segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Ainda não se sentem, mas sinais de mudança sopram de além-Atlântico

No Libé o seu diretor, Laurent Joffrin, comenta o pacote legislativo agora aprovado pelo Senado e, em breve, pela Câmara dos Representantes, pelo qual Trump consegue enriquecer ainda mais os plutocratas norte-americanos, facilitando-lhes ademais o já maleável acesso aos paraísos fiscais, e corta nos programas de apoio aos mais pobres, condenados por isso mesmo a afundarem-se no seu desespero. Quão longe vão as promessas eleitorais de afrontar o Sistema e quem com ele beneficiava para criar novos empregos onde essa empobrecida classe média pudesse sentir-se prioritária numa América orgulhosa de si mesma.
Decididamente o populismo é o método mais eficaz para enganar o povo, conclui Joffrin.
A notícia coincide com um documentário sobre os contornos assumidos hoje em dia por aquele que foi qualificado como o sonho americano. Desde mães de família obrigadas a acumularem empregos ganhando assim o bastante para alimentarem a família e pagarem a estadia em motéis manhosos, operários despedidos porque as fábricas fecham a norte para reabrirem a sul, em Estados onde não existe o «incómodo» dos Sindicatos ou gente, outrora pertencente à quase extinta classe média a (sobre)viver em tendas dispostas em parques de estacionamento na periferia das cidades, tudo serve para mostrar realidades mais consonantes com o Terceiro Mundo do que com aquela que ainda vende de si a ideia de quase única superpotência.
E será que tal realidade é tão diferente da nossa? É-o porque subsistem mecanismos de contrapoder às grandes empresas, que as impedem de exercer o posso, quero e mando, como parece regra no outro lado do Atlântico. Mas convenhamos que a realidade quotidiana de milhares de precários não se afasta muito dessa.
Há, no entanto, outro comentário a fazer: quando vemos esse cenário de horror percebemos melhor o que Passos Coelho pretendia quando defendia a necessidade de tornar o país mais competitivo mediante o empobrecimento das classes médias e baixas. Ou porque Paulo Portas se entusiasmava tanto com a redução do número de funcionários públicos ou a privatização das empresas dos transportes por ver em tais medidas a forma de partir o resto da espinha, que resta ao movimento sindical.
Compreendemos também porque Bernie Sanders teve um sucesso tão estimável ao apresentar um programa socialista ao eleitorado: é que as condições sociais estão a agravar-se de forma tão obscena que, perdidas todas as ilusões com quem lhes prega o conformismo nas igrejas ou lhes vende banha-da-cobra em comícios republicanos e democratas, será tempo dos norte-americanos abrirem os olhos e ponderarem bem na matriz ideológica que o velho senador do Vermont lhes propôs como batedor de uma nova época por se afirmar...

Sem comentários:

Enviar um comentário