domingo, 25 de fevereiro de 2018

Contra os cancros mediáticos, refundar a RTP poderá ser a vacina eficaz


Se o país contasse com um setor da Justiça com alguma decência, o «Correio da Manhã», em vez de servir de cúmplice aos crimes de quem, dentro do Ministério Público, tem violado incessantemente o segredo sobre os processos em fase de investigação, tornar-se-ia no objeto de uma criteriosa observância dos seus métodos e objetivos. Octávio Ribeiro, Eduardo Dâmaso, acompanhados do respetivo patrão que os comanda e define os inimigos de estimação, já estariam pejados de julgamentos e, quiçá, de condenações com direito a prisão maior. Trata-se de um cancro, que importa extirpar, erradicar liminarmente do quotidiano dos portugueses. Para que os ares sejam mais respiráveis, menos infectos pela poluição lodosa causada pelos vómitos dessa coisa imunda, que se diz ser um jornal.
Poluição é também o que o dono do mesmo jornal causa no Tejo através da empresa que todos reconhecem ter sido causadora da descarga pela qual o rio se transformou num cemitério líquido entre Vila Velha do Ródão e Abrantes. A passividade do Ministério Público perante verdadeiros crimes como os de impedir a recolha de análises nos dias subsequentes a esse dolo ambiental e o roubo do computador de um inspetor, que teria as provas indiciadoras da provável condenação da empresa do grupo Cofina, indigna e dá razão a quem considera que a barrela no setor da Justiça tem de começar pela procuradora-geral, que a tudo isto dá cobertura.
A entrevista a Nuno Artur Silva, publicada no caderno de Economia do «Expresso» é, igualmente, elucidativa sobre os danos colaterais de tal cancro. A campanha movida pelo tabloide contra ele, e que encontrou apoio no atual presidente da RTP (não esqueçamos que ativo militante do PSD!) bem como no suposto Conselho Independente, mostra bem que, para Paulo Fernandes, não está apenas fazer o mal pelo mal, qual pérfido vilão de uma série da Marvel. Aquilo que pode ser bem feito, correspondendo a uma estratégia com todo o sentido para desenvolver e divulgar a cultura portuguesa, não só em Portugal, mas por todo o mundo onde emigrantes pretendem manter o vínculo com a terra, de que foram forçados a zarpar, fica em causa pelo terrorismo mediático, que incidiu sobre o seu principal obreiro.
Faz, pois, todo o sentido a proposta de refundar a RTP agora proposta no espaço público e que a pretende tornar num canal caracterizado pela decência e pela preocupação com a qualidade em detrimento das audiências, que só favorecem a mediocridade tonta de quem é burro e quer fazer dos outros burros. As esquerdas, atualmente maioritárias, devem unir-se nesse objetivo por muito que o vómito matinal da Cofina avance com uma campanha histérica sobre a violação da liberdade de imprensa e de informação.
Contra a abjeção a que diariamente somos sujeitos pelos canal de Balsemão e do prometido à Altice, estamos mesmo precisados de uma alternativa, que se revele atrativa pela diferença qualitativa. Por muito que isso signifique varrer também com cabeças de cartaz como o Orelhas dos Santos, que Nuno Artur Silva não aponta, mas deixa implícito poder constituir um dos que muito se oporá a alterar significativamente o atual estado das coisas.

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