segunda-feira, 21 de maio de 2018

Quem duvidava que o homem das selfies iria mesmo lá?


Há muito que deixei de ligar ao futebol de que, em tempos, fui entusiástico cultor. Ciente da sua utilização como forma de alienar gente de pouco tino - que bem melhor faria se dedicasse as exaltadas emoções a indignar-se com a sua condição de vítima de uma sociedade obscenamente desigual para cuja mudança deveria envidar os melhores esforços -, deixei de acompanhar o que nesse mundo se vai passando. Vou, porém, fazendo aqui e além algumas exceções e uma dessas vezes aconteceu esta tarde, quando liguei a televisão para espreitar os minutos finais da Taça de Portugal. Não tanto para aferir qual das duas equipas em campo ganharia, mas para confirmar o que já adivinhava: depois de alimentar o tabu sobre se estaria ou não presente, lá compareceu Marcelo para entregar o prémio aos vencedores. Ganhava assim a aposta íntima comigo mesmo em como ele nunca prescindiria de mais uma oportuna habilidade para concentrar em si as atenções e prosseguir na longa pré-campanha eleitoral para um segundo mandato, que iniciou logo no primeiro dia em que tomou posse do atual cargo.
E, porque era essa presença ou ausência o motivo da minha curiosidade? Simples! Apenas corroborar que, conhecendo a intenção de António Costa em ali comparecer, Marcelo tudo faria para não lhe dar a oportunidade de ficar com o palanque das personalidades vip só para si. Ele sabe que o seu protagonismo pode vir a ser suplantado pelo do primeiro-ministro conquanto os cidadãos se apercebam que um planeia, executa e consegue resultados, enquanto o outro apenas replica a função de corta-fitas, que já era a do distante antecessor de quem o pai foi obsequioso ministro.
A preocupação em estar sempre no centro do palco é tão notória, que a criação da dúvida sobre se iria ou não ao Jamor só serviria para potenciar as vantagens de ter em si concentrados os focos das objetivas dos fotógrafos ou dos operadores de câmara das várias televisões. Porque estas alimentariam até ao último momento a dúvida sobre a sua opção nunca deixando de o ter como prioridade no alinhamento das suas notícias.
Numa semana em que outro presidente, o do Sporting, deu sobejas provas do seu patético narcisismo, os ainda apreciadores do estilo marcelista andarão porventura distraídos do facto de, não atingindo os patamares agudos do delírio de Bruno de Carvalho, o seu ídolo também não desmerecer de um adequado tratamento psiquiátrico. É que esse afã em concentrar em si as atenções é despudorado o bastante para que não só se lhe vá acentuando a ridícula compostura, como também denunciando frustrações remotas, que um Sigmund Freud decerto não enjeitaria investigar.
A semana iniciar-se-á com a continuação da novela, que tem ocupado os tempos de antenas quase por inteiro. E, apesar do planeta continuar imparável na sua rotação e translação, os jornais e as televisões tudo farão para que cresçam as tiragens e as audiências à conta de um momento, que quererão congelar no seu estado presente enquanto for possível. Quanto mais não seja para manterem a poeira densa capaz de impedir os explorados de consciencializarem o esbulho das mais-valias criadas com o seu duro labor.

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