quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

E não se pode transferi-lo a custo zero?

Ao longo dos mais de trinta anos de militância no Partido Socialista foram muitas as alturas de grande insatisfação em que me via em discussões sobre a duvidosa pertença ao ideário de esquerda por parte de alguns camaradas, que não se compreendia bem porque não estavam mais adequadamente no PSD ou no CDS. Alguém acabava sempre por fazer um comentário depreciativo sobre o escasso sentido de exigência do Partido ao aceitar no seu seio, quando se comportava mais de molde a prejudica-lo do que a beneficiá-lo.
Nos últimos anos, e olhando para a Grécia ou para a França, como antes sucedera na Itália, constata-se o grande perigo de não padronizar essa exigência de modo a evitar que um qualquer Venizelos ou um qualquer Manuel Valls cuide de destruir uma cultura e uma tradição de luta com dezenas de anos, transformando num monte de ruínas o que chegara a simbolizar um sólido edifício do poder político.
A eleição de António Costa para secretário-geral, e posteriormente para primeiro-ministro, fez-nos crer que um tempo novo emergiria e a separação de águas se cumpriria por muito que os arrivistas de ontem, sempre lestos a incensarem António José Seguro, logo se colassem a quem antes tinham difamado, maltratado, desqualificado. Que isso, infelizmente, não sucedeu comprova-se no inenarrável discurso do secretário-geral da UGT nas Jornadas Parlamentares do CDS. O que Carlos Silva afirmou é indigno de um socialista pela forma como analisa o que se passou na Revolução russa de 1917 - para ele resultado de um grupo de agitadores e não da vontade genuína do povo em livrar-se dos czares - e no que significa na vocação para se pôr de cócoras perante as administrações como forma de, supostamente, «defender» os que trabalham.
Em tempos idos - e muito embora tenha conhecido a UGT quase desde a sua formação! - ainda quis crer que ela ultrapassaria o quão torta nascera, apenas para servir de instrumento de sabotagem das lutas laborais numa altura em que o equilíbrio entre capital e trabalho era mais favorável aos primeiros. Bem intencionado queria acreditar que a organização  seria capaz de se tornar numa coisa com algum sentido de decência. Mas, se João Proença se revelaria encomenda pior do que Torres Couto, Carlos Silva está apostado em demonstrar que o mais ruim ainda se tornou possível.
Considerar tal espécime um camarada é algo que me desagrada profundamente. É que, apesar de enquadrados pelas mesmas bandeiras e palavras de ordem, as nossas mundividências são tão opostas como os dos projetos de sociedade que ansiamos ver concretizados no futuro. Daí que me questione o que tal figurão continua a fazer no Partido que teimo em considerar o meu, pagando atempadamente as quotas para que defenda aquilo que, com a atual maioria parlamentar, tem demonstrado ser possível: uma política orientada para o benefício da maioria da população, aumentando-lhe os rendimentos e a facilidade em se empregarem, ao mesmo tempo que evoluem positivamente todos os demais indicadores económicos e financeiros.
Os que tão nervosos andam com o rumo dos acontecimentos e se servem de magistrados, juízes, jornais, televisões e outros meios para o sabotarem têm em Carlos Silva um papagaio voluntariamente obsequioso. Bem se justificaria a sua transferência a custo zero para as trincheiras políticas onde melhor se sente identificado.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O quanto está a custar o livrarmo-nos de tão ignominioso veneno!

