quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Ela bem sabe por quem os sinos dobram

Nos últimos tempos tenho tido uma inesperada complacência para com Maria Luís Albuquerque. Vendo-a e ouvindo-a não esqueço o quanto a sua perspetiva do mundo é oposta à minha, mas começo a senti-la como uma náufraga prestes a afogar-se e que tenta agarrar-se ás últimas tábuas ainda a flutuarem à sua volta.
Se for Rui Rio a ganhar poderá dispensar perfeitamente quem dele é apenas uma aproximação, e de menor gabarito. Um e outro são austericidas por natureza, mas o antigo autarca do Porto possui uma tarimba política, que a discípula de Vítor Gaspar nunca poderá alcançar, ela que se limitou a ter uma medíocre carreira académica numa área onde se imbuiu dos preconceitos mais comuns dos neomiltonfriedmanianos e dali não conseguiu passar. Enquanto Rio embrulha esses mesmos conceitos numa visão política com que não concordamos, mas é coerente, Maria Luís limitou-se a receber os livros de instruções ditados por Schäuble & Cª, tratando de as seguir tão zelosamente quanto possível.
Pior fica se for Santana Lopes a vencer: populista por natureza, o antigo provedor da Santa Casa até seria capaz de repetir as perfídias do Ventura de Loures se sentisse ser essa a mensagem marketeira eficaz para cumprir a ambição de regressar à ribalta donde foi tão humilhantemente apeado.
Na liderança da oposição a António Costa, Santana Lopes será mais do género «se o outro diz mata, ele terá que dizer esfola», ou seja, por outras palavras, se o governo projeta x milhões para a Saúde ele quererá o dobro, se os aumentos são y, ele exigirá o triplo e assim por diante. De outra forma, mas não menos perigosa, ele será o populista, que virá dar razão aos comentadores políticos quanto à inevitabilidade de virmos a ter no nosso cantinho à beira-mar plantado o mesmo tipo de gente que forma o movimento do palhaço Grillo em Itália ou o Farage inglês.
Nesse contexto Maria Luís não encontrará lugar, nem sequer para se manter na última fila da Assembleia, que tem sido onde se tem recolhido nesta legislatura. Por isso lamenta que Passos Coelho se tenha demitido, por ser ele o único a julga-la com algum préstimo.
Por isso mesmo  os sinos já dobram pelo enterro político da criatura por muito que um jornal faça ainda dela capa e uma rádio lhe dê espaço para longa entrevista. Porque lidas e ouvidas as suas palavras sente-se que ela não aprendeu nada, mantendo-se cristalizada na cassette que sempre tem sido a sua. É essa condição de fim anunciado, que me leva a já não sentir por ela as emoções de tempos idos, quando não deixaria de, em manifestações, lhe desaprovar a forma de desgovernar o país. E desaprovei totalmente que, na tomada de posse dos novos edis de Almada, a ruidosa assistência comunista a tenha tão veementemente assobiado, desrespeitando o facto dela ali estar não como ex-governante, mas como autarca democraticamente eleita por uma parte não negligenciável dos almadenses. É nesse sentido que me vou sentindo complacente com a sua triste figura...

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