quarta-feira, 9 de maio de 2018

E quando a poeira volta a assentar eis que de Belém regressa em força o selfieman


Temendo perder o protagonismo com as mais recentes elucubrações mediáticas em torno de Manuel Pinho ou de José Sócrates, Marcelo lançou um contra-ataque mediático destinado a mantê-lo na primeira fila da atualidade. E o que disse a augusta figura para que televisões e jornais lhe assegurassem a indispensável publicidade? Que demitiria o governo se o Orçamento de Estado não fosse aprovado ou se o país fosse novamente devastado pelos fogos!
Com essas sibilinas ameaças quis passar para a opinião coletiva a ideia de impor a espada de Dâmocles apontada ao Governo, suficientemente fragilizado para dele se secundarizarem os êxitos nas áreas económicas e sociais em proveito de casos de lana caprina, tornados obsessões nos discursos dos líderes das direitas e dos comentadores. Entre os assessores do Palácio de Belém reina a expetativa de se excluir de  vez a possibilidade de uma vitória expressiva nas legislativas do ano que vem. Mas, sobretudo, serviu de convite implícito aos incendiários para voltarem a atacar em força e explorarem as fragilidades da Proteção Civil e dos bombeiros, conjugadas com o progressivo rigor de um clima em mudança.
Falso como Judas, Marcelo tudo fará para conseguir o derrube do governo antes do final da legislatura. Não tem sido esse o seu móbil desde o princípio do mandato, quando escolheu Mário Centeno como inimigo de estimação, potencialmente condenado pela trapalhada com a administração da Caixa Geral dos Depósitos? Acaso tivesse sido bem sucedido, será que sem Centeno a economia nacional teria evoluído como se verificou sob a sua competente condução?
Não é por ter sido Passos Coelho a considera-lo um catavento, que Marcelo desmerece de tão acertado juízo. Sempre norteado pelo preconceito ideológico já esqueceu a promessa de campanha em que lhe bastaria um só mandato. Agora, mandando às malvas o compromisso, ei-lo empenhado em publicitar-se o mais possível para que se torne difícil encontrar quem, da conjugação da maioria parlamentar, cuide de o recambiar para donde nunca deveria ter saído. Mormente dos ambientes seletos como os propiciados por Ricardo Salgado, de quem era tão amigo e visita de casa, por muito que agora quase nos queiram fazer crer que quase nem se conheciam.
Os socialistas que, por estes dias, têm contribuído para fragilizar o Partido e os interesses da maioria da população, efetivamente beneficiada pelas decisões políticas dos mais recentes dois anos e meio, bem deveriam ganhar alguma sensatez, dissociando o essencial do acessório de forma a que se inviabilize por tão longo período quanto possível o regresso das direitas à governação. Se esqueceram tudo quanto se perdeu nos quase cinco anos consulado de Passos, Portas & Cª, e tão custoso foi recuperar, melhor será que reavivem as lições então aprendidas  e culminadas na convergência estratégica das esquerdas. Que, depois de tantos anos de erros crassos, quer das  demais esquerdas europeias, quer das portuguesas em particular, elas deem mostras de inteligência e de sabedoria. E o que quase todos desejamos.
Os outros, os incorrigíveis divisionistas, que se entretenham com um opositor a António Costa no Congresso, que se comporta como personagem ridículo de ópera bufa, ou continuem a carpir esse passado em cuja busca continuarão a porfiar em almoços convertidos em romagens de saudade por um tempo que já não volta para trás.

Sem comentários:

Enviar um comentário