Que o governo tem de pôr cobro à situação presente em que se vê continuamente objeto dos ataques de juízes e de magistrados, como se a alegada independência entre o executivo e o judicial apenas sirva para que este último ponha continuamente em xeque a ação do primeiro, é urgência que tarda em concretizar-se. Sob pena de nos vermos na situação brasileira em que um ex-presidente é condenado sem nenhuma prova do que é acusado de ter feito e uma maioria do eleitorado lhe exige o regresso ao Palácio do Planalto.
Em poucos dias vão-se sucedendo os episódios, que culminaram na ignomínia de se ter posto em causa a probidade de Mário Centeno, prejudicando a sua ação não só no país, mas também no contexto europeu em que acaba de tomar posse como presidente do Eurogrupo. O ministro que provou a falácia dos argumentos das direitas - acobertadas pelos juízes e magistrados e aliadas a direções de jornais e televisões -, é tão odiado por elas, que não há argumentos de defesa do interesse nacional, que lhes justifique a mínima contenção. Entrou-se no reino do vale tudo, mesmo que isso signifique o recurso à estratégia da terra queimada.
Outros casos, porém, continuam a dar sustentação a esta realidade inquietante: hoje ficou-se a saber que dois secretários de Estado de José Sócrates vão a julgamento acusados de peculato com base numa denúncia da Associação Sindical dos Juízes. O seu crime terá sido o de comprarem livros no valor de 14 mil euros num dos casos, e revistas no valor de 400 euros no do outro, com o cartão de crédito de governantes. Não interessando se eram ou não materiais necessários para a sua atividade de governantes. Será que para terem conhecimento do que lhes importaria saber para melhor desempenharem os seus cargos, deveriam tê-los adquirido com os seus próprios recursos? Já agora as canetas com que assinavam os  despachos também deveriam ser previamente comprados na papelaria da esquina das respetivas ruas em vez de serem fornecidas pelo economato dos ministérios?
Cabe, porém questionar quanto, em comparação com esses supostos 14400 euros terão sido gastos na investigação, que dura desde 2012 para os levar agora a julgamento? É caso para pôr a questão que mais se justifica nestas circunstâncias: quem é que julga os juízes e os magistrados pelos crimes de lesa Pátria, de que dão contínuas provas?
Mas a urgência no virar de tudo isto também se deve levar a outras áreas. Por exemplo à televisão do Estado, a RTP, para a qual o Conselho «Independente», nomeado pelo anterior governo, decidiu agora renovar o mandato do Presidente, um assumido militante do PSD, e rescindir o de Nuno Artur Silva, administrador conhecido pela proximidade às esquerdas. Ainda que, nesta matéria se lamente a militância de conhecidos militantes bloquistas em colaborarem na campanha suja, que presidiu à decisão de tal órgão decisório (quando será que o Bloco nos inibe de lembrar um célebre tratado sobre a doença infantil do comunismo?).
Pode-se compreender o que essa renovação de mandato e esse afastamento compulsivo de Nuno Artur Silva pretende: que a televisão do Estado continue a ter o tipo de (des)informação em que tem primado com recurso abundante aos comentadores do «tea party» nacional oriundos do Observador e seus sucedâneos. Dias há em que os convidados de José Rodrigues dos Santos ou de Ana Lourenço mais se assemelham a uma sinistra galeria de horrores.
A exemplo do que se passa nos EUA onde Trump procura evitar a derrota do seu Partido nas eleições do último trimestre deste ano, despedindo altos funcionários do FBI e perseguindo jornalistas, do referido Brasil ou da Espanha aqui ao lado onde todos os atropelos são cometidos aos princípios democráticos para impedirem os catalães de usufruírem a vontade emancipadora reiteradamente manifestada em eleições, as direitas globais perderam qualquer ponta de vergonha e, conspirando ativamente com todos os meios ao seu alcance, procuram evitar as mudanças civilizacionais, que tanto temem.
Bem desejamos que António Costa encontre um antídoto eficiente para combater este veneno diariamente inoculado nas mentes dos portugueses por todos os meios de desinformação, que lhes agridem a inteligência. Metaforicamente o manto de espuma a cobrir o Tejo em Abrantes é uma boa imagem do tipo de poluição, que está em curso nessa aliança corrupta entre alguma (in)justiça e a generalidade da comunicação social. Os malefícios, que tanta indignação causam em quem os testemunha e não os vê merecidamente sancionados, são uma ameaça demasiado séria para ser objeto de qualquer procrastinação no combate sério que exigem.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Peculatos, rendimentos universais, nazis, curdos e o que resta da Terceira Via

