quinta-feira, 17 de maio de 2018

Amigos da onça, sabotadores e outros que tais


1. Há coisa de trinta anos, quando ainda era recente a minha militância no Partido Socialista, costumava frequentar a sede do Rato a pretexto das excelentes conferências aí propiciadas no âmbito do Gabinete de Estudos. Numa delas deliciei-me com a aula aprofundada, que João Cravinho ministrou evidenciando notável clareza no que estava a acontecer numa altura em que emergia um novo mais que tudo das direitas, vindo de Boliqueime para, durante duas dúzias de anos (com um breve intervalo de permeio) dar cabo da vida de muitos portugueses das classes mais desfavorecidas.
Na altura ganhei tal admiração por quem fora Ministro da Indústria e Tecnologia num dos governos de Vasco Gonçalves, que o acreditei capaz de grandes feitos pelo país e pelos seus cidadãos. Infelizmente, quando voltou a ocupar cargo ministerial durante o governo de António Guterres não lhe vislumbrei o tal grão-de-asa para que o julgara talhado.
De aí por diante fui-lhe acompanhando os passos sem voltar a encontrar-lhe esses méritos. Mas as suas posições mais recentes, não só dizendo pior de Sócrates, que Maomé do toucinho, e logo pondo em causa os que com ele tinham sido ministros, demonstra o quanto a idade teve nele três efeitos coincidentes: por um lado a falta de gratidão por quem o nomeou para cargo muitíssimo prestigiado, e ainda melhor remunerado no BERD (Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento  ); por outro a manifesta a falta de discernimento de quem deixou de compreender a diferença entre o essencial e o acessório; e, finalmente, o despeito por ninguém mais dele se ter lembrado no Partido onde julgou trilhar carreira, que ambicionaria recompensada com outro tipo de consideração.
A exemplo de outras personalidades políticas, que me chegaram a suscitar justificada admiração numa determinada altura e depois se transformaram em caricaturas ao estilo de Mr. Hyde, João Cravinho faz jus à mesma fórmula com que Donald Tusk mimou o seu homónimo na Casa Branca: com um «amigo» assim o PS dispensa quaisquer outros inimigos...
2. Parece que as direitas não ficaram nada satisfeitas com a nomeação do novo diretor da Polícia Judiciária., oriundo da Unidade Nacional Contra o Terrorismo. Esperemos que ele traga consigo saber e competência bastante para desarmadilhar muitas das minas por elas lançadas quotidianamente através dos pasquins do costume e que visam pôr em causa a honorabilidade dos membros do Governo.
A substituição dos detentores de altos cargos da Administração Pública, que terão sido nomeados ou passado incólumes durante o período do governo de Passos Coelho, poderá facilitar o sucesso de quem, em cada ministério, tem de olhar à volta para adotar as melhores estratégias sem se esquecer das  possíveis sabotagens praticadas na retaguarda.
3. Os acontecimentos criminosos relacionados com o Sporting estão a ocupar tempo demais nas televisões, mas têm sido elas as maiores fomentadoras da ambiência pútrida em que anda mergulhado o mundo do futebol nacional. Se o Fado se reciclou com a inteligência e o talento de muitos dos seus novos intérpretes e se Fátima tende a perder influência à medida, que a razão ditar as cabeças de quem ali busca inexistentes transcendências, o Futebol tornou-se no super F alienador, eficaz na capacidade em estupidificar quem nele investe as emoções, que melhor seriam aplicadas em lutar pela alteração das causas propiciadoras das suas frustrações. O país muito ganharia se as catarses dos seus explorados se virassem contra os que os exploram de forma obscena (vide a comparação das remunerações dos administradores das empresas cotadas com os dos trabalhadores nelas empregados!)
4. As cotações na Bolsa de Xangai estão em alta e prometem assim continuar. Inteligentemente o regime de Pequim vai sorrateiramente ocupando os espaços vazios abandonados por Trump, que prometendo tornar a América grande, lhe vai diminuindo rapidamente a influência. Se a China estava fadada para se tornar na maior das superpotências do século XXI, o pato-bravo da Casa Branca abre-lhe autoestradas para que o acesso a essa liderança mundial se torne mais fácil...
5. Ainda ontem dizia a uns amigos que quem compra artigos no IKEA deveria levar um tiro por ser marca criada por um nunca arrependido nazi. Daí que ninguém me venha alguma vez a encontrar nos seus corredores. E, do mesmo modo, também a Amazon ou a Starbucks podem esperar sentadas se têm alguma expetativa de me fazerem seu cliente. Razão para isso: a odiosa conduta perante a Câmara de Seattle que quis criar uma taxa municipal às empresas mais lucrativas da cidade a fim de coletar verbas para socorrer aos sem-abrigo da cidade. Resultado: comprou uma guerra, que a obrigou a recuar, baixando a taxa de 500 dólares anuais por empregado para uns mais exíguos 275. E, no entanto, quaisquer das empresas abrangidas pela nova legislação apresentou lucros de muitos milhões no ano transato. Boicote ativo contra o seu crapuloso comportamento é o mínimo que elas merecem...

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