias mais recentes, também não posso aceitar que Marcelo limite as aspirações dos portugueses em terem uma vida bem melhor. Até porque, comparativamente com a média europeia, ainda muito falta para a alcançarmos.
É por isso que esses reparos em forma de uma conversa aparentemente anódina com Catarina Furtado só nos pode merecer a maior das reprovações. Porque, por muitos beijos e abraços que distribua ou selfies em que sorria com fingida bonomia, Marcelo está a exigir que os portugueses continuem a ser pobres e bem agradecidos.  Ora, através de boas políticas, que aumentem o emprego e a riqueza nacional, eles querem ver esta bem melhor distribuída, garantindo-lhes uma qualidade de vida bem melhor do que a prometida pelas direitas dos negócios, dos partidos e do inquilino de Belém...

terça-feira, 21 de novembro de 2017

O nervosismo dos exploradores

Sabemos bem qual a maior preocupação do Saraiva da CIP e dos demais muchachos das confederações patronais: eles sabem que lá virá o dia em que se reverterão as «reformas» implementadas pelo governo anterior na legislação laboral. O que significará um maior equilíbrio entre direitos e deveres de quem explora e de quem é explorado, limitando a precariedade e a facilidade em despedir por dá cá aquela palha.
O coro de carpideiras comandado pelo Saraiva a respeito do salário mínimo nacional é uma falácia, que até as próprias instituições europeias desmascaram: nas previsões para 2018 aponta-se para um crescimento de 2,3% na produtividade e de apenas 1,8% na atualização salarial. Ou seja, assim de mansinho, os patrões embolsam mais 0,5% nesse diferencial entre as mercadorias e serviços produzidos e as remunerações correspondentes de quem os tornou possíveis.
Na mais do que desigual correlação entre os rendimentos do Capital e do Trabalho, os primeiros tenderão a aumentar ainda mais em detrimento dos segundos. Salvo se… que é precisamente o que põe Saraiva & Cª à beira de um ataque de nervos. 

As fraudes e as escabrosas fotografias, que as direitas querem ignorar

Dois pesos, duas medidas é o que se vem concluindo - sem surpresa! - da nossa comunicação social, onde o escândalo Tecnoforma ou a pila do Maçães passam quase despercebidos.
Ai se se tratasse de algo que tivesse a ver com alguém de esquerda: até os telejornais fariam de um ou outro caso notícia de abertura. Como se trata de comprometimentos de gente da direita faz-se tudo para passar à frente, não se lhe dar a devida importância.
Não há, pois, quem questione Passos Coelho sobre o que possa ter a comentar sobre a classificação de fraudulento a um negócio de que nunca poderá livrar-se de ter sido feito com a sua assinatura e responsabilidade. E tendo em conta a verbosidade com que tudo gosta de comentar, também apreciaríamos algumas palavras do professor Marcelo sobre tão notório compincha.
Quanto ao episódio pícaro protagonizado pelo «nerd mais nerd» do governo anterior só podemos confirmar que livrai-nos dos mais «toínhas», porque por trás daquele aspeto de não conseguir partir um prato ocultam-se insuspeitas, mas escabrosas perversidades.

A preocupante situação da navegação no rio Douro

A propósito do texto «Um crime ecológico a agravar-se à nossa porta», publicado há um par de dias no blogue, o meu amigo e companheiro da mesma turma da Escola Náutica entre 1973 e 1975, José Manuel Pereira, fez um comentário muito interessante sobre as atuais dificuldades de navegação no rio Douro.
Porque ele faculta aqui informação substantiva sobre uma matéria cada vez mais relevante para a nossa economia - tendo em conta os impactos energéticos, turísticos e ecológicos, que estão em causa - aqui transcrevo o texto com o prévio agradecimento ao seu autor: 
“Desconheço a culpa e temo que morra solteira. Pode ser que seja de Espanha ou não, mas o que se verificou nos últimos dois anos no Douro, repito, é absurdo.
Calculo que exista um protocolo entre a entidade que gere hoje a navegabilidade do Douro a APDL, e a EDP, e desta com Espanha, para garantir que entre marcas, exista sempre água suficiente para que a navegação se faça em segurança. Mas isto não acontece amiudadas vezes, obrigando a cuidados redobrados e a riscos estúpidos corridos pelos mais de 20 navios hotéis e 30 diários que lá navegam.

Sem causa à vista, o Tua, chamamos nós ao troço entre Pinhão e a Barragem da Valeira, está sem água, enquanto que a montante desta a passagem sob a ponte ferroviária da Ferradosa se faz com imenso perigo de colisão com esta por causa da cota demasiado alta.
O Tua tem um percurso sinuoso que com pouca água se torna extremamente perigoso. Todos os dias roçamos as margens e o fundo. A popa vai lambendo as pedras, enquanto que os hélices levantam cascalho do leito. Cruzamentos entre embarcações são impossíveis, e devido, ao aumento de trafego resultam em atrasos. As eclusas com avarias frequentes também não ajudam nada.
O caos instala-se, e torna-se rotineiro. Logo a seguir, ou imediatamente antes, em mais de 50% das passagens sob a Ferradosa somos obrigados a fazer recolher os passageiros da ponte panorâmica superior para os pisos inferiores, obrigados a baixar, os varandins, tirar as cadeiras e baixar a cobertura, fazer lastro, passando a escassos milímetros do tabuleiro.
Procuramos em vão alguém que nos explique o porquê das cotas demasiado altas a montante da Valeira, e do Pocinho, e perigosamente baixas no Tua. Questionamo-nos sobre o "grande projeto para a navegação do Douro" que cada vez mais se vê ser apenas projeto. Nada muda. Uma coisa emerge contudo. A necessidade das nossas autoridades se debruçarem sobre o que se passa nos nossos rios, dê o trabalho e os conflitos que tiver que dar quer sobre os transvases quer sobre as descargas inusitadas.”