1. Os casos de legionella num hospital privado está nas notícias, mas sem a dimensão empolada, que foi dada aos do São Francisco Xavier. Porque ainda não houve mortos, dirão os crédulos. Para quem é menos «inocente» as razões são obvias: as más notícias tornam-se particularmente apetecíveis aos chefes de redação e aos diretores de informação, quando têm algo a ver com instituições tuteladas pelos ministros deste governo. Se elas decorrem das idolatradas gestões privadas passam a notas de rodapé.
2. O PSD e o PAN andam a impor a discussão do Rendimento Básico Incondicional na atualidade política de curto prazo. Dando azo a todas as ilusões e demagogias.
Para o patronato, que sabe bem como o emprego se tenderá a tornar mais escasso com a robotização da produção industrial e a informatização de muitos serviços administrativos, essa solução poderá ser interessante se os livrar de excessiva contestação social ao seu obsceno enriquecimento. Desde que não sejam eles a pagar.
Hoje, como amanhã, caberá ao Estado manter os serviços universais constitucionalmente instituídos (saúde, educação, segurança social, etc.), colhendo por via fiscal junto das empresas com lucros substanciais e escassos recursos humanos, as receitas necessárias para combater a pobreza.
Daí que a questão do RBI se possa colocar no futuro, mas ainda terá muita ponderação a justifica-lo.
3. A morte de Ingvar Kamprad foi pretexto para muitos saudarem o empreendedorismo de quem fundou uma das marcas mais bem sucedidas do nosso tempo: o IKEA.
Com a legitimidade de quem se recusa liminarmente dar um cêntimo a ganhar a tal empresa, só evoco a efetiva ligação do biltre aos nazis com a comprovada militância no partido de Hitler e a posterior apetência pela fuga aos impostos, utilizando o tipo de malabarismos tão do agrado dos donos do Pingo Doce. Mesmo que fosse dono de um coração piegas não seria por Ingmar Kamprad que gastaria comovida lágrima.
4. Entusiasma-me a ideia de um Curdistão independente pelo que acrescento a atual invasão turca ao seu território no norte da Síria ao largo somatório de crimes imputáveis ao ditador turco. Mas convenhamos que, acolhendo o apoio norte-americano e europeu na luta contra o Daesh, os curdos expuseram-se ao imbróglio em que se veem, sem que ninguém acorra agora secundá-los na defesa das suas posições. Úteis enquanto pouparam a militares ocidentais os riscos de uma guerra intensa a geradora de muitas baixas, os curdos veem-se novamente abandonados à sua triste sorte. Mas, tendo em conta a sua conhecida eficácia militar, há sempre a esperança de que seja nessa agressão externa, que Erdogan venha a partir os dentes…
5. Matteo Renzi continua a fazer os possíveis por dar cabo do que resta da esquerda italiana: ao optar por indecoroso sectarismo na escolha de quem integrará as listas de deputados às eleições legislativas de março, justifica a merecida derrota antecipada e a devolução do país ao foguetório berlusconiano. As esquerdas europeias precisam de se depurar com a máxima urgência dos que nelas se infiltraram para que o seu esmagamento se torne mais aviltante. Mas ideias existem que conseguirão ressurgir das cinzas em que as terão querido destruir...

A excelência da gestão privada

O tema, que encima a capa do «Público» de hoje é assaz eloquente sobre como o ensino privado, mormente o universitário, tem sido veículo principal de enriquecimento de um conjunto de «espertos», que nele veem forma expedita de enriquecerem. Casos como a Universidade Moderna ou a Independente tendem a ser esquecidos, mas a regra vai-se confirmando com exemplos sempre atualizados.
Salvato Trigo, o reitor da Universidade Fernando Pessoa no Porto está em julgamento por se ter aboletado com três milhões de euros subtraídos à instituição, que fundou e de cuja  gestão se encarrega conjuntamente com a mulher e a filha.
Munido do alfobre de experiência, que a vida em África antes do 25 de abril lhe proporcionou, também não tem sido dogmático nas suas ligações políticas: deputado municipal pelo PSD e pelo CDS não enjeitou ser mandatário local das candidaturas de Mário Soares e de Jorge Sampaio à presidência. No fundo prefigura o tipo de personalidade sem preconceitos ideológicos consoante salvaguarde o essencial: o enchimento dos próprios bolsos.
Temos, pois, de reconhecer um facto: é bem verdade a máxima segundo a qual os privados gerem melhor os negócios do que os gestores públicos. Conquanto eles sirvam exclusivamente os seus interesses como o tribunal estará a sancionar...

domingo, 28 de janeiro de 2018

Herói sim, mas sem se livrar do disparate!

