quarta-feira, 9 de maio de 2018

RECORDAR MAIO 68 (8): A herança hippie como influência ideológica do Maio 68


Em 1967 vivia-se o momento áureo da cultura hippie, com os cabelos compridos e as roupas a condizer, que apostavam na afirmação de uma outra forma de olhar o mundo, a contracultura. O rock conhecia, por essa altura, uma viragem significativa com Jimi Hendrix, os Doors ou os Pink Floyd. De São Francisco emergia o acid rock em rutura com a folk, que se ouvia no resto do país. Misturava-se o blues com a música eletrónica num estilo totalmente diferente com vozes a gritarem e guitarras a gemerem. E nas ruas eram contínuas as performances de quem decidia transformá-las em palco de espetáculos ininterruptos, capazes de exasperarem os polícias, manifestamente impreparados para lidarem com o fenómeno. Cada carga policial acabava por comprovar a incompatibilidade entre dois mundos cada vez mais separados entre si: o da velha ordem posta em causa e a que pretendia suplanta-la. O objetivo era demonstrar a capacidade e a necessidade de mudar a sociedade. Propunha-se a vida partilhada em comunidade com novas formas de explorar os recursos agrícolas e outros que fossem necessários para assegurar a subsistência.
Fascinados pelas notícias oriundas desse movimento, multidões de jovens percorrem os Estados Unidos para ali afluírem. Tanto bastou para que os diggers, que tinham estado na sua origem, ficassem fartos dessas turbas com as quais explodira o consumo de droga e aumentara exponencialmente a violência policial. Por isso mesmo, a 6 de outubro de 1967, decretaram a morte do movimento, organizando-lhe um definitivo funeral.
Publicitado pelos grandes media, o acontecimento deixava em aberto, porém, uma questão: que homem novo surgiria de toda aquela ebulição? E, de facto, a contracultura saiu da restrita área de São Francisco para se expandir a nível nacional com milhentos seguidores a ansiarem por lhe dar continuidade nas regiões onde viviam. A Universidade de Berkeley torna-se na sua capital, mas o fenómeno caminha para o seu fim: o festival de Woodstock, em 1969, ainda reacende a centelha a alguns, mas no final do ano, o de Altamont é um desastre total, com um espetador apunhalado nas barbas de Mick Jagger, então a atuar. A miragem hippie tornava-se então num pesadelo para satisfação dos conservadores, que ansiavam por ver extinto o movimento, sem compreenderem o quanto ele estava, efetivamente, a mudar a sociedade em que viviam. Conceitos hoje tacitamente aceites pela maioria dos europeus e dos norte-americanos, como o crescimento sustentado ou a resiliência , provêm dessa época.

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