Edmundo Pedro mereceu todos os elogios de que foi credor por ocasião da sua morte, tanta foi a coragem em tudo quanto fez para derrubar a ditadura salazarista-marcelista, tanta a determinação em se silenciar perante os torturadores e tanta a tendência para se fazer mais homem de ação do que do pensamento. Associamo-lo a um tipo de carácter, que se tornou raro, porque capaz de defender a murro as convicções mesmo quando os adversários eram mais numerosos ou mais fortes. E convenhamos que, apesar de politicamente incorreto, o debate de ideias bem merece de vez em quando a viril demonstração de uns bons sopapos nos néscios das direitas.
E, no entanto, ele que foi filho de um herói comunista, viria a dizer o indefensável a propósito das ideias que acabou por renegar. O que nele me desagradou foi a condenação do estalinismo entendendo-o como pior ainda do que o nazismo.
Muito embora, nos seus opostos ideológicos, ambos os regimes tenham enveredado por perturbadoras semelhanças no silenciamento dos que se lhes opunham, nunca se lhes poderão invocar comparações ou identificações. Porque se um pretendia instituir por mil anos a supremacia de uma raça sobre as demais, variação fanatizada da continuidade da existência de explorados e exploradores, o outro julgava possível alcançar a igualdade coletiva mesmo à custa dos gulags. Se poderia haver alguma similitude nos meios, os fins eram diametralmente opostos. Ora esses ideais de justiça na distribuição de rendimentos continuam atuais e prosseguirão como projeto utópico a concretizar quando o decadente capitalismo receber a definitiva extrema-unção. Poderemos  a posteriori reconhecer que a instituição do comunismo nas experiências em que o quiseram implementar à força era uma impossibilidade científica tendo em conta as realidades sociais, económicas, financeiras e, sobretudo, do estado evolutivo dos meios de produção em causa. Outro será o tempo e outras serão as circunstâncias em que a antevisão marxista se poderá cumprir.
Talvez Edmundo Pedro não pudesse ter a sagacidade para o intuir, mas ao emitir juízos emocionais de cariz anticomunista sem recorrer à sua habitual racionalidade, não se livrou de se fazer porta-voz de um perfeito disparate, Que foi repetido até à náusea pelas televisões, que lhe noticiaram o passamento e quiseram apresentar essa tese como um axioma incontestável. Olha a admiração! O jeito que lhes fez!

Para quando a exterminação dos cães raivosos?

Mal se compreende que a atualidade noticiosa seja polarizada por esse vómito diário em forma de papel de jornal e de canal de telecoscuvilhices que é o «Correio da Manhã». Ao ter quem, na Judiciária ou nos ministérios, lhe vai passando sugestões de estórias que, acrescentadas e manipuladas, dão da realidade uma versão que não corresponde à verdade, essa corja imunda procura enlamear a probidade de quem assenta em irrepreensíveis padrões o comportamento público e privado.
A legislação também favorece esses criadores de fake news: tendo em conta a suposta obrigatoriedade do Ministério Público em investigar denuncias anónimas. Bastará que a central de desinformação sedeada na Cofina invente as maiores ignomínias para ter a garantia de haver agentes da judiciária a inquietarem o sossego dos inocentes e logo disso dar conta na primeira página do pasquim. Sempre aproveitando o provérbio de haver fogo onde se detetam indícios de fogo e a predisposição zarolha dos homens de mão da D. Joana.
Vem tudo isto a propósito da suposta investigação no ministério de Mário Centeno logo propalada pelos biltres do costume, cientes de logo se verem citados pelos que, mais comedidos no mundo da comunicação social, não lhes deixam de secundar nos propósitos. Se as direitas, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa, não conseguiram apear do cargo quem para elas representava o inimigo mais perigoso - como se constata agora com os resultados económico-financeiros obtidos ao fim de dois anos de governação! - os seus cães de fila mais raivosos não desistem de lhe saltarem ás canelas.
No meio disto tudo só não se compreende a complacência com que são tratados os negócios do canalha, que se apresenta como patrão do pútrido tabloide, sobretudo adivinhando-se a responsabilidade da sua empresa de celulose à beira do Tejo na forte poluição, que ali se acusou.
A comprovar-se a culpa, que não se seja peco na devida indemnização, que o crime ecológico implicou. Talvez se consiga colateralmente livrar o país dessa outra poluição, que ainda subsiste nas bancas dos jornais e no alinhamento de canais por cabo, apesar da reconhecida falência de tal negócio. 

sábado, 27 de janeiro de 2018

A cogestão alemã atirada às malvas

Imaginem que são donos de uma empresa alemã onde já conseguiram evitar a possibilidade de integrarem representantes dos trabalhadores na Administração, porque tendo três mil empregados já a dividiram em duas, supostamente autónomas uma da outra, mas na realidade só em aparência.
Imaginem que, numa delas, um dos líderes sindicais mostra-se particularmente avesso a qualquer suborno e insiste em que se cumpra a lei. Muito simples: arranja-se uma bela moçoila que, tão só contratada, se começa a fazer ao gabiru até ao momento crucial em que grita por socorro e o acusa de assédio sexual, criando as condições para que ele seja despedido com justa causa. Em tr~es tempos acabam-se as reivindicações...
Imaginação fértil? Nem por isso. Estes exemplos fazem parte das propostas apresentadas em cursos organizados por advogados alemães e ministrados a patrões decididos a contornar as imposições legais sobre o papel dos comités sindicais na gestão das empresas e a livrarem-se dos mais ativos defensores dos interesses de quem trabalha.
Durante anos foi-nos vendida a ideia de que, por toda a Alemanha, os patrões mostravam-se bastante dialogantes com quem contratavam, contando com as suas opiniões para melhor rentabilizarem as suas empresas. A própria Merkel não se poupava a elogios sobre o modelo de cogestão alemão.
Os tempos, entretanto, mudaram, a concorrência pela conquista de quotas do mercado global acentuou-se e os patrões alemães decidiram-se a virar costas à suposta cultura dialogante com os sindicatos. Para nem lhes passarem cavaco mudam as sedes sociais das empresas para aos países vizinhos, particularmente para a Holanda, a fim de não se verem obrigados a respeitar a legislação que os forçaria a portar-se de outro modo.
Este novo contexto é bem revelador do que se perfila nesta fase final do sistema capitalista: uma progressiva agudização nas diferenças de pontos de vista entre os patrões e os seus assalariados, com estes a perderem quaisquer ilusões quanto à bondade dos plutocratas, que os exploram.
A luta de classes atiça-se, tende para os confrontos nas ruas e nos locais de trabalho. Com as batalhas a penderem, ora para uns, ora para outros. Até tender para quem mais força e determinação mostrar. Que sejam os explorados a prevalecer sobre os exploradores é o veredicto de Marx. E eu aposto que assim será...

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

E se os iludidos começarem a perceber o quanto têm sido enganados?

Nunca tivemos um ator político que se deixasse fotografar em tantas selfies como Marcelo Rebelo de Sousa.
Exercício típico do narcisismo extremo, a selfie dá, a quem nela se figura, a ilusão de não ser a múmia a quem sucedeu. Se em tempos a filosofia propunha a regra «Penso logo existo», neste tempo de hiperindividualização ela tende a ser substituída pela sua versão moderna: «Selfo-me, logo existo». E, de facto, quem é verdadeiramente Marcelo para além dessa aparência, desse constante jogo de máscaras em que, ora afivela a plastificada face compungida pela dor (sobretudo se anda por alturas de Pedrógão!), ora a do sorriso rasgado de quem se julga em permanente estado de festa. Tornando ainda mais significativas as circunstâncias em que se furta a tal exposição: porque será que não se deixar selfizar com as operárias da Triumph?
Pressentimos que ele exista para além dessa imagem fútil e até lhe sugerimos a essência remanescente da família em que nasceu. Fascista se foi, fascista dificilmente se deixará de ser, não é assim?. Mesmo se só se apresente como cristão, que é forma disfarçada de se querer impor aos outros naquilo que eles não querem. Exemplo óbvio desses tiques de ditador sob a capa da mansuetude católica a sua determinante intervenção para que a lei da interrupção da gravidez ficasse adiada por dez anos. Em nome da ideologia impôs a quem nela não cria um modelo de comportamento, que se revelou trágico para quem lhe sofreu as consequências nesse período de espera até tal vontade já não determinar mais atraso em algo que se impunha como necessário.
Ciente da obsolescência do que pensa, do que é, com o contexto em que se comporta como ator, ele disfarça-se de cordeiro nessa constante multiplicação de selfies. Porque ela ilude tudo quanto dele se pressupõe. É a história da jovem turista que se coloca em primeiro plano com a Torre Eiffel por trás e diz que, sem a sua presença, o monumento é banalíssimo, porque dele já se tiraram milhões de fotografias. É ela, com a sua presença, que lhe dá relevância, o torna inédito a seu jeito. Mas quem é ela de facto para lá da sua imagem instantânea? E o que é o monumento perante o qual se coloca como modelo? Uma imagem, que vale apenas pelo que aparenta sem nada dizer do que se esconde nos olhares, nas poses estudadas.
Marcelo pensará isso mesmo: pondo-se a jeito para servir de «monumento» a milhares de caçadores de imagens, imagina-se menos banal, quiçá inédito na sua representação. Ou será que deixando-se fotografar lado a lado, julgará integrar-se no povo a que, por elitista, se sabe não pertencer, mas que entenderá judicioso parecer que o é?
A selfie é a ferramenta que Marcelo achou oportuna para fingir que existe, que é mais do que um corta-fitas ou uma rainha de Inglaterra. E é o paradigma da banalização da função, que prometeu honrar e respeitar. Sem a gravitas, que lhe sugeriria algo de transcendente, de único. E incorrendo num sério risco em que nunca terá pensado: aquele para que Cocteau alertara, quando dissera que até um espelho, antes de devolver a imagem, nela reflete. O que acontecerá a Marcelo se quem por ora se deixa ludibriar pela frivolidade da aparência, começar a questionar o que ela efetivamente significa?

Os desafios da pesca a nível global

A pesca, componente fundamental das sociedades humanas, está em vias de viver uma revolução. Metade do peixe consumido a nível mundial provém da aquacultura e o centro da gravidade da pesca mundial deslocou-se para a Ásia.
Segundo a FAO, organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura, a quantidade de peixe consumido em média por habitante era de 10 kgs em 1960, contra 20 em 2014, ou seja, verificou-se uma duplicação nos últimos cinquenta anos.
Esse aumento está relacionado com a urbanização, o aumento dos rendimentos e a evolução das modas alimentares. Houve uma ocidentalização da gastronomia nos países emergentes e preocupações dietéticas nos países ricos.
Verificou-se, igualmente, uma explosão de produção mundial de pesca, que passou de 19 milhões de toneladas em 1950 para 167 milhões em 2014, ou seja uma multiplicação por nove em tal período. Para compreender esse aumento há que atender a duas técnicas de produção: a pesca no mar e a aquacultura.
No final dos anos 80 a pesca nos mares alcançava o pico de 90 milhões de toneladas anuais. A estagnação desde então verificada deve-se ao aumento do número de espécies exploradas totalmente ou mesmo sobre exploradas, situações em que não se deu o devido tempo de crescimento aos mais jovens  ou às fêmeas para se conseguirem reproduzir. A aquacultura permitiu alcançar o aumento de produção. Em 1974 representava 7% da produção mundial contra 44% em 2014, ou seja 74 milhões de toneladas, que, em si, já suplantam a de carne bovina.
A outra tendência que se pode observar é o peso crescente da Ásia neste setor, com 70% do consumo mundial, metade do qual assumido pela China. Também se verifica nesse continente a captura de mais de metade do que se pesca nos mares (52%), sobretudo no Noroeste e no Centro-oeste do Pacífico e no Leste do Oceano Índico.
E, como a aquacultura fornecerá mais de 2/3 dos peixes destinados à alimentação humana em 2030 é importante considerar como se assegura o  seu alimento: com farinhas e com óleos de peixes. É necessário cerca de 1,5 kg de peixe de mar para produzir 1 kg de salmão de aquacultura. A piscicultura pesa, pois, fortemente nas fontes haliêuticas. Ora, com a instauração de quotas nas espécies destinadas a tal indústria, ela mostra-se insuficiente para satisfazer a procura. Daí que os peixes de aquacultura sejam cada vez mais alimentados com farinhas e óleos vegetais, sobretudo os provenientes do milho e da soja. Como vantagem aponta-se-lhes  a presença de menos metais pesados e dioxinas, mas mostram-se insuficientes para corresponderem ás necessidades nutritivas de todas as espécies de peixes.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Já era! Ou já vai indo!

Pouco a pouco a China vai substituindo os Estados Unidos como a grande potência do século XXI. Bem pode Donald Trump considerar-se dono do maior botão para deflagrar um apocalipse nuclear, que o sistema capitalista a que pretende dar um acrescido fôlego antes de definhar, vai sendo superado por aquele que o irá substituir. Um capitalismo de Estado, como o que o Partido Comunista Chinês gere? Decerto! Mas não está na essência do marxismo a definição da possibilidade de transição para um outro sistema, mais justo e igualitário, quando for levado até ao seu limite o potencial do que está prestes a ser atirado para o caixote do lixo da História?
Vem isto a propósito da notícia da clonagem de dois macacos por cientistas chineses, que procuraram seguir as pisadas dos colegas responsáveis pela experiência com a ovelha Dolly.
Sabe-se o que se seguiu: as sociedades ocidentais envolvidas numa polémica relativamente a questões éticas com tal experiência, a que rapidamente se quis pôr termo. Os preconceitos religiosos - como sempre inibidores dos maiores avanços civilizacionais - quiseram travar a evolução científica. Razão porque os laboratórios ocidentais estão coartados na capacidade de desenvolverem trabalhos muito aprofundados relativamente à manipulação genética. Como se, aos benefícios potenciais para a espécie humana, se contrapusessem hordas de cientistas mefistofélicos ansiosos por firmarem pactos com o Diabo para mergulharem a nossa civilização numa distopia huxleyana.
Sem tais condicionalismos os chineses preparam-se para liderar uma das mais importantes áreas do conhecimento do futuro. Sinal de que o poderio do imperialismo ianque já era… ou já vai indo! 

Da política atual com poetas de permeio!

O anúncio do investimento da Google em Portugal parece ser o primeiro de outros subsequentes relacionados com as mais avançadas tecnologias da atualidade, que transformarão o país no exato contrário do que pretendiam as direitas: em vez de fabriquetas chungas do tipo das que, no Sudeste Asiático fabricam roupa em série para as mais conhecidas insígnias de roupa ocidentais - e onde os direitos e remunerações de quem trabalha são reduzidas a mínimos inadmissíveis - perspetiva-se uma economia baseada no conhecimento e na investigação. Legados de Mariano Gago na Educação e de António Costa enquanto esteve à frente da Câmara Municipal de Lisboa e convenceu os responsáveis da Web Summit a instalarem-se entre nós.
Esboroa-se assim a tese de Passos Coelho e de outros dos seus comparsas quanto à impossibilidade de atrair investimento de qualidade com comunistas e bloquistas a formarem com os socialistas a atual maioria parlamentar. Uma boa razão para António Costa reafirmar o que é desejado por muitos militantes do seu partido: estando bem acompanhado pelos apoiantes parlamentares, nenhuma razão existe para mudar de companhia. Até porque Rui Rio não deseja uma sociedade muito diferente da pretendida por Passos Coelho: um país em que, à medida dos tempos idos, se converta num tal diminutivo, que juízinho é que seja preciso. Como dizia o Alexandre O’Neill…
Ora nós queremo-nos irreverentes, imaginativos, capazes de sair da lógica dos que foram feitos em ceroulas. E aqui cito o poeta Ary!

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Que não tarde tal dia!

Dois anos se passaram desde que Marcelo foi eleito presidente e se tinha sido a televisão a fundamentar-lhe o sucesso - que não o mérito das suas propostas políticas, aparentemente cingidas aos afetos, mas escondendo propósitos bem mais sinistros! - ele continua a basear a popularidade nesse vazio feito de ocupação plena do espaço mediático: entre o primeiro e o último dia de 2017 ocupou 177 horas nos programas de informação dos canais generalistas, ou seja mais tempo do que Cavaco e Sócrates juntos tinham tido dez anos antes.
Se um qualquer poder totalitário quisesse infernizar os seus adversários bastar-lhe-ia obriga-los a assistir mais de sete dias a fio a essa contínua propaganda sem outro conteúdo do que a pornográfica sucessão de beijos, abraços e selfies.  Ao fim dessa semana de tortura, as vítimas vomitariam Marcelo, suariam Marcelo, defecariam Marcelo.
E, no entanto, nada do que se decide no país - quanto ao crescimento da economia, à redução da dívida, á criação de emprego, etc. - a ele se deve. Nada do que fez contribuiu fosse o que fosse para que o país ficasse melhor. Pelo contrário, na forma sibilina como costuma intrigar, serviu-se dos incêndios para criar obstáculos a quem tem arcado com todo o trabalho. Procurando, nas entrelinhas, colar-se-lhe nos méritos.
Só não se pode dizer que dois anos depois há quem esteja farto, porque já o estaria desde o primeiro dia da sua ocupação do Palácio de Belém. Porque ele trazia vasto historial anterior, que justificava a antipatia, que não conseguiu diluir: filho e afilhado de fascistas, ideologicamente direitista, por natureza alcoviteiro, nem a idade vetusta o tem melhorado. É um logro aparentemente bem sucedido, mas há sempre a expetativa de vir a ser desmascarado como tal…
Que não tarde tal dia...

Sempre disponível para um projeto político virado para o futuro

Das muitas campanhas eleitorais em que participei a do professor Sampaio da Nóvoa foi a que mais me entusiasmou. Embora a das primárias, que deram a vitória a António Costa, também me tenha dado a sensação de estar a contribuir para fazer História com H grande, a das presidenciais constituiu a grande oportunidade para perceber quão próximo poderíamos estar de fazer Política com P grande. Porque, ao contrário do demagogo, que nos coube na rifa, o nosso candidato propunha o debate pelas ideias, tornando-as substantivas, não as deixando ficar pela rama, que tanto jeito dão aos populistas. Por isso cada projeto político discutido no tipo de sociedade, que era o subjacente ao seu programa, não revelaria as suas virtualidades apenas no que poderiam favorecer os grupos sociais A ou B, mas o país no seu todo, quer no prazo imediato, quer no mais distante, aquele que mais importa para garantir as mudanças justas mais duradouras.
Foi, por isso mesmo, grato ver de volta o professor com a sua análise da realidade atual, criticando aquele que o venceu (mas não convenceu, pelo menos para os seus milhares de apoiantes!) por tomar o espaço político como seu, fazendo dos outros meros figurantes. Algo que muito prejudica a Democracia, que deve ser o espaço onde todos devem refletir e decidir em vez de se deixarem reduzir ao papel de meros bonecos em que quem tudo faz por ver em si focada a atenção é o que se põe a sorrir no centro das objetivas.
Mas a entrevista ao professor Sampaio da Nóvoa ainda vale pelo alento a quem não desiste de ver concretizada a sociedade avançada, de que ele se fazia proponente: ao não excluir a possibilidade de voltar a terçar argumentos numa nova campanha presidencial ele permite-nos crer que, daqui a três anos - quando. à custa de tanta selfie, de tanto abraço, de tanto afeto, o eleitorado já estiver mais do que farto de Marcelo -, a mesma grata satisfação de colaborar ativamente numa campanha inteligente e carregada de futuro volte a ser possível. Tanto mais que, ao contrário do que sucedeu quando Maria de Belém sabotou miseravelmente a intenção de António Costa ter nele o candidato presidencial a apoiar pelo Partido Socialista, nenhum outro melhor se ajustará ao ciclo que, em 2019, se iniciará com as europeias e as legislativas para culminar depois nas eleições para o mais alto magistrado da Nação na década que se avizinha.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Na semana das comemorações marcelistas e trumpistas

1.Estamos a viver uma semana de efemérides: Marcelo é presidente há dois anos e Donald Trump viu cumprir-se o primeiro aniversário na Casa Branca.  Embora radicalmente diferentes um do outro, ambos me descontentam profundamente.
2. Marcelo continua a olhar para o país pelo filtro do seu olhar direitista. Comparecendo no Congresso de uma coisa menosprezável fundada por Jorge Moreira da Silva para a sua autopromoção,  e pomposamente chamada de Plataforma para o Crescimento Sustentável, carpiu-se sobre a falta de consenso nacional para o que serão os investimentos subsequentes ao Programa 20/20.
Na lógica de Marcelo o consenso só faz sentido se vincular o PS aos partidos das direitas excluindo liminarmente os situados à sua esquerda. Que importa o facto a atual maioria parlamentar já representar, segundo as sondagens, 3/5 do eleitorado? Qual a relevância de tais investimentos poderem vir a beneficiar muito mais os milhões de portugueses, que trabalham e pretendem alcançar um melhor padrão de vida, sendo pois os principais interessados nesse investimento, se Marcelo se preocupa sobretudo com os amigos empresários, gulosamente preocupados em ali encontrarem forma de continuarem a embolsar subsídios e outras prebendas?

O consenso que Marcelo lamenta não existir é eivado desse papel que se autoatribui: o de provedor dos interesses de quem, nas últimas legislativas, ficou sem as marionetas com que se tinha habituado a confiar as suas reservadas aspirações.
3. É a própria direita através de Miguel Relvas, que se preocupa com o estado das nossas relações com Angola, tendo em conta o quanto poderão ficar em causa os negócios de muitos dos seus tradicionais apoiantes. No entanto não deixa de incensar, como se de santa se tratasse a ainda Procuradora Geral da República, que tem dado cobertura ao comportamento antinacional de alguns dos seus subordinados. Por ela, e tais ciosos defensores da lei d’aqui e d’além-mar em Africa, bem poderão vir recambiados milhares de portugueses, que trabalham em Angola e postas em causa as significativas exportações para ali encaminhadas, que tudo justifica a suposta independência do ministério público. Valha-nos o governo e particularmente o seu ministro  dos Negócios Estrangeiros que já se comprometeu a “com paciência, com sentido de Estado, com a responsabilidade de todos”, superar a situação. E, nesse sentido, não faltam provas de como António Costa e a sua equipa têm resolvido a grande maioria dos problemas, que se lhe têm colocado.
4. E terminemos com mais uma prova da atávica estupidez de Donald Trump: tudo aponta para o facto de se ter convencido das vantagens de precipitar o shut down dos serviços federais, porquanto, em 2013, quando os republicanos forçaram tal situação à Administração Obama, viram-se seriamente criticados pela opinião pública. Ora, pensando que conseguiria façanha semelhante se levasse os Democratas a responsabilizarem-se pela rutura negocial, que resultasse no mesmo efeito, twittou de forma a facilitar tal desiderato.
Ora, apesar de desde então culpar incessantemente os Democratas na sua fúria twitteira, o resultado é o inverso - a atribuição de culpas ao seu próprio partido - é algo que escapou aos desígnios do idiota.